01, 02 e 03: Filhos dão cada vez mais dores de cabeça a Bolsonaro
A última semana da política brasileira foi marcada pela controvérsia em torno de Fabrício Queiroz, o assessor, motorista e segurança do senador eleito Flávio Bolsonaro, acusado de efetuar transações financeiras muito acima das suas posses, incluindo transferências para a mulher de Jair Bolsonaro, a futura primeira-dama Michele, e para a própria filha, que fez parte do gabinete do deputado entretanto eleito presidente. Até Flávio, portanto, considerado o mais sereno e afável dos três filhos políticos do capitão do Exército, dá dores de cabeça ao pai.
O episódio – longe de estar completamente esclarecido e por isso com potencial para pairar sobre o novo governo por muito tempo –
é apenas o último de uma série de confusões
em que Flávio (37 anos), Carlos (36) e Eduardo (34)
se meteram para desespero de Jair e da restante equipa do presidente eleito.
♦ Flávio, que foi deputado estadual e candidato à prefeitura do Rio de Janeiro e será agora senador, só fora notícia além da sua atividade parlamentar por ter alvejado um assaltante durante o tiroteio que se seguiu a uma tentativa de roubo do seu carro, em 2016, e por ter corroborado as declarações do pai a propósito da homossexualidade.
“O normal é ser heterossexual”, afirmou. E acrescentou que duvidava que “algum pai tenha orgulho de ter um filho gay”. Nenhum dos episódios terá desagradado o progenitor, pelo contrário,
daí a surpresa por 01, como é chamado pelo pai,
ter criado agora este embaraço ao governo,
através do assessor que é seu amigo pessoal e de toda a família.
♦ Carlos, o 02, segundo a nomenclatura familiar, que também lhe chama de pitbull (é considerado um elogio), é mais propenso a polémicas. Se nos restringirmos apenas às últimas duas semanas, verificamos que escreveu nas redes sociais que
a morte de Jair Bolsonaro interessava às pessoas que lhe estão mais próximas,
causando uma avalanche de comentários.
Pensou-se que o segundo filho do presidente se referia, na sua enigmática mensagem, a Gustavo Bebianno, que foi presidente do PSL, será secretário da presidência e terá aconselhado Jair a vetar Carlos como novo ministro da Comunicação.
Outra publicação na internet, porém, dá a entender que o alvo de Carlos era outro. Ou eram dois, não se sabe. Escreveu que o deputado Julian Lemos, colaborador e amigo de Bolsonaro acusado de agressão à mulher e à irmã, “quer aparecer”.
“Julian Lemos, a pessoa que se tem colocado como coordenador de Bolsonaro no Nordeste, não é nem nunca foi, os detalhes creio que todos sabem”, escreveu. “Sugerimos que ele pare de aparecer atrás dele, como faz sempre”, concluiu.
O visado respondeu que
respeita a família Bolsonaro,
mas só segue “orientações do presidente”,“Ele me lidera e só aceito o seu comando”, disse Lemos.
♦ Finalmente, Eduardo, a quem o pai chama de 03, dera um importante contributo a Fernando Haddad, candidato do PT, ao ser citado na reta final da campanha eleitoral a dizer que para fechar o Supremo Tribunal Federal bastavam “um cabo e um soldado”. Jair Bolsonaro, confrontado com estas palavras sem saber quem as proferira, disse que o autor “precisava de psiquiatra”. Ao saber que fora o filho sublinhou que ele “é só um garoto”.
Ao regressar de Washington, por onde circulou em reuniões oficiais com um chapéu a dizer “Trump 2022”,o garoto chocou já em Brasília comJoice Hasselmann, deputada, como ele, do PSL de Bolsonaro.
No grupo do aplicativo WhatsApp dos deputados do partido escreveu que
ela “é sonsa” e que chegará no Congresso “com fama ainda maior de louca”.
Ao que Hasselmann ripostou dizendo que Eduardo era “um marmanjo que age como bebê”.
E prosseguiu: “Ponha-se no seu lugar (…) se formos discutir a questão “fama” a coisa vai longe, não envergonhe o que o seu pai criou.”
Ambos disputam a liderança do grupo parlamentar do PSL, ancorados nas votações recorde que alcançaram nas urnas – ele foi o deputado mais votado da história, ela a mulher mais votada de sempre.
“Você fez uma votação estrondosa com o nome que tem, eu também fiz, sem esse nome”, disse Hasselmann.
O senador Major Olímpio, também do PSL, pôs mais lenha na fogueira ao acusar Hasselmann, que enquanto jornalista
foi despedida da revista Veja
e punida por dezenas de plágios,
de ter lançado a conversa particular no WhatsApp para os jornais.
Como se não bastasse ao presidente, Renan Bolsonaro, de 19 anos, o seu quarto filho, único do segundo casamento, já avisou que quer entrar para a política.
São Paulo
João Almeida Moreira
Jornalista português, é correspondente no Brasil dos jornais Diário de Notícias e A Bola, entre outros.
Leave a Reply