Eis o artigo.
O capital aos poucos vai conseguindo se desamarrar de toda e qualquer regulação na sua relação com o trabalho. Houve um tempo em que se pensou o contrário, que os ganhos do lado do trabalho aumentariam.
Tinha-se a ideia de
- que redução da jornada de trabalho era uma questão de tempo,
- que as negociações coletivas dariam mais força ao trabalhador,
- que as proteções sociais seriam ampliadas.
- Nunca se imaginou que conquistas pudessem ser subtraídas, sempre se pensou na ampliação de direitos e não em sua diminuição.
Gerações de trabalhadores e as suas incansáveis lutas após a Revolução Industrial conseguiram impor limites à voracidade do capital. Até mesmo algo pouco provável foi conquistado: a previdência social.
- Imagine-se que em determinado momento, os trabalhadores levantaram a sua voz para afirmar
- que não queriam morrer trabalhando,
- que tinham o direito de desfrutar um final de vida com renda e com o controle sobre o seu tempo livre.
Ao capital
- isso soou como algo absurdamente despropositado.
- Imagine alguém ganhar sem trabalhar, absolutamente impossível.
Pois bem, essa foi talvez uma das conquistas mais civilizatórias da humanidade,
- o direito de após uma vida de trabalho,
- poder descansar em paz e com renda garantida.
Agora tudo está ruindo. A retração é gigantesca.
- Retornamos aos tempos do surgimento do capital
- em que praticamente tudo era válido,
- inclusive a exploração de mulheres e crianças levadas aos limites da exaustão.
No caso brasileiro, o tamanho da derrota imposta pelo capital ao trabalho
- assemelha-se à imagem de uma fábrica do início da Revolução Industrial,
- em que se veem trabalhadores e trabalhadoras desprotegidos,
- a mercê do furor do capital,
- sem a quem recorrer,
- sem sindicatos,
- sem ninguém a não ser a solidariedade entre os próprios trabalhadores.
A reforma trabalhista no Brasil e ainda antes dela, a terceirização sem limites, nos empurra para tempos sombrios no mundo do trabalho.
- Não há mais garantias,
- tudo se faz num ambiente crescente de insegurança, desproteção, vulnerabilidade.
Tudo se reduz, direitos e renda.
- Ampliação da flexibilização,
- avanço do trabalho intermitente com remuneração variável,
- jornada de trabalho em que o tempo econômico, sem avisar, invade o tempo livre.
Todo o poder discricionário está com o empregador.
- É ele que estabelece de forma unilateral as condições de uso, contratação e remuneração do trabalho.
- O Estado e os sindicatos pouco podem e até mesmo a justiça do trabalho, outrora aliada dos trabalhadores, dá sinais que se coloca contra eles.
A desfaçatez e hipocrisia do capital não têm limites. Argumentou-se
- que a reforma trabalhista seria boa para os trabalhadores,
- que ampliaria o emprego e as possibilidades de renda.
A realidade mostra o contrário. O total de trabalhadores com carteira assinada no setor privado caiu ao menor patamar já registrado na pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, que teve início em 2012. Por outro lado, a nova legislação está gerando empregos precários com redução de direitos e com salários mais baixos. A contratação de trabalhadores por salários mais baixos levou a Previdência Social a registrar a primeira queda real na arrecadação em 10 meses, segundo dados da Receita Federal e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Não há que se comemorar nesse 1º de maio.
Cesar Sanson
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/578488-1-de-maio-nada-para-se-comemorar
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