Visita ‘ad limina’ dos bispos alemães ao Vaticano
Os bispos alemães na visita ‘ad limina’ a Roma, durante cinco dias. Foto © Deutsche Bischofskonferenz/Daniela Elpers.
““a Igreja vive de tensões, por isso as tensões fazem parte de uma Igreja viva e em movimento” – disse Francisco aos bispos alemães.
Sem eufemismo nem tibiezas, os bispos alemães expuseram à Cúria romana, durante os cinco dias da sua visita ad limina, os temas sobre os quais o caminho sinodal alemão tomou decisões que nem todos eles aceitam –
- poder na Igreja e participação dos fiéis;
- leitura dos sinais dos tempos;
- reavaliação da doutrina sobre a homossexualidade;
- e acesso da mulher aos ministérios –
temas que
- não resultam de “um debate circular sobre as estruturas da Igreja”,
- mas sim da procura de “formas convincentes de viver a fé na contemporaneidade”
- e de entusiasmar outros a vivê-la.
As expressões são do bispo Georg Bätzing, presidente da Conferência dos Bispos Alemães (DBK, no acrónimo em língua alemã),
- na sua alocução na reunião conjunta com vários dicastérios romanos que teve lugar no dia 18 de novembro
- e sobre a qual foi redigido um comunicado conjunto da Santa Sé e dos bispos alemães.
Bätzing relembrou a resposta dada por Francisco às questões colocados pelos bispos alemães durante o encontro do dia anterior
– “a Igreja vive de tensões, por isso as tensões fazem parte de uma Igreja viva e em movimento”–,
para afirmar:
“Esta é uma boa sugestão para a discussão de hoje”.
Debate em que
“infelizmente, grande parte do povo sinodal – especialmente os leigos – não vai ter oportunidade” de intervir.
Do encontro do Papa com os bispos nada foi dado a conhecer, nem divulgado, como é hábito, qualquer discurso que Francisco tenha feito na ocasião, o que leva a supor que o Papa se tenha remetido a ouvir, fazendo apenas breves comentários ao exposto pelos prelados alemães.
Ao abordar diretamente as tensões e visões contraditórias [ver artigo “Bätzing aos jornalistas: ‘Discussões foram duras, mas civilizadas’”],
- o presidente da DBK fez questão de clarificar que os bispos alemães
- não formam “um ‘bloco’ com uma opinião uniforme, pois existe uma ampla gama de opiniões e opções de ação entre” eles.
Contudo, não se coibiu de colocar o dedo na ferida:
- “o escândalo dos abusos sexuais não deve ser minimizado ou relativizado”
- e se é preciso, em primeiro lugar, cuidar das vítimas, “proteger os menores” e “garantir que não volte a acontecer”,
- é também necessário perceber que “hoje vivemos uma das mais graves crises da Igreja e ao mesmo tempo uma das mais graves crises do ministério sacramental dos sacerdotes e dos bispos”.
Para “recuperar a credibilidade e a autoridade perante os fiéis e a sociedade” é indispensável, frisou Bätzing,
- “uma grande mudança na forma como exercemos o nosso ministério, envolvendo de uma forma séria e tangível, clérigos, religiosos e leigos na tomada de decisões.
- E isto não se aplica apenas à Igreja no nosso país, mas também à Igreja Universal. Pedimos que nos ouçam neste momento de grande apuro”.
Recusada moratória
Os bispos alemães na visita ‘ad limina’ a Roma, durante cinco dias, numa audiência com o Papa Francisco. Foto © Deutsche Bischofskonferenz/Matthias Kopp.
De acordo com a agência Vatican News de dia 19, o cardeal Parolin, secretário de Estado do Vaticano, referiu no seu discurso introdutório da reunião as preocupações suscitadas pelo caminho sinodal alemão, nomeadamente por ele conter o
“risco de [propor] reformas ‘da’ Igreja, mas não ‘dentro’ da Igreja”.
Na resposta, Georg Bätzing passou em revista os trabalhos e as propostas votadas durante o caminho sinodal alemão e destacou os seguintes assuntos:
- “poder e divisão de poderes na Igreja”;
- “participação de todos e saída em missão”;
- “vida sacerdotal hoje”;
- “mulheres nos ministérios e nos trabalhos da Igreja”;
- “viver o amor na sexualidade e no relacionamento de casal”.
Na fase de diálogo aberto foi várias vezes sublinhada a importância e a urgência de definir e aprofundar alguns destes temas.
Por sua vez, segundo o comunicado conjunto, o cardeal Luis Francisco Ladaria, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, e o cardeal Marc Ouellet, Prefeito do Dicastério para os Bispos,
expressaram
“com franqueza e clareza as suas preocupações e reservas quanto à metodologia, aos conteúdos e às propostas do caminho sinodal”,
tendo proposto
“em benefício da unidade da Igreja e da sua missão evangelizadora”,
que
“as questões surgidas até agora sejam incluídas no Sínodo da Igreja universal”.
Alguns bispos alemães defenderam
- “uma moratória no caminho sinodal alemão”,
- isto é, uma suspensão dos efeitos das resoluções tomadas e um adiamento na concretização dessas decisões.
A proposta de uma moratória foi, porém, recusada pela maioria dos prelados presentes, nos processos de escuta em andamento.
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Fonte: https://setemargens.com/bispos-alemaes-insistem-na-sua-agenda-de-temas-fraturantes/
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