Manuel Carvalho – Foto: HuffPost Brasil
A ferida aberta no consenso democrático com essa manobra jamais curou e permanece aberta com o drama da escolha entre Bolsonaro e Haddad. Um e outro representam o extremo da fractura social e política do Brasil.
- Ganhe quem ganhar,
- nenhum terá a protecção do consenso nem do compromisso:
- terá de sobreviver ao ódio e ao ressentimento
O cenário das eleições presidenciais brasileiras do próximo fim-de-semana faz parte da lista dos acontecimentos impossíveis de todos os que tentaram adivinhar o futuro nos (apesar de tudo e da destituição de Collor de Mello) esperançosos anos de 1990.
Quando os dois candidatos que lideram as sondagens representam:
- um, o passado traumático,
- e, outro, o futuro baseado na intimidação e na violência,
é difícil falar num novo ciclo e na possibilidade de o gigante de língua portuguesa renascer dos seus desencantos.
Fernando Haddad e Jair Bolsonaro representam
- mais um ajuste de contas com o passado
- do que qualquer projecto capaz de resgatar o Brasil dos seus dilemas.
Mas representam também uma oportunidade única
- para se analisarem as fragilidades da democracia.
- E para se aprender com elas.
O Brasil que vai eleger Bolsonaro e Haddad para a segunda volta das eleições é o reflexo da corrupção e de uma desesperada estratégia de subversão da democracia para a combater.
- Quando os brasileiros reelegeram Dilma Rousseff em 2015,
- já a operação Lava-Jato, uma colossal colecção de actos de corrupção em torno da estatal Petrobras, estava em curso.
Para agravar o cenário,
- a economia afundava-se
- e as classes médias perceberam que o PT no poder era incapaz de responder aos seus anseios e aos dilemas do país.
Perdida a possibilidade de mudar a ordem das coisas nas urnas,
- a maioria dos membros do Congresso
- associada à imprensa
- e à pressão da população urbana das grandes cidades
- destituiu Dilma com facilidade — bastou procurar um delito menor, as “pedaladas fiscais”, para o conseguir.
A ferida aberta no consenso democrático com essa manobra jamais curou e permanece aberta com o drama da escolha entre Bolsonaro e Haddad. Um e outro representam o extremo da fractura social e política do Brasil.
- Ganhe quem ganhar,
- nenhum terá a protecção do consenso nem do compromisso:
- terá de sobreviver ao ódio e ao ressentimento.
Ao libertar o fantasma do golpe, mesmo que um golpe com cobertura constitucional,
- o Brasil abriu uma caixa de Pandora
- e vê-se forçado a escolher hoje entre o mau e o horrível.
Fica a lição. A democracia fundada na soberania popular ainda é o melhor meio de solucionar os problemas. Mesmo num país devastado pela corrupção e pela incompetência.