Claire Lesegretain, em 18/01/2019
Tradução: Orlando Almeida
Foto: Mons. Jean Charioupolis, arcebispo das Igrejas russas na Europa Ocidental,
- Serge Sollogoub, Arcipreste Ortodoxo,
- François Clavairoly, presidente da Federação Protestante da França,
- e o pastor Augustin Nkundabashaka, evangélico batista,
no 49º aniversário da Comunidade de Sant’Egidio, em maio de 2017. / Corinne Simon / Ciric.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos começa na sexta-feira, 18 de janeiro. Que sentido pode ter o engajamento ecumênico quando os patriarcados ortodoxos se dividem e quando as igrejas protestantes se recompõem, não sem dissensões?
“Quanto mais difícil é a situação, mais é necessário engajar-se no caminho do ecumenismo!“. O padre Jean-François Chiron, co-presidente católico do ‘Groupe des Dombes’1 (o co-presidente protestante é o pastor luterano Jacques-Noël Pérès), fala com convicção.
“Nós temos de acreditar que a graça nos conduz e nos ajuda diante dos desafios com que nos defrontamos”, diz este padre da diocese de Chambéry, envolvido desde há muitos anos no diálogo ecumênico.
De fato, buscar a unidade entre discípulos de Cristo não é uma opção, mas uma condição para a credibilidade do Evangelho, conforme as últimas palavras de Jesus antes da sua Paixão: “Que todos sejam um para que o mundo creia” (Jo 17,21).
No entanto, a pergunta sobre o significado do diálogo inter-religioso põe-se hoje,
- diante das dissensões no seio do protestantismo
- e ainda mais perante as divisões na ortodoxia,
- exacerbadas depois do reconhecimento da autocefalia do Patriarcado de Kiev pelo Patriarcado de Constantinopla, em outubro passado.
“Como dar prosseguimento às comissões de diálogo entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, se os ortodoxos gregos e os ortodoxos russos se recusam a estar juntos uma vez que não mais se consideram em comunhão?”, pergunta o padre Chiron.
Esta rivalidade entre o Patriarcado de Moscou (160 milhões de fiéis) e o Patriarcado de Constantinopla (sete milhões) também tem consequências em termos de representatividade.
“Quem é o porta-voz da ortodoxia? Que lugar reconhecer à primazia do patriarca de Constantinopla?“, pergunta ainda o padre Chiron, que enfatiza que o que está em jogo nestas questões ultrapassa o caso atual da Ucrânia.
Já em 2007, em fase de plena discórdia entre os dois principais patriarcados ortodoxos a propósito da Estônia, Moscou tinha retirado a sua delegação da Comissão mista internacional para o diálogo teológico entre a Igreja católica romana e a Igreja ortodoxa, por ocasião de uma sessão plenária em Ravenna (Itália), no momento da assinatura do “Documento de Ravenna” sobre “as conseqüências eclesiológicas e canônicas da natureza sacramental da Igreja“.
Dentro do protestantismo as tensões também são frequentemente altas.
“No seio do protestantismo, a clivagem entre Igrejas históricas e Igrejas evangélicas diz respeito a questões de fundo“, constata o padre Chiron com tristeza.
Enumerando em seguida os principais temas de discórdia entre
- reformados ou luteranos, de um lado,
- e evangélicos ou pentecostais, do outro:
- a compreensão da “salvação pela fé” (intuição fundante do protestantismo);
- a interpretação das Escrituras (os primeiros defendendo uma leitura contextual, os últimos se apegando frequentemente a uma leitura mais literal);
- empenho com o ecumenismo (sincero nas Igrejas históricas; menos presente nas Igrejas evangélicas).
“Os pentecostais são cada vez menos contrários ao ecumenismo e são numerosos os pastores evangélicos que promovem ações caritativas com católicos e com protestantes de outras igrejas“, pondera contudo Anne-Laure Danet, responsável pelas relações com as Igrejas cristãs dentro da Federação Protestante da França (FPF).
De todas estas tensões resultam sérias dificuldades para o diálogo ecumênico. Ainda mais porque, como resume o padre Chiron,
“os responsáveis católicos romanos, apegados à unidade da instituição, preocupam-se com razão perante estes fenômenos de divisões e dispersões que não estão poupando a Igreja Católica“.
Tais riscos existem quando se trata
- tanto de questões de ética (viu-se isto na França durante os debates as sociedade acerca do casamento entre pessoas do mesmo sexo),
- como de questões de eclesiologia (como o celibato dos padres).
“O tropismo romano de unidade institucional é questionado por estas tendências centrífugas, ao tempo em que o Papa põe o acento sobre a colegialidade, a sinodalidade e uma certa descentralização“.
Claire Lesegretain
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