Elaine Tavares, em Palavras Insurgentes – Foto: Juliana driano/MST
Naqueles anos de fim do regime militar e de recomeço da frágil democracia brasileira,
- os sem-terra eram demonizados: bandidos, baderneiros, subversivos.
- Para a mídia comercial nada mais eram do vagabundos roubando terra alheia.
- E, para eles, o que estava reservado era a polícia, a prisão, a violência, a difamação.
Mesmo assim, milhares de famílias que já não tinham nada a perder decidiram engrossar as fileiras do movimento e as ocupações de terra foram crescendo em todo o país.
- A primeira grande ocupação, a Fazenda Annoni, no interior do Rio Grande do Sul,
- chegou a abrigar mais de seis mil pessoas numa imensa cidade de lona,
- em luta e em resistência.
A partir daí o Movimento só cresceu e hoje está organizado em 24 estados do país. Nesses 35 anos
- mais de 350 mil famílias saíram da condição de acampados sem-terra e conquistaram a terra
- produzindo coletivamente nos assentamentos do MST.
Esse tem sido o desafio dos agricultores: produzir, apesar de todas as dificuldades que são colocadas para eles.
Como é sabido
- o Brasil tem cantado loas para o agronegócio
- – que é a monocultura do grão ou o latifúndio da pecuária –
- mas muito pouco investe na agricultura que realmente produz comida para a mesa dos brasileiros.
Cada avanço nas políticas para os pequenos produtores tem de ser conquistado na luta renhida, coisa que nunca faltou ao movimento sem-terra. E muitos dos programas que existem hoje para o pequeno produtor são fruto dessa luta.
É assim que, na batalha cotidiana, o MST vai fortalecendo sua produção e suas cooperativas.
- Tem profunda ligação com a agroecologia
- e procura produzir sem o uso do agrotóxico,
- acabando assim com o mito de que é impossível uma agricultura em escala sem o uso de veneno.
A vitória da agricultura sadia é possível de ser notada no fato de o MST ser, por exemplo, o maior produtor de arroz orgânico da América Latina. Isso não é pouca coisa. É fruto do modo de produção sustentável e solidário construído pelo movimento.
Desde o ano passado que
- o novo governo que ocupa o executivo federal
- vem desmontando as políticas para a pequena e média agricultura.
Isso passa
- pelo fim de programas de crédito
- e pelo investimento massivo apenas no agronegócio.
- A agricultura familiar está cada dia mais perdendo os poucos benefícios que conquistou.
Além disso,
- a destruição do Incra, órgão responsável pela condução das políticas de reforma agrária,
- acaba por também inviabilizar a continuidade de programas que garantem novas terras para novos assentamentos.
A reforma agrária, que não aconteceu em sua inteireza, segue sendo um sonho.
- São mais de quatro milhões de famílias sem terra querendo produzir sem ter como fazê-lo
- porque as terras estão concentradas nas mãos de pouco mais de dois mil grandes proprietários.
E é justamente
- para mostrar como a reforma agrária pode dar certo
- que o MST realiza sistematicamente suas Feiras Estaduais
- visando dialogar com os trabalhadores urbanos sobre a importância da produção de comida saudável.
Assim, quando chega o tempo da feira, o movimento vem para a cidade e finca suas bandeiras no espaço urbano para vender os alimentos e para discutir em profundidade com parceiros e sociedade em geral temas como agroecologia, reforma agrária e soberania alimentar.
Nesse ano de 2020 a Feira Estadual acontece nos dias 16, 17 e 18 de abril, no largo da Alfândega da capital. O lançamento da proposta foi feito na Assembleia Legislativa, em Florianópolis, nesta quarta-feira, dia 11 de março, e contou com a presença de autoridades, sindicalistas, movimentos social urbano e apoiadores. Foi tempo de discutir
- a nova conjuntura que se apresenta
- e mostrar os frutos colhidos pelas lutas e pela organização dos trabalhadores sem-terra.
O processo de destruição das conquistas sociais está em curso e é mais do que hora da união do campo e da cidade. O MST sempre esteve nessa batalha, compreendendo que
- muitos dos sem-teto urbanos são companheiros que tiveram de deixar o campo, as cidades do interior,
- para buscar uma forma de sobreviver nos grandes centros.
Por isso, cada dia mais, a aliança operário/camponês se faz necessária. Os trabalhadores, juntos, construindo o mundo novo, que não é o do capitalismo reformado, mas o do socialismo.
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