
Almir Simões – 27 de agosto 20 – Imagem: DAQUI
2 – O papa Paulo VI interpretou este «sinal dos tempos»,
- conferindo o título de Doutora da Igreja à Santa Teresa de Jesus e à Santa Catarina de Sena
- e instituiu, além disso, a pedido da Assembléia do Sínodo dos Bispos em 1971, uma Comissão especial cuja finalidade era estudar os problemas contemporâneos concernentes à «promoção efetiva da dignidade e da responsabilidade das mulheres».
Num de seus discursos, declarou, entre outras coisas
- «No cristianismo, de fato, mais que em qualquer outra religião, a mulher tem, desde as origens, um estatuto especial de dignidade, do qual o Novo Testamento nos atesta não poucos e não pequenos aspectos …
- aparece com evidência que a mulher é destinada a fazer parte da estrutura viva e operante do cristianismo de modo tão relevante, que talvez ainda não tenham sido enucleadas todas as suas virtualidades» .
3 – O santo padre João Paulo II escreveu uma brilhante Encíclica sobre a Dignidade das Mulheres (Mulieris Dignitatem). Ele afirma que
“o fato de ser homem ou mulher não existe diferença essencial e não comporta nenhuma limitação”...
Mas o seu pontificado na prática foi um verdadeiro paradoxo ! O missionário itinerante que encantava multidões governou a igreja com mãos de ferro.
- Ele não realizou internamente as mudanças pastorais ,
- exigências do mundo moderno e da missionaridade que tão bem escreveu na sua carta.
Ao contrário , com ele e o papa Bento XVI ,
- houve um aumento de bispos conservadores ,
- retrocesso na formação dos clérigos sem a devida importância aos Documentos do Vat II
- e um acerbamento da autocracia e da disciplina eclesiástica.
Seus pontificados foram marcados pela chamada “grande disciplina” na expressão do teólogo brasileiro João Batista Libânio.
A igreja , ao invés de aculturar-se , modificar pastoralmente o seu “jeito de ser” , conforme D. Pedro Casaldáliga , adaptando-se às diversas realidades , ficou mais e mais verticalizada. O teólogo José Comblin qualificou o período destes pontificados de “noite escura”e Karl Rahner de “igreja invernal”– um longo e frio inverno… e ao nosso Leonardo Boff foi solicitado silêncio obsequioso. (1)
4 – Os Anglicanos avançaram e venceram barreiras.
Nesta foto vemos a freira, Irmã Diana (The Episcopal Church – Igreja Anglicana dos EUA) presidindo a Santa Eucaristia (Foto: Daqui) . Que as relações ecumênicas dos católicos com os anglicanos abram novos caminhos …
5 – O papa Francisco
- tem dado sinais de compreensão dos problemas existenciais ,
- dos desafios pastorais e eclesiásticos que afligem a humanidade e a igreja ,
- e mantem uma postura anti-discriminatória e aberta ao diálogo.
Em meio às muitas resistências que sofre , continua rompendo algumas tradições. Na Amoris Laetitia (n.0 204)
- afirma que “a paróquia é a família das famílias”,
- ressalta que “os ministros ordenados carecem de formação adequada para tratar dos complexos problemas atuais das famílias”.
Evidente que não dá para entender família sem a presença da mulher. E o papa vai além :
- admite até esta presença da mulher na vida do padre quando afirma :
- “ pode ser útil também a experiência da longa tradição oriental dos padres casados ”.
Convém salientar que o nosso querido papa Francisco
- tem sobre seus ombros uma estrutura enorme e pesada de mais de 16 séculos
- e ainda um colégio cardinalício em sua maioria conservador.
Muito bem disse Frei Beto :
“ Ele é uma cabeça aberta num corpo fechado”.
A igreja- instituição precisa se reinventar e ele, com palavras e gestos , representa a esperança de uma nova era.
6 – A mulher não é uma pessoa de segunda classe como pensaram alguns filósofos. Tem direitos e deveres iguais. As diferenças de gênero , físicas e psíquicas , existem para que haja complementariedade e não exclusão. Jesus enfrentou fariseus e doutores da Lei por ser contra todo tipo de discriminação, marginalização e preconceito.
- Foi odiado por ter perdoado a mulher adúltera que eles queriam matar à pedradas…
- Até os discípulos ficaram admirados ou melhor escandalizados quando o viram conversando com uma mulher samaritana.
Por acaso
- não foi exatamente a samaritana quem primeiro revelou ao mundo a presença do Messias
- e Maria Madalena o Cristo Ressuscitado?
- E Maria , a jovem de Nazaré que durante nove meses foi sacrário vivo do Verbo Encarnado , não poderia ser considerada teologicamente a primeira sacerdotisa?
- Ela representa a extraordinária dignidade da mulher que se insere na historia da salvação.
7 – As mulheres sempre estiveram juntas com Jesus. Eram elas que lá aos pés da cruz estavam presentes … Segundo alguns historiadores e exegetas é possível que também na 5ª. feira santa existisse a presença de mulheres na fração do pão , mas por conta do “Fazei Isto em Memória de Mim” e por uma questão machista influencia do judaísmo , fora omitido pelos escritores sagrados e teve repercussão nos artistas plásticos que reproduziram o cenário da Última Ceia.
Para a igreja católica institucional continua em aberto duas agendas : O celibato opcional para os sacerdotes e a ordenação sacerdotal de mulheres , solteiras , casadas ou viúvas. Que o Espirito Santo ilumine.
Leituras sugeridas:
- Enciclica Mulieris Dignitatem – João Paulo II – 1988
- A grande disciplina, João Batista Libânio. São Paulo: Loyola, 1983
- A Igreja do Brasil – de João XXII a João Paulo II, de Medellín a Santo Domingo – José Oscar Beozzo. Petrópolis: Editora Vozes, 1994
- O povo de Deus , José Comblin – Paulus Editora, 2000
- Enciclica Amoris Laetitia – Papa Francisco, 2016
Almir Simões
Padre, casado Italva, professor, mora em Salvador.
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