A reportagem é de Il Sismografo, 13-07-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A prisão do presbítero chileno Oscar Muñoz Toledo, na quinta-feira passada, a primeira prisão de um sacerdote nos inúmeros casos de abuso sexual na Igreja nos últimos anos, poderia criar muitos problemas jurídicos para o cardeal Ricardo Ezzati, atual arcebispo de Santiago do Chile, à frente da diocese em regime de prorrogação (ele já tem 76 anos e meio de idade), e talvez entre aqueles que em breve deixarão o cargo.
O purpurado poderia ser arrastado perante os juízes com uma acusação muito pesada e grave:
- ter exercido sua autoridade eclesiástica
- para ocultar e encobrir diversas denúncias de abuso sexual por parte de membros do clero.
A questão, em primeiro lugar, diz respeito à relação entre o arcebispo Ezzati e o Pe.Oscar Muñoz Toledo, até janeiro passado chanceler (isto é, “escrivão”) da arquidiocese da capital chilena, qualidade na qual, entre outras coisas, ouviu e oficializou declarações contra o sacerdote Fernando Karadima por parte de uma das vítimas mais conhecidas: o filósofo e escritor Andrés Murillo.
Cardeal Ezzati. Foto: youtube.com
De acordo com o que o cardeal Ezzati publicou em maio passado no site da diocese, o Pe. Muñoz Toledo, no início do ano, havia denunciado a si mesmo por abusos sexuais de menores. Obviamente, dizia o comunicado, o padre foi imediatamente afastado e suspenso do exercício público do ministério sacerdotal.
Em junho passado, o procurador de O’Higgins, Emiliano Arias, que está investigando esse caso, mas não porque tenha havido uma denúncia da hierarquia, ordenou duas investigações importantes:
- uma nos escritórios do ex-chanceler no palácio arquiepiscopal de Santiago
- e outra na sede da diocese da cidade de Rancagua (região de O’Higgins).
Nos dois casos, a polícia levou consigo muitos documentos importantes, hoje na base da ordem que permitiu a prisão do sacerdote. No caso da investigação de Santiago,
- vieram à tona denúncias contra o ex-chanceler,
- concretamente sete casos de abuso e estupro de crianças e adolescentes de 11 a 17 anos no período de 2002 a 2018,
- mas eram denúncias escondidas e acobertadas pelo próprio chanceler (pessoa acusada e, ao mesmo tempo, pessoa encarregada de guardar as acusações contra ele e iniciar as investigações).
A procuradoria que investiga, considera que
- nada disso poderia ter sido feito
- sem o conhecimento e o consentimento do cardeal Ezzati,
- superior direto do sacerdote,
- e, portanto, agora estuda a fundo os documentos para tomar uma decisão que poderia ser surpreendente.
O procurador Arias, falando com os jornalistas, revelou inúmeros detalhes que destacam a delicadeza do caso. Ele disse que alguns abusos e estupros foram cometidos até mesmo com violência física, e que é evidente que o padre, em todas as suas ações,
- abusava ferozmente do seu poder ministerial,
- inclusive da sua qualidade de confessor,
- e conseguia controlar ou dominar a consciência das vítimas.
Esses abusos, inúmeros no caso de cada uma das vítimas, ocorriam regularmente em lugares como
- igrejas,
- casas paroquiais
- ou sedes eclesiásticas,
- assim como em casas particulares, às quais o sacerdote tinha acesso porque era considerado um homem sério, honesto e respeitável.
Nas casas particulares, ele se apresentava com a desculpa de dar assistência espiritual à vítima, talvez por estar doente.
O procurador Arias disse que
- o padre, no fim do processo, se não houver reviravoltas,
- poderá enfrentar uma condenação de 10 a 15 anos de prisão.
Ele acrescentou que
- uma pena pesada também é esperada
- por todos aqueles em relação aos quais ficar comprovado
- que encobriram, ocultaram ou acobertaram.
O cardeal Ezzati, neste momento, por meio de uma declaração pública, expressou solidariedade, proximidade e participação às vítimas e aos seus familiares, e, ao mesmo tempo, renovou sua total disponibilidade pessoal e da Igreja local para colaborar com a Justiça em cada momento e em tudo o que for necessário.
Il Sismografo
Fontes:
http://ilsismografo.blogspot.com/2018/07/cile-la-vicenda-giuridica-del-sacerdote.html#more
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