Roberto Malvezzi (Gogó) –Daqui:
Porém, Jesus, dirigindo-se a elas, as preveniu: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; antes, horai por vós mesmas e por vossos filhos! (Lucas, 23:28)
Nesse início de Quaresma os cristãos católicos se dedicam de forma especial à conversão a Deus, às pessoas em geral, aos mais fragilizados em especial e ao cuidado com a natureza.
Esse tripé – Deus, irmãos e natureza – sustenta a vida e, quem segue por ele, não erra o caminho.
O que já é obrigação cotidiana, na Quaresma ganha a força de um kairós, um momento especial da graça de Deus.
- não como algo estranho ao espírito quaresmal,
- ao contrário, para lhe dar carne e concretude.
É fácil chorar diante do crucificado, difícil é ter compaixão
- de pessoas concretas necessitadas
- e de rios,
- florestas
- e animais crucificados pelo poder do dinheiro e das armas,
- como é o caso de Marianna e Brumadinho.
Por isso, a Campanha da Fraternidade
- tem como tema “Fraternidade e Políticas Públicas”
- e como lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça”. (Is 1,27)
Mas, por que as políticas públicas?
Para quem tem espírito aberto é fácil compreender, afinal,
- se sou obrigado a dar um copo de água a quem tem sede,
- fica fácil respeitar milhões de pessoas abastecidas com água por uma política pública como o Água para Todos.
- Se sou obrigado a dar um prato de comida a quem tem fome,
- fica fácil entender que um programa como o Bolsa Família dá alimento permanente a milhões de pessoas.
- Se sou obrigado a colaborar com os enfermos,
- fica fácil entender que o SUS provê a saúde de milhões de pessoas que não têm dinheiro para pagar a medicina mercantilizada.
Assim por diante, com o
- Luz para Todos,
- a política do Salário Mínimo,
- a Previdência Social,
- a política para gestantes,
e uma infinidade de políticas públicas – tantas vezes convertidas em programas específicos – que melhoraram a vida de pessoas reais.
Tecnicamente toda política de governo ou Estado é política pública. Porém, na realidade
- muitas políticas de Estado estão voltadas para os interesses do capital e dos privilegiados.
- Não é dessas que falamos.
- Falamos particularmente daquelas direcionadas aos grupos mais vulneráveis e necessitados da sociedade.
É fundamentalmente pelas políticas públicas que a vida de nosso povo melhorou. Se fizermos um gráfico aqui no Nordeste,
- o período de suas implantações
- coincide exatamente com a ascensão do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Campo Alegre de Lourdes, por exemplo, município da Bahia em que vim morar
- em 1980, tinha um IDH de 0,273 em 1990.
- Passou para 0,365 em 2000.
- E passou para 0,557 em 2010.
Saiu da condição de miserabilidade para o de pobreza. Quando atingir 0,60 passa para uma vida digna.
A Bahia
- passou de 0,386 em 1990 para 0,512 em 2000,
- indo para 0,660 em 2010.
Portanto, todo Estado passou do índice de miserabilidade para uma vida digna.
O IDH do Brasil
- era 0,545 em 1990,
- em 2000 era 0,612,
- em 2010 subiu para 0,739,
- em 2014 subiu ainda mais 0,744.
Essa Campanha da Fraternidade vem exatamente no momento em que a
- as políticas públicas do Brasil estão sendo desmontadas
- a pretexto do equilíbrio das contas públicas
- e até por razões ideológicas.
Pior, ideologia difundida até por gente que se diz cristão e condena as Campanhas da Fraternidade e as políticas públicas.
Nesse versículo de Lucas acima citado, Jesus nos ensina que
- não quer chamar a atenção sobre os próprios sofrimentos,
- mas sobre os sofrimentos do povo.
Quem tiver bom coração entende o valor desse tema da Campanha da Fraternidade de 2019 e se compromete a ser um cristão melhor, como indivíduo e como comunidade.
OBS:
O IDH é um índice que vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, melhor a vida. Ele tem limites em seus itens, mas mede sobretudo a educação, renda e longevidade. Foi criado pelo economista indiano Amartya Sem e adotado pela ONU.

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