A reportagem é de Tânia Monteiro, publicada por O Estado de S. Paulo, 11-02-2019.
O Estado revelou ontem que o Planalto quer conter o que considera
- um avanço da Igreja Católica
- na liderança da oposição ao governo,
- como efeito da perda de protagonismo dos partidos de esquerda.
Em nota divulgada na noite deste domingo, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) confirmou que
- existe “preocupação funcional com alguns pontos da pauta” do evento
- e que parte dos temas “tratam de aspectos que afetam, de certa forma, a soberania nacional”.
Nos 23 dias do Sínodo, as discussões vão envolver temas como
- a situação dos povos indígenas e quilombolas
- e mudanças climáticas
- – consideradas “agendas de esquerda” pelo Planalto.
O governo quer ter representantes nas reuniões preparatórias para o encontro em Roma.
A ação diplomática do Planalto terá várias frentes. Numa delas,
- o governo brasileiro quer procurar os representantes da Itália e do Vaticano no Brasil – Antonio Bernardini e d. Giovanni D’Aniello, respectivamente –
- para pedir a ajuda deles na divulgação dos trabalhos brasileiros nas áreas social, de meio ambiente e de atuação indígena.
Serviria como contraponto aos ataques
- que o governo está certo que sofrerá no Sínodo,
- por ver influência de partidos de esquerda nesses setores.
Os embaixadores do Brasil na Itália e no Vaticano também terão a missão de pressionar a cúpula da Igreja para minimizar os estragos que um evento como esse poderia trazer, dada a cobertura da mídia internacional.
Simpósio
Em outra ação diplomática, o Brasil decidiu realizar um simpósio próprio também em Roma e em setembro, um mês antes do evento organizado pelo Vaticano. Na pauta,
- vários painéis devem apresentar diferentes projetos desenvolvidos no País
- com intuito de mostrar à comunidade internacional a “preocupação e o cuidado do Brasil com a Amazônia“.
“Queremos mostrar e divulgar as ações que são desenvolvidas no Brasil pela proteção da Amazônia na área de meio ambiente, de quilombolas e na proteção dos índios”, disse um dos militares do Planalto.
Também no Brasil, o governo quer fazer barulho e mostrar projetos sustentáveis.
- O primeiro evento já será nesta quarta-feira, na aldeia Bacaval, do povo Paresi – a 40 quilômetros de Campo Novo do Parecis, no norte de Mato Grosso.
- Ali, será realizado o 1.º Encontro do Grupo de Agricultores Indígenas, que tem por objetivo celebrar a Festa da Colheita.
O evento já estava marcado, mas o governo Bolsonaro quer aproveitar o encontro para enfatizar o projeto de agricultura sustentável tocado pelos índios naquela região.
- Trata-se do plantio de dois mil hectares de soja sob o regime de controle biológico de pragas, ou seja, sem pesticidas.
- Mais de dois mil indígenas (dados do último censo do IBGE) têm se revezado também no plantio de milho, mandioca, abóbora, batata, batata-doce e feijão.
A nova direção da Funai afirma que pretende incentivar projetos semelhantes em áreas onde os índios tenham interesse em plantar em suas terras.
A apresentação de projetos de extração legal de madeira, assim como o apelo às empresas estrangeiras para que só comprem material certificado, é uma outra ideia para divulgar trabalhos realizados no Brasil. Com isso, o governo espera abrir outra frente de contraponto ao que vê como tentativa de interferência externa na Amazônia e ataque a políticas governamentais.
‘Desnecessária’
Para o presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), d. Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO), essa preocupação do governo é desnecessária.
- “O Sínodo não tem a intenção de dar norma para o governo,
- mas de encontrar caminhos
- que nos ajudem a viver a solidariedade e a fraternidade com as populações que vivem na Amazônia há milhares de anos”,
disse d. Roque.
Leia a nota divulgada pelo Gabinete de Segurança Institucional:
Em relação à matéria publicada hoje no Jornal O Estado de São Paulo com o título “Planalto vê Igreja Católica como potencial opositora”, informamos o seguinte:
1. A Igreja Católica não é objeto de qualquer tipo de ação por parte da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) que, conforme a legislação vigente, acompanha cenários que possam comprometer a segurança da sociedade e do estado brasileiro;
2. Não há críticas genéricas à Igreja Católica. Existe a preocupação funcional do Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional com alguns pontos da pauta do Sínodo sobre a Amazônia que ocorrerá no Vaticano, em outubro deste ano;
3. Parte dos temas do referido evento tratam de aspectos que afetam, de certa forma, a soberania nacional. Por isso, reiteramos o entendimento do GSI de que cabe ao Brasilcuidar da Amazônia Brasileira.
Brasília, DF, 10 de Fevereiro de 2019.
Atenciosamente,
Assessoria de Comunicação do GSI
Tânia Monteiro
.
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