| 12 Mai 20
Avraham Mintz, de pé, voltado para Jerusalém, e o companheiro, Zoher Abu Jama, a rezar na direção de Meca: a consciência da mesma humanidade tem provocado gestos de reconciliação e proximidade entre países e povos desavindos. Foto: Direitos reservados
Ofertas de material hospitalar ou de protecção, troca de pessoal médico, um judeu e um muçulmano que param ao mesmo tempo para rezar juntos e uma música gravada para apoiar uma organização de voluntários judeus, muçulmanos e cristãos.
A pandemia serve também para que rivais, inimigos ou “diferentes” colaborem uns com os outros e esqueçam divergências.
- Ainda estamos longe do cessar-fogo global pedido por António Guterres e pelo Papa Francisco,
- mas já estivemos mais.
Seja por solidariedade, por interesse, ou uma mistura dos dois, a verdade é que
- muitos países que até há alguns meses se encontravam em guerra ou de relações cortadas,
- outros com rivalidades antigas,
- decidiram unir esforços ou apoiar-se mutuamente na luta contra a pandemia.
- China e Japão, Emirados Árabes Unidos e Irão, as duas partes da Irlanda… Exemplos não faltam a mostrar que “estamos todos no mesmo barco”, e a remar no mesmo sentido.
Logo no início do ano, quando a epidemia de covid-19 atingiu a China,
- o governo e diversas empresas japonesas
- doaram milhares de equipamentos de proteção aos seus vizinhos e “eternos rivais”.
- Nas caixas de máscaras oferecidas por uma das instituições, foi escrito um verso em chinês, que emocionou muitos e rapidamente se tornou viral nas redes sociais:
“Embora estejamos em lugares diferentes, estamos sob o mesmo céu.”
Em março,
- os Emirados Árabes Unidos disponibilizaram um avião militar
- para transportar médicos da Organização das Nações Unidas (ONU) e ajudar o Irão,
- o país do Médio Oriente mais atingido pela pandemia.
Uma ajuda que é ainda mais surpreendente pelo facto de
- o Irão estar em conflito com os EUA,
- que por sua vez são grandes aliados dos Emirados Árabes Unidos.
O ministro do exterior do Irão, Mohammad Javad Zarif, agradeceu a ajuda, dizendo que a epidemia é
“um problema internacional que requer a vontade combinada de todos os países para superá-la.”
Um mês depois, um gesto raro aconteceu também na Irlanda do Norte.
- A organização Ordem de Orange (que defende a permanência do território no Reino Unido e sob a coroa britânica)
- recebeu um carregamento de equipamentos de proteção, que decidiu distribuir não apenas pelo Norte, mas também pelo sul da ilha.
Na esmagadora maioria das situações, os unionistas são muito resistentes a colaborar com os seus vizinhos do Sul, independentes e republicanos. Mas o ministro da Saúde da Irlanda do Norte, Robin Swan, membro de um partido unionista, aplaudiu e justificou a atitude: “Estamos diante de um desafio comum.”
No Chipre, outra ilha igualmente dividida e com as negociações de paz suspensas há três anos, mais uma surpresa:
- o Governo de Nicósia enviou 4.000 equipamentos de proteção e 2.000 caixas de cloroquina
- para a parte norte da ilha, invadida em 1974 pelo exército turco.
Tratou-se de um gesto de solidariedade realmente singular entre o membro da União Europeia e a República Turca de Chipre do Norte, reconhecida apenas por Ancara.
Michael Stephens, investigador do Royal United London Institute (RUSI), do Reino Unido,
- considera que “a ajuda diplomática é importante”,
- mas considera que ela tem sido motivada principalmente pelos próprios interesses de cada país.
- “A colaboração tem sido pragmática, mais do que qualquer outra coisa. Se os teus vizinhos têm o vírus, tu também estás na linha de frente”,
afirmou, em declarações à AFP, citado pelo jornal francês La Coix.
O judeu e o muçulmano que trabalham e rezam juntos
Avraham, um paramédico judeu, Avraham, e Zoher, seu colega de trabalho muçulmano, têm estado juntos na linha da frente do combate à pandemia.
- Apesar de fazerem parte de povos que se combatem há décadas,
- são ambos voluntários de uma ONG israelita, equivalente à Cruz Vermelha,
- e enfrentam lado a lado, todos os dias, dezenas de situações de emergência.
Há mês e meio,
- foi notícia a foto do momento em que ambos rezavam, feita por um colega de ambos
- que a colocou a seguir na sua conta no Instagram, captou-os junto da ambulância que tripulam,
- e correu mundo com o seu simbolismo de que, perante o novo coronavírus, a política e a religião deixam de ser, de facto, motivos de afastamento.
Na imagem, obtida na região de Be’er Sheva, no sul de Israel, vêem-se
- Avraham Mintz, 43 anos, voltado para Jerusalém, tendo sobre os ombros o talled (lenço de oração) hebraico,
- enquanto o seu companheiro, Zoher Abu Jama, muçulmano, de 39 anos, está ajoelhado no chão, sobre o seu tapete, orientado na direção de Meca.
“Quando chega o momento, paramos a ambulância durante alguns minutos. Cada um reza também pelo outro. Neste trabalho é normal deixar de lado a política, porque somos chamados a ajudar pessoas em dificuldade”, explicou Zoher à CNN, sublinhando que “esta é uma doença que não faz distinção de religião ou de outro género. As diferenças são postas de lado. Trabalhamos juntos, vivemos juntos. Esta é a nossa vida.”
Um Hallelujah aos socorristas
Na mesma lógica de apontar para a reconciliação entre os mesmos povos, desavindos,
- vários artistas juntaram-se para gravar uma versão do icónico hino Hallelujah, de Leonard Cohen
- e, com a iniciativa, irão apoiar uma organização de socorristas que, em Israel, junta judeus, muçulmanos e cristãos.
Nesta versão, a música é interpretada, em inglês, hebraico e árabe por
- Dudu Aharon Rona-Lee Shimon, Layan Elwazani,
- pela cantora e compositora irano-americana Chloe Pourmorady,
- e ainda Adam Kantor, que tem neste momento um papel num musical da Broadway.
- A eles juntam-se vários socorristas voluntários e pessoas cujas vidas foram salvas por voluntários judeus, muçulmanos e cristãos Hatzalah.
Saving Lives Sunday, o título dado à iniciativa, conseguiu um montante monetário de cerca de 924 mil euros, destinados a apoiar a organização de resposta de emergência United Hatzalah, de Israel, na luta contra a covid-19 – noticiou o Jewish News.
Fonte: https://setemargens.com/inimigos-e-rivais-de-longa-data-unem-se-contra-um-adversario-maior
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