OPINIÃO
Rodion Ebbighausen, 20/01/2021
Aclamação maldosa em Pequim e outros Estados autoritários pela suposta censura ao ainda presidente dos EUA ignora uma diferença importante ao tratamento dado a dissidentes, opina Rodion Ebbighausen.
O bloqueio da conta de Donald Trump no Twitter confirmou na China e outros Estados autoritários uma convicção longamente acalentada: liberdade de opinião demais leva ao caos.
Só que não é tão simples assim.
- Todos sabemos que liberdade também implica limites, e isso vale também para a de expressão.
- A questão decisiva é onde e como uma sociedade traça esse limite.
Na China, em princípio
- tudo está sob proibição preventiva, tudo que o Partido Comunista não permita é problemático.
- Quem manifesta sua opinião com a consciência de estar com um pé no cárcere,
- se expressa simplesmente de forma diferente – como pode confirmar qualquer jornalista que deva trabalhar num contexto autoritário.
O Partido é a instância de decisão última e única, ele determina o limite e, ao fazê-lo, não deve contas a ninguém.
O cidadão é tratado como uma criança não responsável, que cabe ao Partido proteger de si mesma.
Numa democracia liberal,
- em princípio tudo é permitido, cada proibição precisa ser justificada.
- As proibições e suas justificativas são negociadas num processo social de que participam tanto os cidadãos quanto políticos, empresas, sindicatos e Igrejas – sem precisar temer repressões.
Assim se cria um consenso, em permanente mutação, do que se encaixa na liberdade de opinião ou não.
O caso Trump
Agora, nos Estados Unidos dois protagonistas admitidamente muito influentes – Twitter e Facebook – resolveram não tolerar as expressões de opinião de Trump.
Em primeiro lugar,
- é preciso dizer que se trata de empresas, não de organizações de direitos humanos,
- mesmo que façam tanto questão de ostentar seu comprometimento com a liberdade de opinião e similares.
- No entanto são empresas, que, no caso do Twitter, transformam 140 caracteres em dinheiro, com publicidade e big data.
Em segundo lugar,
- essas empresas têm pleno direito de impor uma proibição de acesso.
- Assim como ninguém pode exigir ser publicado no New York Times ou no Washington Post,
- ninguém pode insistir em aparecer nas mídias sociais.
O bloqueio de Trump é uma contribuição legítima ao debate sobre o que pode ser dito ou não.
- Além disso, Trump não foi silenciado.
- Desde a expulsão do Twitter, sua visão das coisas continua sendo divulgada em portais e agências de notícias.
Dissidentes chineses não têm essa possibilidade. Esse fato marca a grande diferença entre a China e os EUA.
- Na China só existe uma opinião e uma visão das coisas: a do Partido Comunista.
- Nos EUA não há conformidade forçada, mas sim pluralismo de opiniões.
O qual às vezes provoca caos; mas não há alternativa, quando os cidadãos e sua liberdade são levados a sério.
Rodion Ebbighausen
é jornalista da DW. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.
LEIA MAIS:
- Twitter está mais ‘honesto’ após banimento de Trump, diz estudo
- Para especialistas, banir Trump cria precedentes sobre … – Uol
- Ter Trump banido das redes é uma má notícia para todos, diz …
- Banimento de Trump de redes sociais não é censura – 19/01 …
- Por que fundador do Twitter diz que banimento de Trump foi …
- Artigo | O perigo por trás do banimento de Donald Trump das …
- 12 redes sociais fizeram restrições a Trump; veja quais …
- O Assunto #366: Trump banido das redes | O Assunto | G1
- Bate-Papo na Web – Banimento de Trump das redes sociais …
- Admirável 2020 Novo: banimento de Trump de redes sociais …
- CEO do Twitter defende banimento de Trump da rede social
Jack Dorsey diz que medida resulta do “fracasso” da plataforma em mediar diálogo saudável e admite que pode abrir “precedente perigoso”. Proibição veio após presidente dos EUA insuflar apoiadores que invadiram Capitólio.
Bloqueio de usuários de redes sociais pode diminuir extremismo?
Banimento de Trump do Twitter causou controvérsias. Para especialistas, exclusão pode ajudar a reduzir propagação de discurso de ódio e não necessariamente reforçar a polarização.
Mundo dos negócios começa a romper com Trump
Lista de empresas que se distanciaram do presidente americano após ataque ao Capitólio cresce a cada dia. A última foi o Deutsche Bank. Um desembarque repentino que expõe o papel corporativo na máquina política dos EUA.
Youtube suspende conta de Trump
Plataforma acompanha decisões de gigantes das mídias sociais e também remove conta do presidente americano. Motivo é o risco de novos episódios de violência nos EUA.
- Data 15.01.2021
- Autoria Rodion Ebbighausen
- Assuntos relacionados Estados Unidos, Anistia Internacional, Donald Trump, China, Declaração Universal dos Direitos Humanos, Twitter
- Palavras-chave Twitter, redes sociais, China, Estados Unidos, censura, liberdade de opinião, direitos humanos, Donald Trump
- Feedback : Envie seu comentário!
- Imprimir Imprimir a página
- Link permanente https://p.dw.com/p/3nxlG
Leave a Reply