Padre Damián Montes – 16/02/20 – Foto: Damián Maria Montes, sacerdote, redentorista
Tradução: Orlando Almeida
“O atual catecismo é de 1997, e alguns artigos foram alterados, por autorização do Papa Francisco”
“A questão do ‘Limbo’ é um exemplo claríssimo de que as coisas podem ser mudadas”
07.01.2020 | Damián María Montes (no seu Facebook)
Para os fanáticos católicos: Não é bom nem faz justiça a Igreja confundir dogma com doutrina. O imutável com mutável.
As questões dogmáticas na Igreja, assumidas como princípios inegáveis, são muito poucas. Trata-se basicamente
- das palavras do Credo,
- das quatro afirmações dogmáticas referentes a Maria
- e alguma outra afirmação que podemos colocar na antropologia teológica.
Em resumo, as questões fechadas à discussão são realmente poucas e, na verdade, não são foco de interesse social neste momento.
Tudo o mais, insisto, tudo o mais,
- pertence à esfera doutrinária,
- que exige ser interpretada à luz de três grandes fontes (Sagrada Escritura, Tradição e Magistério),
- mas que está aberto à discussão e estudo teológico; ou seja, à mudança.
De fato, muitas, muitíssimas questões doutrinárias mudaram com o passar dos séculos.
Portanto, não digamos com tanta facilidade
- que algo doutrinário não se pode mudar ou discutir
- porque essa afirmação é falsa.
- Desde o início houve, graças a Deus, um espaço para a dissidência,
- muito necessário para a ação do Espírito que renova a sua Igreja.
Um dos primeiros exemplos, já o encontramos na Bíblia:
- Pedro e Paulo discutindo se era necessário ser circuncidado para ser cristão.
- Para Pedro a circuncisão era uma questão de doutrina verdadeira porque os apóstolos eram circuncidados, Jesus era circuncidado e tinha vindo para salvar os circuncidados (para salvar os judeus, povo de Israel).
- Paulo, por sua vez, argumenta que Jesus veio para todos, também para os gentios (os não circuncidados).
Finalmente decidem, no chamado “primeiro concílio de Jerusalém” que
- a circuncisão não será necessária para ser cristão.
- A doutrina mudou num ponto que parecia imutável.
Vamos dar outro exemplo:
O Catecismo atual é de 1997, e alguns artigos foram alterados, por autorização do Papa. Um deles,
- o artigo 2267, sobre a pena de morte, foi modificado para declarar que essa prática é “inadmissível”.
- Ou seja, esse “inadmissível” chega em 2018, pelo Papa Francisco, após uma longa história em que se contemplava a pena de morte como admissível em alguns casos extremos e como “tutela do bem comum” (artigo antes da emenda).
Que ninguém fique nervoso diante desta verdade: este artigo foi mudado. Francisco reza na paróquia de São Pedro.
Outro exemplo bem conhecido, anterior ao acima mencionado,
- foi a negação do “Limbo“, por Bento XVI,
- e poderíamos continuar com a lista.
Exemplos claríssimos de que as coisas podem ser mudadas e a doutrina do catecismo também. Porque nem toda ela é dogmática.
Não é dogmático que o papa tenha se vista de branco (pois só se veste assim depois de 1566) e, por isso, no futuro poderia vestir calças.
Não é dogmática a liturgia, que primeiro foi celebrada em aramaico e hebraico, depois em grego, depois em latim e de costas para a assembleia, desde o século III, e só desde 1970 no idioma de cada comunidade.
Não é dogmático o celibato dos padres, que foi determinado como obrigatório apenas a partir do século XVI.
E, sem deter-me,
- porque é inviável e impossível neste clima de crispação em que vivemos,
- só aponto que não são dogmáticos os tópicos de maior atrito e debate.
- E porque não são dogmáticos, mas doutrinários, podem mudar.
O que é realmente preocupante é que muitas pessoas depositam a sua fé no doutrinário. Conto-vos isso com outro exemplo que me dá tristeza lembrar:
Logo após Francisco ser eleito Papa,
- uma senhora disse-me: “padre, este Papa vai tirar a minha fé” -.
- Perguntei-lhe: “Senhora, onde pôs a senhora a sua fé? “-.
- E ela me disse que o papa anterior era um papa de verdade, e não este, que usa sapatos pretos.
Perguntei-lhe de novo: “Onde é que a senhora depositou a sua fé?” Não me respondeu. Era evidente que ela a tinha posto no acessório, nos sapatos do papa, que deveriam ser vermelhos e quem sabe em que outra série de aspectos.
“A liturgia não é dogmática nem o celibato dos padres é dogmático”
Obviamente, os fanáticos da doutrina perderão a fé e ficarão muitíssimo zangados caso mude o que consideravam certo e imutável (e não é nenhum segredo que a doutrina muda). Pelo contrário, se depositarmos a fé em Deus e somente nEle, que é onde tem de estar, nada nem ninguém (e também nenhuma mudança de doutrina) poderá derrubar a nossa fé. A diferença é que alguns vivem a mudança como uma traição profunda, heresia, ameaça, etc… e outros como ação do Espírito, que vem sugerindo a cada momento o que ele quer que sua Igreja seja, à luz dos sinais dos tempos.
Cardeal durante uma liturgia
Posiciono-me neste segundo grupo, sem hesitações.
- Longe do fanatismo, mas muito consciente de viver em comunhão;
- e por isso sou paciente e assumo o momento e a doutrina que me toca viver.
Mas minha fé não é prejudicada em nada se amanhã a Igreja decidir, por exemplo, que as mulheres possam servir no ministério de “pároco*”; muito pelo contrário, fortalece-se.
Essa é a aventura e o que mantém viva a minha esperança; que as coisas podem mudar.
NOTAS:
* Pároco s. m. [do lat. ecles. (sec. 15°) parochus; na idade clássica, parŏchus (do grego πάροχος, derivado de παρέχω «administrare») era aquele que por encargo do estado fornecia alimentação e hospedagem aos funcionários públicos de passagem
- Paróquia s. f. [do latim tardio, eclesiástico, parochia, forma afim de paroecia, que vem do grego παροικία, «vizinhança», deriv. de παροικέω «morar ao lado».[Fonte: Vocabolario Trecani (italiano)].
Damián Montes
“No digamos con tanta facilidad que algo doctrinal no se puede discutir”Padre Damián Montes: “No hace justicia a la Iglesia confundir dogma con doctrina”

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