“OXIGÉÉÉÉÉNIOOOOO” . “TOMEM CLOROQUINA” – Imagem: Brasil247.com
Gilvander Moreira– 03 Fevereiro 2021 –
Gilvander Moreira é frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; agente da CPT, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH e de Teologia bíblica no SAB (Serviço de Animação Bíblica), em Belo Horizonte, MG.
Eis o artigo.
No Brasil, estamos imersos em uma gravíssima crise que afeta de diferentes formas as áreas política, econômica, social, ambiental, religiosa, agrária e urbana, entre outras.
Estamos sob o sistema capitalista, máquina de moer vidas,
- que fomenta de muitas formas o egoísmo, a ganância, a usura, a competição, a concorrência, o egocentrismo, o individualismo e o consumismo,
- que desumaniza muitas pessoas e as reduz a escravos que consentem e assimilam os processos de opressão como se fossem algo natural e inexorável.
Fomentadas pela devastação ambiental, as condições objetivas de vida estão entrando em colapso.
A mãe Terra também está sendo agredida de diferentes formas:
- impedida de respirar por queimadas dos biomas,
- detonada em suas entranhas para a retirada de minério
- e destruída por monoculturas que não produzem alimentos, mas commodities para a acumulação de capital
- e resultam em desertificação gradativa de muitos territórios.
Eis o ambiente propício para aparição de diferentes formas de vida, entre as quais se destacam os vírus capazes de gerar pandemias cada vez mais letais.
Os demônios descem do norte. / Estante Virtual
Estamos no “fundo do poço” que pode ainda se afundar muito mais. É imprescindível não perdermos de vista o raio de luz que tal como a “estrela de Belém” (Cf. Evangelho de Mateus 2,1-12) deve nos orientar.
Evito usar a palavra ‘nortear’, pois segundo Délcio Monteiro de Lima, em livro de leitura imprescindível Os demônios descem do norte.
Do oriente “nasce” o sol irradiando luz e calor necessários para garantir a vida.
A UTOPIA é o que pode nos apontar o rumo a ser trilhado e nos animar na caminhada/luta para conseguirmos superar o atoleiro no qual o povo brasileiro entrou.
* Bússola que nos guia, essa utopia tem vários nomes: nossos parentes indígenas do Altiplano Andino a chamam de Sociedade do Bem Viver e Conviver.
* Outros, inspirando-se no que há de mais contundente na crítica ao capitalismo, a chamam de Socialismo,
- uma sociedade sem classes antagônicas,
- com os bens comuns de fato compartilhados,
- em que haja gestão política que atenda ao bem comum
- e não à idolatria do mercado que impõe cruel desigualdade social.
* Os/as cristãos/ãs acreditam que nossa utopia é o Reino de Deus que precisa ser construído a partir do aqui e do agora,
- cultivando Terra Sem Males,
- com relações sociais que tenham superado a exploração que a classe dominante perpetra contra as classes trabalhadora e camponesa
- para construirmos uma sociedade onde os/as trabalhadores/as
“construirão casas e nelas habitarão, plantarão vinhas e comerão seus frutos. Ninguém construirá para outro morar, ninguém plantará para outro comer. [….] Ninguém gerará filhos para morrerem antes do tempo” (Cf. Isaías 65,17-25).
Assim como “errar é humano, mas permanecer no erro é burrice”, o povo brasileiro tem agora uma missão que não dá mais para adiar.
O presidente não apenas está sendo incompetente na gestão, mas se tornou um agente dinamizador da pandemia do novo coronavírus. – Imagem: Brasil247.com
Tornou-se intolerável esperar as eleições de 2022 para retirar do poder o atual presidente do Brasil, por vários motivos, entre os quais dois se destacam:
1) Ele já cometeu vários crimes e precisa ser julgado;
2) Tolerá-lo no poder significa continuar sendo cúmplice da morte de milhares de pessoas, irmãos e irmãs nossas devido à política de disseminação do coronavírus executada por Jair Bolsonaro e seus ministros de governo.
Só o povo brasileiro, com organização e assumindo diferentes formas de lutas massivas, pode barrar o genocídio que está em curso. O Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e a elite brasileira, uma das mais opressoras do mundo, só agirão sob fortíssima pressão popular. A história nos mostra isso.
Os ex-subprocuradores-gerais da República Deborah Duprat, Álvaro Augusto Ribeiro Costa, Cláudio Lemos Fonteles, Manoel Lauro Volkmer de Castilho, Paulo de Tarso Braz Lucas e Wagner Gonçalves protocolaram uma Representação junto à Procuradoria Geral da República (PGR), na qual acusam o presidente Jair Bolsonaro de ter incorrido no Artigo 267 do Código Penal, que diz:
“Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos: Pena – reclusão de dez a quinze anos. § 1º – Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro. […]”.
Outra Representação protocolada na PGR, assinada por 354 pessoas – e com milhares de adesões virtuais -, demonstra que Bolsonaro, com a sua conduta, já cometeu os seguintes crimes tipificados no Código Penal:
- – Artigo 132: perigo para a vida ou saúde de outrem;
- – Artigo 257: subtração, ocultação ou inutilização de material de salvamento;
- – Artigo 268: infração de medida sanitária preventiva;
- – Artigo 315: emprego irregular de verbas ou rendas públicas;
- – Artigo 319: prevaricação.
Segundo essa representação, o presidente incorreu nesses crimes ao adotar as seguintes condutas, muitas delas de forma reincidente:
1) reiterados discursos contra a obrigatoriedade da vacinação e lançamento de dúvidas sobre a sua eficácia e efeitos;
2) ausência de adoção das providências necessárias para a adequada conformação logística da distribuição de imunizantes pelo país;
3) imposição de obstáculos à produção e aquisição de insumos, como ocorreu no caso de agulhas e seringas necessárias para vacinar o povo;
4) ausência de resposta do governo brasileiro à oferta da empresa Pfizer, em agosto de 2020, de aquisição de 70 milhões de doses de seu imunizante;
5) declarações públicas diversas, inclusive por meio de suas redes sociais, de que não adquiriria a vacina fabricada pelo Instituto Butantan (CoronaVac), do Estado de São Paulo;
6) desrespeito à recomendação da Organização Mundial da Saúde, sobre necessidade de campanhas eficientes de esclarecimento da população a respeito da imperatividade da máxima cobertura vacinal para eficiência do controle da doença COVID-19; 7) apologia do uso de medicamentos comprovadamente ineficazes e/ou prejudiciais aos pacientes portadores de COVID-19;
8) má utilização de recursos públicos na produção em larga escala, pelo Exército brasileiro, de cloroquina e hidroxicloroquina, contraindicados em muitos casos clínicos por chances de complicações cardiovasculares, e aquisição de insumos com preços até três vezes superiores ao habitual;
9) veto a trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2021, que impedia o contingenciamento de despesas relacionadas
“com ações vinculadas à produção e disponibilização de vacinas contra o coronavírus (Covid-19) e a imunização da população brasileira”;
10) prescrição, pelo governo brasileiro, do chamado “tratamento precoce” diante do alerta da escassez de oxigênio hospitalar na cidade de Manaus, cumulada com o aumento do imposto sobre importação de cilindros dias antes do colapso no estado do Amazonas. Após repercussão negativa, este imposto foi zerado.
Os subprocuradores, na representação, demonstram que
- o presidente não apenas está sendo incompetente na gestão,
- mas se tornou um agente dinamizador da pandemia do novo coronavírus.
Os subprocuradores afirmam:
“Posteriormente a essa bem fundamentada representação, veio a público pesquisa promovida pelo CEPEDISA/FSP/USP e Conectas Direitos Humanos, que, analisando 3.049 normas relativas à Covid-19 no âmbito da Governo Federal, estabelece uma linha do tempo que
“demonstra a relação direta entre esses atos normativos, a obstrução constante às respostas locais e a propaganda contra a saúde pública promovida pelo governo federal”.
Segundo a pesquisa,
- “Os resultados afastam a persistente interpretação de que haveria incompetência e negligência por parte do governo federal na gestão da pandemia.
- Bem ao contrário, a sistematização de dados, ainda que incompletos em razão da falta de espaço para tantos eventos,
- revela o empenho e a eficiência da atuação da União em prol de ampla disseminação do vírus no território nacional, declaradamente com o objetivo de retomar a atividade econômica o mais rápido possível e a qualquer custo”.
Também ali se conclui que
- a ultrapassagem da cifra de 200 mil óbitos no país, em janeiro de 2021,
- é, em parte, resultado dessa opção,
- já que, em sua maioria, mortes seriam evitáveis se houvesse alguma estratégia de contenção da doença.
Pelos discursos, decisões e medidas implementadas o presidente do Brasil assumiu o risco de ampliar em muito o número de mortos pela pandemia.
Juridicamente, isso é dolo: praticar crime de forma intencional, sabendo do dano lesivo irreparável que causará.
Neste contexto, tornou-se necessária a luta pelo impeachment (impedimento) do presidente como caminho necessário para salvar vidas.
O quarto Evangelho da Bíblia diz que Jesus Cristo
“veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (João 10,10).
- Quem continua apoiando o atual presidente está cometendo um pecado grave, pois está sendo cúmplice da morte de milhares de pessoas.
Se formos contabilizar o número de mortos em todas as outras áreas desastradamente desgovernadas, a mortandade é imensa:
- Amazônia sendo devastada,
- epidemia de câncer com 250 mil mortos por ano, cuja causa principal está no uso de cerca de 500 tipos de agrotóxicos liberados,
- incentivo à polícia para matar por “exclusão de ilicitude”,
- desmantelamento das áreas de saúde e educação públicas (Emenda 95: congelamento dos investimentos em saúde e educação por 20 anos),
- política econômica que empanturra os banqueiros com lucros abusivos e usurários, e condena à humilhação do desemprego grande parte da classe trabalhadora.
Montesquieu dizia:
“A pior tirania é a exercida à sombra da lei e com aparência de justiça.”
Mahatma Gandhi afirmava:
“Quando me desespero […] lembro-me de que […] em toda a história […] a verdade e o amor sempre venceram. Houve tiranos e assassinos […] e, por um tempo, eles pareciam invencíveis […] mas, no final, sempre caíam. Pense nisto. Sempre.”
Nem omissos e nem cúmplices, sejamos aguerridos nas lutas adotando mil formas para destruirmos o poder de quem está tiranizando o povo, os biomas e as próximas gerações.
Que Maria, a mãe de Jesus e nossa mãe, nos encoraje a “derrubar do trono os poderosos e a elevar os humildes”(Evangelho de Lucas 1,52).
Isto é o que Deus, mistério de infinito amor, e Jesus Cristo revolucionário pedem e esperam de nós.
Frei Gilvander
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/606528-nao-da-para-esperar-as-eleicoes-de-2022
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