O pedido de fazer com que funcionários do governo participem do Sínodo é patético. Além de demonstrar profunda ignorância histórica, cultural e diplomática, parada na década de 30.
O comentário é de Roberto Romano, professor da Unicamp, publicado no Facebook, 11-02-2019.
♣ Na Concordata de Império da Santa Sé com Hitler foi estabelecido que,
- para manter vantagens para o clero,
- a Santa Sé proibiria toda atividade política dos fiéis, dos padres e bispos.
- Os próprios partidos católicos e aproximados foram abolidos por iniciativa da Santa Sé.
“Atividade política” queria dizer : oposição ao governo nacional-socialista.
♣ Também nos tratos entre Mussolini e o Vaticano se tentou afastar a atividade de leigos e padres contrários ao fascismo.
♣ No Brasil de Vargas, houve clara colaboração entre Bispos e governo, paga com o controle das atividades dos leigos opostos à ditadura.
♣ No regime de 1964 a receita deu certo apenas pela metade.
- O governo conseguiu apoio da maioria dos bispos,
- mas a minoria aguerrida que se opunha à ditadura, bispos, padres e leigos, teve apoio discreto do Vaticano
- quando os laços entre apoiadores da ditadura foram longe demais na tarefa abjeta de negar as torturas, etc.
A troca de Dom Agnello Rossi por Dom Paulo Evaristo Arns é um exemplo eloquente. Ou seja, já no regime de 1964 a receita elaborada nos anos 30, que ajudou o totalitarismo nazi fascista com apoio do clero, não deu certo.
O atual chanceler brasileiro (?), imerso numa cultura tridentina,
- não entende a lógica atual da instituição católica.
- Ele imagina que o Papa Francisco é Pio XI ou Pio XII.
- Erra ainda com a sua leitura de João Paulo II, repetição daqueles pontífices que apoiou ditadores como Pinochet.
O episódio apenas evidencia
- o atraso histórico e cultural do governo Bolsonaro,
- sobretudo em setores delicados como o trato com uma instituição milenar,
- experiente em matéria diplomática como a Igreja Católica.
O pedido de fazer com que funcionários do governo participem do Sínodo é patético.
Agora, o uso da Abin para
- bisbilhotar os debates e documentos dos bispos e do próprio Vaticano
- é sinal claro de uma prática bisonha que “não sabe com quem está falando”.
Práticas como a escancarada pelo governo e sua agências faz lembrar as anedotas sobre a PIDE portuguesa. Seus agentes andavam com distintivos de polícia secreta em plena luz do dia….é o país da piada pronta mesmo. Infelizmente.
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♣ Acesse aqui o Documento Preparatório para o Sínodo.
Acesse aqui o Documento Preparatório – versão popular. (Nota da IHU On-Line).
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Roberto Romano
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