Chris Herlinger – 11 Março 2021.
Foto: Irmã Alícia Vacas Moro / Arquivo Pessoal
A reportagem é de Chris Herlinger, publicada por Global Sisters Report, 08-03-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A irmã comboniana Alícia Vacas Moro, uma missionária espanhola cujo ministério tem focado sobre as necessidades humanas no Oriente Médio, é uma das 14 mulheres que receberão o prêmio internacional “Mulher de Coragem”, uma distinção anual dada pelo Departamento de Estado dos EUA.
- Vacas, 49 anos, é enfermeira e coordenadora regional das Irmãs Combonianas no Oriente Médio.
- Foi premiada pelo trabalho que incluiu estabelecer uma clínica médica no Egito para pacientes de baixa renda
- e trabalhar com os pobres da comunidade beduína na ocupação israelense da Cisjordânia.
Ela e outras premiadas foram reconhecidas no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, em uma cerimônia virtual do Departamento de Estado, coordenada pela primeira-dama Jill Biden, por Antony Blinken, secretário de Estado, e Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA para as Nações Unidas.
A nomeação de Vacas afirmava
- que ela estabeleceu um programa de treinamento para mulheres beduínas
- que abriu novas oportunidades econômicas para elas
- e também estabeleceu programas de educação infantil em campos de beduínos que forneciam “uma base educacional para crianças”.
“Em um ambiente moldado pelo conflito israelense-palestino, a irmã Alicia também ajudou refugiados traumatizados e requerentes de asilo, um trabalho que ela continua a desempenhar em maior escala em seu papel atual como coordenadora regional das Irmãs Combonianas no Oriente Médio”.
A citação também observou que
- quando a pandemia de coronavírus atingiu o norte da Itália no início de 2020,
- Vacas “voou para a Itália para ajudar e tratar outras irmãs,
- sem se deixar abater pelo extremo perigo para si mesma”.
Em uma entrevista ao Global Sisters Report, antes da cerimônia de premiação, Vacas disse que o prêmio
“é uma surpresa porque há tantas mulheres por aí fazendo coisas maravilhosas”.
Ela disse, por exemplo, que
- as irmãs combonianas no Sudão do Sul poderiam merecer mais a homenagem
- pelo trabalho desafiador na assistência a pessoas deslocadas na guerra civil em curso naquele país.
Vacas vê o prêmio como uma homenagem coletiva para ela e as outras cinco irmãs combonianas que trabalham na Cisjordânia, enquanto tentam honrar os valores do Evangelho em um ambiente que ela descreveu como muito difícil.
“Às vezes, um prêmio é realmente sobre uma comunidade maior, então eu compartilho isso com outras pessoas”, disse ela.
Vacas
- trabalhou no Egito entre 1999 e 2007, e trabalha em Israel/Palestina desde 2008,
- exceto por um período de dois anos, de 2015 a 2017, em Verona, Itália,
- quando coordenou uma enfermaria para irmãs mais velhas.
Vacas foi eleita coordenadora regional do Oriente Médio em 2017.
- A comunidade comboniana está sediada num convento na comunidade de Betânia, na Cisjordânia, nos arredores de Jerusalém,
- mas está rodeada em três lados por um muro de separação construído por Israel,
- uma barreira construída em 2004 na sequência das revoltas palestinas.
“É um lugar desconfortável para se estar, mas é um lugar onde acreditamos que precisamos estar”, disse Vacas.
Trabalhando com pessoas “de ambos os lados do muro” – desde palestinianos a rabinos empenhados na paz e no diálogo –, a comunidade comboniana procura construir pontes e encontrar “que façam a diferença”.
“Este é o nosso lugar, na fronteira”, disse ela.
Questionada se achava que um dia a barreira desapareceria, Vacas disse,
“na história, existiram tantos muros, e mais cedo ou mais tarde eles caem”. “A história é mais sábia do que nós. A história tem paciência”, disse ela.
Refletindo sobre seu ministério voluntário de três meses em Bergamo, Itália – local do convento da congregação e lar de muitas irmãs idosas – Vacas disse que
- sentiu que não tinha outra escolha a não ser ajudar a cuidar das irmãs enfermas.
- Doze irmãs morreram devido à covid-19 nos primeiros meses da pandemia.
- Vacas chegou em 16 de março e deixou a Itália três meses depois.
“Sou enfermeira, por isso me ofereci. Perguntei: ‘O que posso fazer?’”,
contou Vacas, lembrando que a situação era muito confusa dado o pouco que se sabia sobre o vírus e como tratá-lo.
Vacas disse que
- a pandemia agora é uma preocupação constante na Cisjordânia,
- embora Israel seja creditado por controlar a pandemia dentro de suas fronteiras e tenha vacinado cerca de 40% de sua população.
“A pandemia está sob controle em Israel, mas está fora de controle na Cisjordânia”,
disse ela, parte de um panorama mais amplo no qual os palestinos lutaram durante a pandemia.
“As pessoas estão lutando pela sobrevivência”,
disse ela, observando o acesso irregular à saúde nos territórios palestinos.
“As famílias palestinas simplesmente não têm nenhum tipo de apoio social no momento”,
disse Vacas, embora seja encorajada por algum movimento sobre a vacinação de palestinos.
Organizações internacionais e israelenses de direitos humanos pediram vacinas para todos nas áreas palestinas controladas por Israel, e no mês passado Israel concordou em vacinar palestinos que precisam cruzar a fronteira com Israel para trabalhar.
Vacas disse que ela e sua comunidade continuarão o trabalho mesmo em circunstâncias difíceis, embora não esperem que a paz entre palestinos e israelenses venha tão cedo.
Ela olha a longo prazo, dizendo que é melhor ter esperança que ser otimista.
“Seria insuportável se eu não tivesse esperança”,
afirmou Vacas, acrescentando,
“esperança significa que a vida é mais forte que a morte, e nós estamos convencidos disso”.
Na cerimônia, Biden, Blinken e Thomas-Greenfield, todos falaram da necessidade de uma política externa afirmativa para as mulheres.
“Elas merecem nosso apoio e reconhecimento”, disse Blinken. “Os Estados Unidos estão ao seu lado”. A primeira-dama acrescentou: “Sua luta é a nossa luta”.
- Muitas das 14 mulheres homenageadas são ativistas de direitos humanos,
- e aquelas que representam a África, Ásia, Europa e América Latina foram nomeadas Mulheres de Coragem.
- Além disso, sete mulheres afegãs assassinadas em 2020 por seu ativismo de direitos humanos também foram homenageadas.
Este foi o 15º ano do prêmio, em que o Departamento de Estado disse
“reconhecer mulheres de todo o mundo que demonstraram coragem e liderança excepcionais na defesa da paz, justiça, direitos humanos, igualdade de gênero e empoderamento das mulheres – muitas vezes com grande risco pessoal e sacrifício”.
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Chris Herlinger
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