Por Anne-Laure Frémont – 11/03/202
Foto: Graaff-Reinet, África do Sul, 14 de novembro de 2019. Mike Hutchings / REUTERS Tradução: Orlando Almeida
O ano de 2019 marca o fim de uma década de calor excepcional, confirma o relatório da Organização Meteorológica Mundial publicado nesta terça-feira.
Multiplicação dos episódios de seca, aceleração da elevação do nível dos oceanos… O relatório 2019 da Organização Meteorológica Mundial (OMM), apresentado nesta terça-feira na sede da ONU em Nova York, confirma que 2019 foi o segundo ano mais quente já registrado. Esse aquecimento parece inexorável:
- os anos de 2015 a 2019
- são os cinco anos que apresentaram as mais altas temperaturas médias
- e a década 2010-2019 foi a mais quente observada, afirma o relatório.
“Acabamos de ter o mês de janeiro mais quente de todos os tempos“,
declarou o secretário geral da OMM, Petteri Taalas .
O inverno foi anormalmente ameno em numerosa regiões do hemisfério Norte.
- A fumaça e os poluentes provenientes dos devastadores incêndios na Austrália deram a volta ao mundo e provocaram um pico nas emissões de dióxido de carbono (um dos principais gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global, NDR).
- As temperaturas recordes assinaladas na Antártica foram acompanhadas pelo derretimento em larga escala do gelo e pelo deslocamento de uma geleira, o que terá repercussões sobre a elevação do nível do mar”.
O relatório aponta as múltiplas consequências desse aquecimento para a natureza e para os seres humanos.
– Aumento do nível do mar: populações ameaçadas
No ano passado, o nível médio do mar em escala mundial atingiu o maior valor já registrado. Um aumento devido principalmente ao derretimento das calotas polares da Groenlândia e da Antártica.
Aumento do nível do mar, em milímetros por ano, entre 1993 e 2019. (Fonte: Copernicus / Satellites Localization Collection (CLS) / Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) / Laboratório de Estudos em Geofísica Espacial e Oceanografia (LEGOS))
O relatório esclarece que esta elevação do nível do mar não está distribuída uniformemente sobre o globo: tende a aumentar
- ao largo do Japão no Pacífico,
- a leste de Madagascar no Oceano Índico,
- a leste da Nova Zelândia no Oceano Pacífico
- e a leste do estuário do Rio da Prata no Atlântico Sul.
Esta elevação do nível do mar terá consequências dramáticas para os atóis do Pacífico ou para alguns litorais asiáticos que, com o passar do tempo, podem ficar submersos, provocando um fluxo inelutável das populações.
– Acidificação e desoxigenação dos oceanos: o impacto na vida marinha
Os oceanos são sumidouros de carbono: absorvem uma parte (grande) das nossas emissões de CO2. Durante a década de 2010, eles capturaram cerca de 23% das emissões anuais de dióxido de carbono, amortecendo os efeitos da mudança climática. Mas este processo
- altera a química do oceano,
- diminui o pH
- e aumenta a acidez.
Esta acidificação reduz a capacidade de calcificação de organismos marinhos, como mexilhões, crustáceos e corais.
A absorção de CO2 também leva à desoxigenação dos oceanos: a OMM indica que,
- desde meados do século passado,
- o conteúdo de oxigênio do oceano em todo o mundo diminuiu de 1 a 2%,
- o que representa um grande ameaça aos ecossistemas.
– Ondas de calor: populações vulneráveis e um risco maior de aparição de doenças
As temperaturas sem precedentes experimentadas por alguns países no ano passado tiveram um impacto direto na saúde das pessoas, explica o relatório.
- Entre os exemplos citados está o Japão,
- onde uma intensa onda de calor durante o verão de 2019 causou mais de 100 mortes e exigiu 18.000 hospitalizações.
A mudança climática facilita a transmissão de vírus como o da dengue devido à propagação do mosquito da espécie Aedes. Hoje, aproximadamente metade da população mundial está exposta a um risco de infecção.
– Secas e eventos climáticos extremos: segurança alimentar em risco
Certas regiões do sudeste da Ásia e a Austrália sofreram secas muito severas.
- A África Austral, a América Central e partes da América do Sul
- receberam quantidades incomumente baixas de precipitação, acrescenta a OMM.
- Por exemplo, após chuvas abaixo do normal de maio a agosto de 2019,
- cerca de 50.000 famílias perderam quase 80% de sua produção de milho na Guatemala.
Frequência de secas severas nas regiões de cereais do globo no período 1984-2011. FAO.
A segurança alimentar também se deteriorou acentuadamente em alguns países do Chifre da África devido aos efeitos combinados do clima, dos deslocamentos e dos conflitos.
Estima-se que, no final de 2019, cerca de 22,2 milhões de pessoas (incluindo 6,7 milhões na Etiópia) estavam em situação de grave insegurança alimentar.
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