Jairo del Agua – 12.11.18
Imagem: Jesus expulsa mercadores do Templo
“Devoram os bens das viúvas, fingindo fazer longas orações. Eles serão julgados com muita severidade” (Mt 12,40).
Enquanto esperava, ouvi estekmnm,diálogo numa paróquia de Madrid:
– Quanto custa uma missa agora? Já faz um tempo que eu não encomendo nenhuma.
– Subiram para 8 euros – respondeu a pessoa encarregada do livro de intenções.
– Ah bem! Tenho 100 euros para as almas. Para quantas missas me dá?
– Para 12 missas e sobram 4 euros.
A sacristã tinha usado calculadora sem mostrar a mínima alteração. Estava fazendo a coisa certa: ajudar aquela velhinha a livrar-se do seu dinheiro por uma “miserável e errada devoção mercantilista“…
Confesso que me senti constrangido, envergonhado, confundido. Tanto pela velha tradição de querer empurrar a “insuficiente” Misericórdia divina, como por tentar “comprá-la” com dinheiro. Perguntei a mim mesmo: Esta é a minha Igreja? Vendem-se Missas aqui?
O vigário questionado. Foto: Daqui
Um vigário espertinho certamente me responderia:
– Não! Aqui não vendemos nada! Não se trata de um pagamento, mas de um “estipêndio“.
– Ah, isso é outra coisa! Bem, vejamos o que significa estipêndio segundo a RAE [Real Academia Espanhola, ndt]: “Pagamento ou remuneração que se dá a alguém por algum serviço”. Pois bem, ainda continua sendo um pagamento!
– Não, cara, não, há outras acepções!
O dicionário [da RAE] também diz: “Taxa pecuniária, fixada pela autoridade eclesiástica, que os fiéis dão ao sacerdote para que reze a missa por certa intenção”.
– Entendo. O estipêndio não é um pagamento, é uma taxa. E o que é uma taxa? Voltamos ao dicionário e lemos: “Ação e efeito do taxar”. Pois eu continuo não concordando, Sr. Vigário. Desde quando se podem ‘taxar’ as coisas sagradas ?
– Não, cara! Continua a procurar!
– Sim, aqui diz: Taxa = “Tributo que se impõe ao gozo de certos serviços ou ao exercício de certas atividades”. Agora sim, está claro! Para que o vigário mencione o nome dos meus falecidos na missa, tenho de pagar um tributo. Hum! Estanho, não?
Imagem: vigário chateado com as perguntas indiscretas / periodistadigital
O meu imaginário vigário interlocutor ficou vermelho como um tomate e permaneceu em silêncio. Mas eu insisto, esperando que o meu bom senso encontre alguma explicação para tal tributo.
– Ouça, Sr. Vigário, e o pagamento desse tributo é obrigatório ou voluntário, moral ou imoral?
Nos meus tempos de juventude, ensinaram-me que “a compra ou venda deliberada de coisas espirituais, como sacramentos e sacramentais, ou temporais inseparavelmente ligados às espirituais, como prebendas e benefícios eclesiásticos” constituem um gravíssimo pecado que se chamaa “simonia” por ter sido Simão, o Mago, o primeiro a tentar fazê-lo (At 8,18). E um tributo não deixa de ser um pagamento.
– Sabes o que te digo, cabeça-dura? Que és um leigo ignorante! Que confundes as coisas e a reta intenção da Igreja. Que já Lutero dizia algo parecido e olha como terminou. Que nós vigários também precisamos dos bens materiais para nos mantermos. Que é uma esmola e não um tributo. Que…
– Não fique com raiva Sr. Vigário! É muito bom refletir para identificar os nossos erros e corrigí-los.
Além disso quero saber a “resposta oficial” à pergunta da minha amiga Petri:
– O “pagamento” de uma Missa me dá direito de exigir que digam o nome do meu falecido marido ou não?
E dando uma de bobo:
– Então eu ficarei no purgatório “in secula seculorum” porque não tenho quem ‘me pague’ Missas quando eu morrer?
Mesmo depois de mortos, os ricos têm mais sorte…!
– Tá,tá, tá… Vai para o inferno!
O meu imaginado vigário – bastante mais real do que se possa pensar – ficou sem palavras. Agora parece que o errado sou eu por me escandalizar com um verdadeiro escândalo!
Pois bem, vou continuar sem dar um centavo quando for pedir uma Missa! Claro que também continuarei a raspar a minha conta bancária para dar à Igreja a contribuição que me parecer prudente e generosa, sem contraprestações de longas orações, sem “gregorianas”a ou “rezadas”b. Simplesmente porque sim, a Igreja – a minha Igreja – é deste mundo e tem necessidades materiais que devem ser cobertas pelos seus fiéis.
Mas de modo algum aceitarei que se continue a escandalizar e a praticar o que é contrário ao mais mínimo sentido cristão! Não com a minha colaboração!
Coisas assim são as que precisam de reforma urgente, de purificação imediata. É por aí que se deve começar. Seria tão fácil!
- São temas que não afetam o Dogma nem a Moral (exceto quando a contrariam como neste caso)
- e que geralmente costumam ficar encobertas pela rotina,
- que algumas confundem com tradição.
Quando falo em voltar ao Evangelho, falo – para “começar a andar” (Jo 5,8) – de extirpar essas aderências cancerígenas que temos enraizadas nos símbolos e costumes da nossa Igreja.
Que persistência e teimosia – por exemplo – a dos nossos prelados
- em se mostrar com “sinais oficiais“
- de poder e supremacia medievais!
Ou o exemplo contrário: com que rapidez aderiram tantos clérigos à minha vulgar gravata leiga e apagaram a sua “presença” na sociedade!
E como estão tardando todos a desprender-se e a desprender-nos das “tradições de lama”!
Pobres católicos, tão rígidos, exigentes e intolerantes em algumas coisas, e tão frouxos e inconsistentes em outras! Nós… os melhores, os verdadeiros, os eleitos… Como precisamos passar por uma conversão e renovação urgente! “Mea culpa, me culpa, mea maxima culpa” …
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… Cartaz que aparece na Paróquia de um padre amigo: ….
Imagem: daqui
. . . . # # # NÃO É POSSÍVEL PAGAR UMA MISSA # # #. . . . .
A Eucaristia é “fonte e culminância de toda a vida cristã”. É o compêndio da nossa fé, ação de graças, adoração e louvor ao Pai. É o banquete do Senhor e expressão da unidade de toda a Igreja que segue o seu mandato: “fazei isto em memória de mim”. Na santa Missa partilhamos o Pão e a Palavra, dispondo-nos a seguir o caminho do Evangelho.
E isto não pode ser comprado nem vendido.
Por isso, NESTA PARÓQUIA, não se recebe dinheiro pela celebração da santa Missa. Celebra-se sempre tendo presentes as intenções de quem o solicita e de todos os fiéis.
Quem reconhece o dever cristão de cooperar com as despesas da paróquia, entrega a sua oferenda na forma que melhor lhe convenha.
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– Comentário por Jairo [Blogger] 14.11.18
O Papa Francisco presidiu nesta sexta-feira a missa da manhã na Casa Santa Marta, onde fez uma advertência sobre as “tabelas de preços” nos templos, ao considerar que se corre o risco de pagar os sacramentos ao invés de fazer uma oferta que passe despercebida.
Ao refletir sobre a passagem do Evangelho de São João na qual Jesus expulsa os mercadores do templo, o papa observou que na mente desses vendedores “está o ídolo de dinheiro e os ídolos são sempre de ouro. E os ídolos escravizam”.
“Isso nos chama a atenção e nos faz pensar em como tratamos os nossos templos, nossas igrejas.
- Se realmente são casa de Deus, casa de oração, de encontro com o Senhor,
- ou se os padres favorecem isso ou se se parecem com mercados” – disse ele.
“Às vezes tenho visto – não aqui em Roma, mas em outros lugares – uma lista de preços.
- “Mas, como? Os sacramentos são pagos?
- Não, é uma oferenda.
- Mas se querem dar uma oferenda – que devem dar –
- que a ponham na cesta das oferendas, escondidos, que ninguém veja quanto dão” – declarou.
“Também hoje há este perigo.
- ‘Mas devemos manter a Igreja’.
- Sim, sim, é verdade. Que os fiéis a mantenham, mas na cesta das oferendas,
- não com uma lista de preços” – advertiu.
NOTAS:
a Missas gregorianas – missas que em sufrágio de um defunto se dizem durante 30 dias seguidos e, geralmente, imediatamente após o enterro. – [Diccionario de la lengua española – Ed. RAE]
b Misa rezada – missa que se celebra sem canto. – [Idem, idem]
Jairo del Agua
Fonte: http://blogs.periodistadigital.com/jairodelagua.php/2018/11/12/icuanto-cuesta-una-misa-
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