Em vez de cair, o número de pobres e de indigentes (extrema pobreza) subiu”, escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 13-08-2018.
Eis o artigo.
Fonte: EcoDebate
A economia brasileira vive a sua mais longa e mais profunda recessão da história republicana. Um dos resultados
- é o aumento da pobreza
- e da extrema pobreza
- devido à queda da renda per capita
- e ao aumento do desemprego que atingem a população mais carente.
É o que mostra o gráfico acima, retirado do Relatório LUZ 2018, do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para Agenda 2030.
O número de pessoas na pobreza, no Brasil,
- em 1993, estava em 45,6 milhões de indivíduos.
- Este número caiu para menos de 40 milhões depois do lançamento do Plano Real (e da redução da inflação)
- e chegou a 41,8 milhões em 2003.
Com
- a retomada do crescimento econômico durante o superciclo das commodities
- e ao aumento do gasto social
- a exclusão social caiu rapidamente
- e o número de pessoas em situação de pobreza diminuiu para 14,1 milhões de pessoas em 2014.
Mas depois do estelionato eleitoral de 2014 e no segundo mandato da dupla Dilma-Temer, a pobreza voltou a subir,
- chegando a 17 milhões em 2015,
- 21,6 milhões em 2016
- e cerca de 22 milhões em 2017.
A indigência teve comportamento semelhante.
O número de pessoas na extrema pobreza no Brasil,
- em 1993, estava em torno de 20 milhões,
- caindo para algo em torno de 14 milhões depois da implantação do Plano Real.
- Em 2013, estava em torno de 13 milhões
- e caiu para 5,2 milhões de pessoas em 2014.
Mas o número de pessoas em situação de extrema pobreza aumentou para 6,4 milhões em 2015, 10 milhões em 2016 e 11,8 milhões em 2017.
Não há dados ainda para o ano de 2018, mas
- a expectativa de retomada da economia e do emprego
- não está ocorrendo conforme previa o governo
- e, provavelmente, o número de pessoas em situação de pobreza e de indigência aumente também em 2018.
Ainda mais com a desvalorização cambial. Ou seja, o Brasil está regredindo no que diz respeito ao objetivo número 1 dos ODS.
A redução da pobreza é um processo que vem ocorrendo no longo prazo no Brasil. Avanços civilizacionais têm melhorado a qualidade de vida dos cidadãos em termos de renda, educação e saúde, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial. Não sem novidade, a maior redução da pobreza no Brasil ocorreu nos tempos do chamado “milagre econômico” e da “economia em marcha forçada”, isto é entre o final da década de 1960 e o ano de 1980.
A pesquisadora Sonia Rocha, em texto publicado no XXV Fórum Nacional do BNDES, em maio de 2013, documentou o processo de redução da pobreza no Brasil entre 1970 e 2011.
- Na década de 1970, a proporção de pobres no país caiu fortemente de 68,4% em 1970 para 35,3% em 1980.
- A pobreza voltou a subir durante a recessão ocorrida no governo Figueiredo, entre 1981 e 1983.
- Caiu especialmente durante o processo de congelamento de preços do Plano Cruzado
- e voltou a subir para a casa de 30% durante a recessão dos governos Sarney e Collor.
- Depois do governo Itamar, a pobreza foi reduzida para algo em torno de 20%
- e chegou ao nível mais baixo, em torno de 10% no final do governo Lula.
Portanto, a pobreza vem caindo no Brasil no longo prazo, mas não de forma linear. A experiência passada mostra que nas crises econômicas a pobreza sobe e volta a cair na retomada da economia. Contudo,
- este padrão pode não se repetir na atualidade,
- pois a atual recessão é a mais longa e profunda
- e a que tem mostrado o ritmo mais lento de recuperação.
Além do mais, o melhor período do bônus demográfico já passou e a janela de oportunidade começou a se fechar.
Oxalá o próximo governo, a ser eleito em 2018, consiga por ordem na casa e possa cumprir com as metas acordadas na Agenda 2030 da ONU. Porém, o nível do debate eleitoral até o momento não tem gerado muito otimismo no eleitorado.
O país utópico do futuro sem pobreza está cada vez mais distante e o Brasil distópico é a realidade que insiste em permanecer presente.
Referências:
- IBASE et. al. Relatório LUZ 2018. Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para Agenda 2030.
- ROCHA, Sonia. Pobreza no Brasil – A Evolução de Longo Prazo (1970-2011). XXV Fórum Nacional – BNDES. RJ, 13-16 de maio de 2013.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/581771-aumenta-a-pobreza-e-a-extrema-pobreza-no-brasil
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