Juan Arías – 04/05/2019 – Foto: IHU /roberto stuckertfilho
Eis o artigo.
O atual mandato presidencial no Brasil começou há pouco mais cinco meses, mas já começam a se escutar alarmes sobre a possibilidade de que Jair Bolsonaro não termine seu mandato.
- Não só porque ele aparece sem um projeto de país concreto,
- mas também porque o pouco já realizado é alvo de duras crítica até por parte de muitos que o elegeram e hoje não o fariam,
- conforme mostram todas as pesquisas em que, dos 57 milhões de votos conquistados nas urnas,
- apenas 30% continuam com ele.
Esse contingente
- corresponde a um exército de radicais
- que desejaria devolver o Brasil aos tempos do pior obscurantismo,
- com uma política apoiada em messianismos alucinados,
- com suas preocupações fálicas e uma mórbida obsessão pelas armas.
Poderia parecer incrível num país normal que em cinco meses de governo já se fale já abertamente na possibilidade de impeachment do presidente,
- não só pelo que ele não fez,
- mas também pelo que fez até agora, que está revelando uma forte desconfiança sobre sua capacidade de governar um Brasil-continente com 207 milhões de pessoas que já começaram a sair às ruas.
E sobre como deseja conduzir o tema da educação, um ponto crucial deste país com ainda milhões de analfabetos funcionais e da qual depende também seu futuro econômico.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acaba de dizer ao jornal O Globo que o Brasil “caminha para um colapso social” com o novo governo,
- que ainda não soube apresentar um projeto para fazer frente às graves crises
- e que o afligem e que poderia levá-lo a uma catástrofe econômica
- se em vez de apoiar as reformas urgentes acabar boicotando-as para favorecer propostas milagrosas e às vezes até patéticas.
Preocupa à sociedade democrática um presidente que parece alheio às reformas enquanto se perde em fantasia messiânicas,
- como quando afirma que ainda “não nasceu para ser presidente”,
- pois foi algo que Deus lhe impôs.
E assim repete, às vezes chorando diante das câmeras de televisão, enquanto levanta a camisa e mostra as cicatrizes do atentado que sofreu durante a campanha eleitoral. Deus, segundo ele, está ao seu lado e o escolheu como um novo Messias.
Junto a esse messianismo profético,
- o presidente continua tão obcecado em armar os brasileiros
- que seu primeiro decreto foi para ampliar a posse de armas e seu porte para toda a sociedade,
- decreto contra o qual acabam de se manifestar 73% dos brasileiros, segundo a última pesquisa de IBGE.
Multiplicar as armas nas mãos das pessoas
- deve parecer melhor para o país
- que multiplicar o pão nas mãos dos ainda milhões de pobres
- e as possibilidades para os jovens de um ensino que os prepare para se realizarem em liberdade e criatividade.
E sem absurdas receitas
- de escolas sem partido,
- de alunos espiões e denunciantes de seus professores
e o pavor de que nelas se possa falar de sexo, que é como proibir falar da vida.
Há uma história que revela o absurdo de uma presidência em seus temores relacionados com o sexo.
Em abril passado, saindo do Ministério da Educação, coração do futuro nacional, o presidente confiou a um grupo de jornalistas uma de suas maiores preocupações no momento. Sobre o drama da educação no país? Não.
- “Temos por ano mil amputações de pênis por falta de água e sabão”, contou-lhes, e acrescentou:
- ”Quando se chega a este ponto, a gente vê que estamos no fundo do poço”.
Essa preocupação com a higiene masculina e as proporções de suas genitálias perturba tanto o presidente que poderia ter criado uma crise diplomática com o Japão, ao dizer que naquele país “tudo é pequeno”, referindo-se ao órgão masculino.
A obsessão do presidente por tudo o que é fálico está preocupando até os psicólogos e psicanalistas, como Contardo Calligaris, que na Folha de S. Paulo, analisando estas obsessões fálicas do presidente, afirmou:
“Não se pode entender uma posição repressora contra os outros, seja qual for, a não ser como um modo da pessoa reprimir e lutar com a sua própria dificuldade”.
Já João Luiz Mauad, do Instituto Liberal e colunista de vários jornais do país, escreveu que ainda não é hora de falar no impeachment do presidente, já que
“improvisação, amadorismo, incompetência, idiotice e histrionismo não são, por si sós, suficientes para abrir um processo de impeachment contra um presidente”.
Talvez seja verdade juridicamente, mas
- um presidente com todas essas “qualidades”
- não parece o mais bem preparado para conduzir o transatlântico Brasil, o quinto maior pais do mundo e com imensas riquezas naturais que, além disso, o presidente parece querer destruir.
No Brasil já se fala, sem meias palavras, que o presidente Bolsonaro e a maior parte de seu governo parecem ineptos para confrontar os grandes desafios que têm pela frente. Até agora parece, entretanto, que
- Bolsonaro continua em campanha eleitoral,
- dialogando só com o grupo de radicais de extrema direita que permaneceram fiéis a ele,
- sem ainda demonstrar que é quer ser o presidente de todos os brasileiros, como exige a Constituição.
O presidente continua confundindo as redes sociais com a realidade viva do país e parece ter aterrissado de outra galáxia, sem entender
- que o Brasil é uma nação que importa no mundo
- e que já aceitou a modernidade faz muito tempo.
E, pior ainda, está destruindo no exterior, com sua incapacidade de governar e suas obsessões de caráter messiânico e psiquiátrico, a imagem positiva e até invejável até ontem atrelada a este país, coração econômico do continente e cadinho de mil experiências culturais que estão sendo pisoteadas.
Juan Arías
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