
Meu sentido do mundo me diz que se não tomarmos absolutamente a sério dois fatores fundamentais, podemos conhecer cataclismas ecológico-sociais de dimensões dantescas: o fator ecológico, de teor mais objetivo e o resgate da razão sensível de viés mais subjetivo.
Quanto ao fator ecológico: em sua grande maioria a macroeconomia ainda alimenta a falsa ilusão de um crescimento ilimitado, no pressuposto ilusório de que a Terra dispõe de recursos igualmente ilimitados e que possui ilimitada resiliência para suportar a sistemática exploração a que é submetida.
A maldição do pensamento único mostra soberano desdém aos efeitos negativos em termos de
- aquecimento global,
- devastação de ecossitemas,
- escassez de água potável
- e outros, tidos como externalidades, vale dizer, dados que não entram na contabilidade das empresas.
Esse passivo é deixado para o poder estatal resolver. O que deve ser garantido de qualquer forma é o lucro dos acionistas e a acumulação de riqueza em níveis inimagináveis que deixaria Karl Marx enlouquecido.
A gravidade reside no fato de que as instâncias que se ocupam com o estado da Terra, por parte dos organismos mundiais como a ONU ou mesmo nacionais que denunciam a crescente erosão de quase todos os ítens fundamentais para a continuidade da vida (uns 13), não são tomados em conta.
A razão é que
- são anti-sistêmicos,
- prejudicam o crescimento do PIB
- e os ganhos das grandes corporações.
Os cenários projetados por sérios centros de pesquisa são cada vez mais perturbadores. O aquecimento, por exemplo, não cessa de aumentar como se afirmou agora em Marrakesch na COP 22. A temperatura global de 2016 ficou 1,35 C acima do normal para o mês de fevereiro, a mais alta dos últimos 40 anos. Os próprios cientistas como David Carlson da Organização Meteorológica Mundial, uma agência da ONU, declarou: “isso é espantoso…a Terra certamente é um planeta alterado”.
Tanto a Carta da Terra quanto a encíclica do Papa Francisco Laudato Si: como cuidar da Casa Comum alertam sobre os riscos que a vida corre sobre o planeta. A Carta da Terra (grupo animado por M. Gorbachev, do qual tenho participado) é contundente: ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscamos a nossa destruição e a da diversidade da vida”.
Nos debates sobre economia, em quase todas as instâncias, os riscos e o fator ecológico sequer são nomeados. A ecologia não existe, mesmo nas declarações do PT, nas quais a palavra ecologia sequer aparece. E assim, gaiamente, poderemos trilhar um caminho sem retorno, por igorância, irresponsabilidade e cegueira produzida pela volúpia da acumulação de bens materiais.
Donald Trump declarou que o aquecimento global é um embuste e que cancelará o acordo de Paris, já assinado por Obama. Paul Krugman, Nobel de economia, já alertou que tal decisão poderá significar um grave dano aos USA e ao planeta inteiro.
Conclusão: ou incorporamos o dado ecológico em tudo o que fizermos, ou então nosso futuro não estará garantido. A estupidez da economia só nos cega e nos prejudica.
Mas esse dado científico, fruto da razão instrumental analítica, não é suficiente, pois ela friamente analisa e calcula e entende o ser humano fora e acima da natureza que pode explorá-la a seu bel-prazer. Temos que completá-la com o outro fator, o resgate da razão sensível, a mais ancestral em nós.
Nela reside
- a sensibilidade,
- o mundo dos valores,
- a dimensão ética e espiritual.
Ai residem as motivações para cuidarmos da Terra e nos engajarmos por um novo tipo de relação amigável com a natureza,
- sentindo-nos parte dela e seus cuidadores,
- reconhecendo o valor intrínseco de cada ser,
- e inventando outra forma de atender nossas necessidades e o consumo com uma sobriedade compartida e solidária.
Temos que articular os dois fatores: o ecológico (objetivo) e o sensível (subjetivo): caso contrário dificilmente escaparecemos, mais cedo ou mais tarde, da ameaça de um colapso do sistema-vida.
Leonardo Boff
escreveu: Cuidar da Terra, proteger a vida: como escapar do fim do mundo, Record 2010.
Fontes: https://leonardoboff.wordpress.com/2016/11/19/a-tolice-das-analises-economicas-atuais/
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