“Onde estão as forças progressistas e os chamados movimentos sociais? Com isso, um governo sem rumo se mantém pela inércia e um presidente incapaz pode andar passeando pelo mundo sem que nada aconteça. Como sair da anomia? Desafio para partidos e entidades opositoras”, escreve Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
“O PT e outras forças tendem a encerrar-se na miopia redutiva de “Lula livre“, outros pensam basicamente em vencer as próximas eleições municipais. Onde propostas de dimensões e ambições ao nível de um país que está sendo sucateado, do pré-sal a privatizações a rodo?”, pergunta o sociólogo, denunciando que “na ausência de alternativas a política parece vegetar numa calmaria anestesiada”.
Eis o artigo.
Impressionante a enorme multidão no centro de Santiago neste 23 de outubro. Para os que vivemos no Chile durante a Unidade Popular, não podemos deixar de recordar o entusiasmo do primeiro de maio de 1972 na Praça Itália. Trata-se agora de um plebiscito de fato, contra uma política neoliberal que foi apresentada entre nós como exemplo pela equipe de Guedes e que naufragou também na Argentina de Macri.
Um tremendo contraste: a reforma de previdência que castiga os mais pobres foi aprovada em Brasília com o assustador silêncio e indiferença das ruas brasileiras. Onde estão as forças progressistas e os chamados movimentos sociais? Com isso, um governo sem rumo se mantém pela inércia e um presidente incapaz pode andar passeando pelo mundo sem que nada aconteça. Como sair da anomia? Desafio para partidos e entidades opositoras.
O PT e outras forças tendem a encerrar-se na miopia redutiva de “Lula livre“, outros pensam basicamente em vencer as próximas eleições municipais. Onde propostas de dimensões e ambições ao nível de um país que está sendo sucateado, do pré-sal a privatizações a rodo? Na ausência de alternativas a política parece vegetar numa calmaria anestesiada.
Na história, às vezes, basta uma fagulha concreta – do preço dos transportes à indignação por uma saúde em decomposição – para despertar forças aparentemente hibernando.
- Assim com os gilet jaunes na França,
- entre nós os caras pintadas contra Collor,
- ou as manifestações de junho de 2013 em São Paulo que as esquerdas não souberam avaliar…
Sempre tratei de manter a esperança numa frente ampla nacional, popular e democrática. No momento atual não posso deixar de expressar uma certa perplexidade.
“A história não caminha ao ritmo de nossa impaciência”, escreveu o poeta espanhol Antonio Machado, ao partir para o exílio no final da guerra civil.
Mas é do Chile que vem o alento com Salvador Allende, em sua última e comovente alocução pelo rádio, despedindo-se de seu povo:
“La historia es nuestra, la hacen los pueblos”.
E antevia então o que está acontecendo agora nas ruas de Santiago:
“Volverá el pueblo a las grandes alamedas”.
Porém entre nós: quando?
Luís Alberto Gomez de Souza
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/593749-de-um-chile-desperto-a-um-brasil-hibernando
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