O aumento mundial de casos está a dever-se a poucos países, diz a OMS sem os nomear.
EUA, Brasil e Índia têm tido grande crescimento na transmissão.
- “Deixem-me ser directo: há demasiados países a ir na direcção errada”, declarou.
- “O vírus continua a ser o inimigo público número um, mas as acções de muitos governos e pessoas não reflectem isso”,
disse ainda o responsável, acrescentando que“se não forem seguidas as medidas básicas, o que vai acontecer a esta pandemia é ficar muito, muito, muito pior”. No entanto, sublinhou, “não tem de ser assim.”
Tedros Adhanom Ghebreyesus falava depois de na véspera a OMS ter confirmar um recorde no aumento diário do número de casos de infecção — mais 230.370 em 24 horas.
O director-geral da OMS teve ainda algumas palavras para os confinamentos que vão sendo reintroduzidos.
- “Temos de chegar a uma situação sustentável em que temos controlo adequado do vírus sem ter de parar totalmente as nossas vidas”, disse.
- Andar “de confinamento em confinamento tem um impacto extremamente negativo nas sociedades”, opinou.
O responsável notou ai que há países que estão a contribuir de modo muito claro para o aumento:
“Ontem [domingo], foram reportados à OMS 230 mil casos de covid-19. Quase 80% destes casos vieram de apenas dez países, e 50% de apenas dois”,
notou, não dizendo que dois países eram esses.
Segundo os dados da Universidade John Hopkins, os EUA, a Índia e o Brasil tiveram juntos mais de 112 mil novos casos no domingo.
A Índia está a surgir como um caso especialmente preocupante, com aumentos muito rápidos em algumas zonas a par de uma grande desconfiança nos números já que não há uma autoridade de Saúde central nem registos de óbitos.
Segundo a emissora Al-Jazeera (com sede no Qatar), os dados oficiais mostram que 43% por mortos tinham entre 30 e 60 anos mas como aponta o epidemiologista Jayaprakash Muliyil, da Universidade Católica de Vellore, tendo em conta que se sabe que
- o vírus é mais letal para pessoas mais velhas,
- muitas mortes entre idosos indianos não estão a chegar ao conhecimento das autoridades
- ou não estão a ser contabilizadas, diz.
O quadro no país de mais de mil milhões de pessoas é variado.
- O estado de Kerala, por exemplo, foi elogiado pelo modo como reagiu após terem sido aí reportados os três primeiros casos de covid-19 da Índia —
- isolou doentes, encontrou contactos e pô-los em quarentena,
- e levou a cabo uma política abrangente de testes.
Já as autoridades do estado de Deli, que inclui a capital, têm sido criticadas por não antecipar um aumento dos casos nas últimas semanas à medida que as medidas de confinamento foram sendo relaxadas.
Um artigo da Foreign Policy sobre o coronavírus na Índia notava que além
- dos problemas de registo de causas de morte,
- relutância em considerar vítimas de covid-19,
- e poucos testes em geral,
poderá haver outra razão para o número de mortes estar a ser relativamente baixo na Índia:
- o espaço de tempo que a doença leva desde que a infecção é contraída até que aparecem sintomas e o tempo que estes levam até serem graves.
- “Pode acontecer que a região esteja ainda numa fase mais atrasada e se for assim, poderá ter em breve um grande aumento.”
A América Latina
- continua, por outro lado, a sobressair em número de casos, com mais de 3 milhões de infectados,
- a maioria no Brasil, onde a média diária de mortes é neste momento mais do que mil.
A situação piorou de modo marcado no México,
- onde o aumento de mortes confirmadas por covid-19 ultrapassou as 35 mil pessoas,
- fazendo com que o país seja, agora, o quarto país com mais mortes pela doença do mundo (a seguir aos EUA, Brasil e Reino Unido),
- e ultrapassando a Itália, o primeiro país ocidental a ser duramente afectado pelo coronavírus.
As notícias de Itália
- continuaram, entretanto, a melhorar, com o número de casos diários confirmados a descer abaixo dos 200:
- esta segunda-feira registaram-se 169 novos casos e 13 mortes.
O Reino Unido mantém uma situação preocupante. O ministro da Saúde, Matt Hancock, veio dizer num artigo no Telegraph que
- há mais de cem surtos a ser seguidos, de modo “rápido e silencioso”, pelas autoridades de saúde,
- quando alguns casos chegam às notícias,
como os surtos em empresas de produção e processamento de vegetais,
- com 200 trabalhadores de uma delas actualmente em isolamento
- depois de 73 trabalhadores terem tido resultado positivo no teste do SARS-CoV-2.
No mês passado, lembra o Guardian,
- foram registados 45o casos de infecção em quatro fábricas ligadas a alimentação,
- aumentando a preocupação com este tipo de locais.
Já em Espanha, outro país europeu duramente afectado,
- os números da Catalunha – 301 novos casos esta segunda-feira, quando no domingo tinham sido 816 novos casos num só dia —
- levaram a Generalitat a um braço de ferro com um tribunal que decretou que um confinamento para o epicentro do surto, Lleida, era ilegal.
Apesar da decisão do Tribunal, o líder catalão Quim Torra diz que vai decretar o confinamento.
Por outro lado,
- imagens de festas sem distância física e com um grande número de pessoas durante o fim-de-semana em Mallorca
- levaram a avisos não só das autoridades espanholas mas também alemãs:
- o ministro da Saúde, Jens Spahn, alertou para o perigo de contágio também no regresso dos turistas aos seus países.
De Genebra, o director-geral da OMS quis, no entanto, deixar uma última mensagem a todos os países — até aos que estão a atravessar um crescimento descontrolado dos casos.
“Nunca é tarde para controlar o vírus, mesmo em casos de transmissão explosiva”, garantiu.
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