Francesco A. Grana – Vaticanista – 5-12-2018
Foto: Daqui – Tradução: Orlando Almeida
“Quantas vezes vemos que, durante a homilia,
- alguns adormecem,
- outros conversam
- ou saem para fumar um cigarro”.
Quem diz isto não é um anticlerical, mas o Papa Francisco.
“Um padre dizia-me – contou Bergoglio aos fiéis – que uma vez ele tinha ido a outra cidade onde seus pais moravam e que seu pai lhe tinha dito: ‘Sabes, estou contente, porque eu e os meus amigos encontrámos uma igreja onde a missa é celebrada sem homilia!’”.
O problema, na verdade, está longe de ser de pouca monta.
“Quem faz a homilia – explicou o papa – deve desempenhar bem o seu ministério. Quem prega, o sacerdote ou o diácono ou o bispo, deve oferecer um verdadeiro serviço a todos os que participam da missa, mas aqueles que escutam também devem fazer a sua parte”.
Francisco deu conselhos práticos para evitar homilias soporíferas.
“Antes de mais nada – sublinhou o papa – prestando a devida atenção, ou seja, assumindo as disposições internas corretas, sem pretensões subjetivas, sabendo que todo pregador tem qualidades e limites. Se às vezes há motivos para se ficar entediado com uma homilia longa ou fora do tema ou incompreensível, outras vezes é o preconceito que se torna um obstáculo.
E quem faz a homilia deve estar ciente de que
- ele não está fazendo algo próprio,
- está pregando, dando voz a Jesus,
- está pregando a palavra de Jesus.
E a homilia deve ser bem preparada, deve ser breve!”.
Não deve apenas ser breve mas, além disso, também deve não ser improvisada.
- “E como é que se prepara uma homilia?
- Com a oração, – explicou o Papa – com o estudo da palavra de Deus
- e fazendo uma síntese clara e breve;
- não deve ir além de dez minutos, por favor”.
Ao tema da homilia, Francisco dedicou também muitas páginas do seu documento programático, a exortação apostólica Evangelii Gaudium (n.os 135-144 e 145-175 – NdR). Mas, dando uma volta nas igrejas, pelo menos nas italianas, (e também em muitas brasileiras – NdR), parece que na maioria dos casos estes valiosos conselhos do Papa não foram minimamente acolhidos.
Foi exatamente para ajudar os diáconos, os padres e os bispos a preparar as suas homilias, que monsenhor Giuseppe Liberto, maestro diretor emérito da Capela musical Pontifícia Sistina, publicou um livro intitulado Il giubilo della lode. Meditazioni per l’anno liturgico – A alegria do louvor. Meditações para o ano litúrgico (Paulinas). Da pena refinada de um dos maiores especialistas mundiais no campo litúrgico musical saíram as páginas que contêm as reflexões para todos os períodos do ano: do Advento ao Natal, da Quaresma à Páscoa, e de outras numerosas solenidades.
Longe de ser um texto estritamente homilético, as meditações de monsenhor Liberto alargam-se do campo teológico ao bíblico, até à dimensão litúrgica com as suas várias facetas, in primis a musical. Tudo numa perfeita harmonia que não carece sequer de uma dimensão poética. O volume é realmente um instrumento precioso, seja para os que são chamados a preparar a homilia seja para uma celebração, mas é também um companheiro de viagem útil para aprofundar os mistérios da vida de Jesus ao ritmo cadenciado do ano litúrgico.
De fato, como Bergoglio explicou,
“a homilia
- não pode ser um espetáculo de entretenimento,
- não responde à lógica dos recursos da mídia,
- mas deve dar fervor e significado à celebração.
É um gênero peculiar, uma vez que
- é uma pregação dentro da moldura de uma celebração litúrgica:
- consequentemente deve ser breve
- e evitar parecer-se com uma conferência ou uma lição.
O pregador pode ser capaz de manter vivo o interesse do povo por uma hora, mas assim a sua palavra torna-se mais importante do que a celebração da fé. Se a homilia se prolonga demais, prejudica duas características da celebração litúrgica:
- a harmonia entre as suas partes
- e o seu ritmo”.
Indicações valiosas que deveriam, no entanto, ser aplicadas concretamente.
Francesco Antonio Grana
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