Num dia como hoje (18/09/78) morreu aos 45 anos de idade o médico Frei Lucas Tupper. Após sete anos de intensas atividades em Santarém, onde criou a “Clínica dos pobres”. E se encontrava nos Estados Unidos se especializando em oftalmologia.
“Sua história é muito interessante, e não pode ficar esquecida”,
escreveu no twitter o antropólogo e frade franciscano Florêncio de Almeida Vaz.
- “Esta história ainda precisa ser mais pesquisada.
- Certo é q havia um clima ruim contra o Frei Lucas e sua clínica e navio a serviço da saúde dos “pobres”.
- Era a Ditadura, lembrem. Em 76, ele volta pros EUA. Em 77, foi criada a Fundação Esperança (FE), entidade privada e brasileira.”, comenta Florêncio.
Como jovem militar, James (seu nome de batismo)
- conheceu a pobreza em outros países,
- e resolveu ser médico missionário.
Em 1963 entrou pra Ordem dos Frades Menores (OFM), os Franciscanos. Chegou ao Brasil em 68, e foi estudar teologia em Salvador (BA).
- James visitou Santarém e Monte Alegre (PA) pela primeira vez em 1969,
- e se admirou com a realidade de doenças já erradicadas nos EUA. Isso o marcou muito.
Foi ordenado padre e mudou seu nome pra Lucas, o evangelista que era médico. E começou em Santarém uma ousada campanha de vacinação.
- “O alvo eram doenças como coqueluche, tuberculose, sarampo, tétano etc.
- Em dois anos, 71 mil pessoas foram imunizadas nas comunidades e municípios da região.
- Em 73, a sua “Clínica dos pobres” começou a funcionar. Ali por trás da Igreja de São Francisco, no Caranazal”,
relembra Florêncio.
O Barco-Hospital ESPERANÇA. Foto: Daqui
Por iniciativa de Frei Lucas,
- em 1974 chega dos EUA o barco-hospital Esperança, com 20 metros de comprimento,
- equipado com laboratório, enfermaria, raio-x, centro cirúrgico.
- Uma revolução na saúde na região!
O Esperança visitou muitas comunidades/municípios, e fez 132 cirurgias naquele ano.
Em 1976, o Projeto Esperança
- havia reduzido em quase 50% a taxa de mortalidade de doenças até então endêmicas.
- 150 mil pessoas imunizadas.
- Muito foi feito em saúde preventiva.
E isso incomodou alguns médicos e autoridades. Houve abaixo-assinado porque um estrangeiro comandava o Projeto.
De acordo com Florêncio,
- “o incômodo do grupo de médicos e autoridades provavelmente não era tanto por Frei Lucas ser estrangeiro.
- O problema é que ele praticava uma medicina preventiva e gratuita (distribuindo inclusive medicamentos),
- retirando os lucros de quem ganhava com as doenças dos “pobres”.”
Em 1979 houve a última viagem do hospital fluvial Esperança, pelas comunidades ribeirinhas.
Em 1984
- a Fundação Esperança começou a formar Auxiliar de Enfermagem,
- e depois virou o Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES).
“Mais tarde veio o barco “Abaré”, e agora a “Papa Francisco”… Mas seria bom lembrar que antes houve o sonho real de Frei Lucas, o médico dos pobres e dos ribeirinhos”,
observa o antropólogo. Frei Lucas foi enterrado em Chicago.

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Florêncio Vaz
Florêncio Vaz é frade franciscano e antropólogo e ativista indígena, professor na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém, pesquisador sobre a história e a cultura da região do baixo rio Tapajós.
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