A reportagem é publicada pro Il Sismografo, 18-10-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nessa quarta-feira, de acordo com a imprensa brasileira,
- o cardeal recebeu no arcebispado uma visita do candidato presidencial Jair Bolsonaro,
- que, depois, disse à imprensa – na presença do próprio cardeal (ver vídeo abaixo) – que teria sido assinado no encontro um compromisso em favor da vida e da família,
compromisso que, à luz do momento político que vive o país, parece ser claramente de natureza propagandística e eleitoral. Portanto, surpreende que o purpurado não teve nenhuma reação imediata.
No vídeo, pelo menos no que foi distribuído pelo comitê eleitoral de Bolsonaro, não se vê que o cardeal Tempesta tenha feito qualquer esclarecimento.
O candidato à presidência do Brasil, conhecido no país e no mundo como
- um perigoso extremista de direita,
- abertamente pró-fascista e nostálgico do nazismo,
- racista e homofóbico,
- e entusiástico defensor da política que quer abrir a Amazônia ao capital estrangeiro,
continuou ressaltando a assinatura desse entendimento.
Candidato do PSL bate continência a Dom Orani Tempesta (Foto: Igreja – Povo de Deus – Em Movimento)
Bolsonaro também foi um violento anticatólico, embora hoje faça de tudo para esconder esse seu passado e para aparecer como um homem de fé, respeitoso do magistério da Igreja.
Consequentemente, Bolsonaro
- não se lembra, ou finge não se lembrar,
- daquilo que disse no passado sobre os bispos brasileiros,
- que, na sua opinião, sempre foram cúmplices do comunismo latino-americano.
Funcionárias da arquidiocese fazem sinais de armas de fogo com os dedos diante de uma imagem do Sagrado Coração de Jesus, por ocasião da visita do candidato do PSL ao cardeal do Rio de Janeiro (Foto: Igreja – Povo de Deus – Em Movimento)
É incrível que o cardeal Tempesta tenha passado por cima de tudo isso. Ao invés disso, parece que o purpurado descobriu a necessidade, para a Igreja brasileira, de assinar um acordo com esse político em defesa da família e contra o aborto.
Orani Tempesta pensa, talvez, que a vida e a família são defendidas com o apoio daqueles
- que propõem executar sem processos os traficantes de drogas,
- que quer mandar o Exército para as favelas mais violentas
- e que deseja o restabelecimento da pena de morte?
De acordo com as declarações Bolsonaro, expressadas com o cardeal Tempesta ao seu lado, que ficou sempre em silêncio, o acordo comprometeria os signatários de maneira formal e aparentemente oficial:
“Assinamos um compromisso
- em defesa da família,
- em defesa da inocência da criança em sala de aula,
- em defesa da liberdade das religiões,
- contrário ao aborto,
- contrário à legalização das drogas”.
Foi isso que Bolsonaro disse.
A imprensa local não menciona as palavras do cardeal Tempesta. A arquidiocese não publicou nenhum esclarecimento.
Espera-se uma resposta do cardeal Tempesta, até porque não há dúvida de que a Igreja pode e deve defender a vida e a família, lutar contra o aborto e a produção, tráfico e consumo de drogas, sem se “aliar” com esse tipo de políticos latino-americanos.
Il Sismografo
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Gente boa, eu não entendo duas coisas (entre outros mil que também não entendo):
Para que um compromisso “em defesa da inocência da criança em sala de aula” quando está mais do esclarecido, entre outros até pelo TSE, que o tal “kit gay” nunca existiu, que somente havia um plano de umas instruções para professores de crianças a partir de 12 anos (6. ano escolar) sobre bullying, identidade de gênero e sexualidade, plano que foi anulado pela Presidente Dilma.
E para que um compromisso em defesa da família? Quem ameaça a família? Desde quando ela é ameaçada? Escuto o tempo todo “temos que salvar a família”. De que e de quem? Se não me engano este “grito” começou com a chegada em evidência da diversidade de sexo e de gênero. Mas, pergunto eu, em que os LGBT ameaçam a família?? Conheço tantas famílias que vivem em paz com a realidade que Deus lhes deu um filho gay, uma filha lésbica ou um filho trans. O que ameaça a família é a homofobia. Se os pais expulsem os seus filhos “diferentes” do lar, então a família é destruída.
Deveriam mas é falar contra o uso exagerado de celulares. Isto sim, pode destruir a vida familiar. Vejo, quando raras vezes vou com o meu marido para um restaurante, chegando famílias onde cada um, pai, mãe e filhos tem o seu celular e em vez de conversarem entre si, cada um só olhe para o celular……