Ruralistas ou criminosos? Os métodos fascistas de compra de votos antes do segundo turno das eleições de 2022. Consta que continuaram a apoiar financeiramente e com estrutura, o bloqueio de estradas e a aglomeração na porta dos quarteis pedindo intervenção militar.

Por Mariana Franco Ramos e Luís Indriunas, no De Olho nos Ruralistas – 28/10/2022 às 16:28
Assédio eleitoral é crime, mas o agronegócio não quer nem saber. Para reeleger Jair Bolsonaro (PL) e defender seus próprios interesses, fazendeiros reeditam o voto de cabresto. Eles ameaçam, mentem, fazem chantagens e tentam manter seus funcionários em um curral.
“De Olho nos Ruralistas” levantou denúncias de compra de votos em todas as regiões do país.
Há exemplos de Rondônia à Bahia, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, passando pelo Paraná. À medida que o segundo turno se aproxima, as irregularidades se multiplicam.
São casos como a da sojeira Roseli D’Agostini Lins, presidente da Associação de Produtores Rurais do Alto Horizonte, no oeste da Bahia.
“Eu queria falar algo para os nossos agricultores: façam um levantamento, quem vai votar no Lula e demitam”, disse ela, a colegas. “Demitam sem dó”.
Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), após a divulgação das imagens, o Ministério Público do Trabalho (MPT) na Bahia instaurou um inquérito civil para investigar a possível ocorrência de assédio eleitoral nas declarações da fazendeira.
O órgão tem sido acionado com frequência. O problema é que Roseli é apenas mais uma, entre tantas pessoas que passam por cima da lei para apoiar o capitão.
Também na Bahia, um fazendeiro chegou a obrigar funcionárias a votarem com celular no sutiã.
O assédio partiu de Adelar Eloi Lutz, dono de propriedades rurais em Formosa do Rio Preto, a 756 quilômetros de Salvador. Há registro do crime eleitoral em gravações que circulam em aplicativos de mensagens.
Cyro de Toledo Junior, ou Nelore Cyro, como é conhecido, prometeu pagar 15º salário se Bolsonaro ganhar.
“Eu quero gente que pensa igual a mim e vista a camisa da fazenda”,
afirmou o pecuarista de Araguaçu, no Tocantins.
Muitos desses assediadores têm a “ficha corrida”.
- Cyro já foi multado em R$ 32 mil pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)
- por desmatamento e foi processado por um funcionário que precisava comprar a própria água, como o observatório noticiou:
“Pecuarista que promete 15º salário caso Bolsonaro vença desmatou área de Cerrado“.
No Vale do Guaporé, nos municípios de Rondônia que fazem fronteira com a Bolívia,
- fazendeiros pedem votos pelo WhatsApp
- ligando a possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à perda de terra para os povos indígenas Migueleno e Puruborá.
No Maranhão, em uma das capitais do Matopiba, a ameaça é explícita.
- Um dos irmãos da família Zaltron pede a outros fazendeiros boicote a um empresário local que declarou voto em Lula.
- No mesmo município, outra empresa fornece água potável para moradores de cinco bairros.
- A New Agro defende em carta a reeleição de Bolsonaro.
Dono de frigorífico que espalhou covid entre indígenas responde a dez denúncias
Outro caso emblemático é o da Lar Cooperativa Industrial, de Matelândia (PR), que segundo o MPT responde a pelo menos dez denúncias de assédio eleitoral.
“O caminho melhor para a nossa geração, para os nossos filhos e netos é reeleger o presidente Bolsonaro”,
escreveu o diretor-presidente, Irineo da Costa Rodrigues, em ofício enviado aos trabalhadores.
A procuradora Cláudia Honório informou que existem provas suficientes da prática ilegal.
- “Sendo graves os fatos, e diante da negativa de empregadora em ajustar sua conduta,
- havendo descumprimento da recomendação encaminhada,
- viu-se o MPT compelido ao ajuizamento de ação civil pública”,
determinou, no despacho.

A LAR
- integra a cadeia de financiamento do Instituto Pensar Agro (IPA), motor logístico da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA),
- e é mencionada no dossiê “Os Financiadores da Boiada”, do De Olho: “Principais financiadores da bancada ruralista faturam mais de R$ 1,47 trilhão“.
Ela também é citada no relatório
“Sangue indígena: A verdade incômoda por trás do frango exportado para a Europa”,
que mostra o caminho percorrido pela soja produzida na Fazenda Brasília do Sul, em Juti (MS), até o mercado europeu.
A publicação é uma parceria do observatório com a organização britânica Earthsight. O local foi palco do assassinato do cacique Marcos Veron.
Durante a pandemia, a LAR foi responsável por espalhar a Covid entre indígenas do oeste paranaense.
- Um guarani de 32 anos, que trabalha no frigorífico e mora na comunidade Ocoy, localizada em São Miguel do Iguaçu, foi o primeiro caso registrado:
- “Guarani que trabalha em frigorífico contrai Covid-19 e é 1º caso na região de Foz do Iguaçu“.
Na época, o cacique Celso Jopoty Alves contou que a companhia decidiu não paralisar as atividades, colocando toda a aldeia em risco.
Empresários do Sul ameaçam fechar as portas
A coação feita pelo dono da Stara, que vende máquinas e implementos agrícolas, está igualmente documentada.
Gilson Tennepohl mandou, assim que saiu o resultado do primeiro turno, uma carta aos funcionários.
“Se o Lula ganhar, a empresa vai cortar 30% do orçamento”,
ameaçou. Ele é o vice-prefeito de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul.
- Filiado ao União Brasil, partido do ex-juiz Sergio Moro,
- o gaúcho doou R$ 1 milhão ao PL de Bolsonaro.
Segundo reportagem da Agência Pública, ele também está entre os empresários que bancaram a ida de tratores do agronegócio ao desfile do 07 de setembro em Brasília.
Assim como a Stara, uma de suas principais concorrentes, a Extrusor,
- encaminhou uma carta a fornecedores afirmando que, com Lula eleito,
- passará a funcionar apenas de forma virtual, cortando contratos.
Em outras palavras: ameaças de cortes e demissões.
Enquanto isso, articuladores de grupos fascistas negociam votos em Bolsonaro por comida.
O goiano André Luiz Bastos Paula Costa é um deles, de acordo com a polícia do Distrito Federal.
- O pecuarista chegou a ameaçar o governador Ibaneis Rocha (MDB), aliado de Bolsonaro.
- Em 2018, foi acusado de tentar esfaquear um pequeno agricultor.

Em São Miguel do Guamá, no nordeste do Pará,
- o dono de cerâmicas Maurício Lopes Fernandes Júnior, o “Da Lua”, compra votos por 200 reais.
- Em um vídeo, ele afirma que, na hipótese de vitória do petista, teria de fechar a empresa, porque “ninguém vai aguentar o pepino que vem”.
Fernandes Júnior
- convoca todos os trabalhadores, independentemente do cargo, a dar o nome
- para,em caso de vitória de Bolsonaro, receber o dinheiro combinado.
E em Goiás tem liquidação de carne:
- vende-se picanha a qualquer preço para que o agronegócio mantenha seu poder.
- O Frigorífico Goiás, que já pertenceu ao sertanejo Gusttavo Lima, garoto-propaganda da marca,
- anunciou a “picanha mito” por R$ 22 no dia do primeiro turno.
Uma mulher passou mal durante o tumulto e morreu. Em resposta a um post no Instagram, a primeira dama, Michelle Bolsonaro, elogiou a ação do açougue: “Muito patriota”.
Bolsonarista humilhou diarista que recebia cesta básica
Do outro lado do patriotismo está a humilhação.
- Cássio Joel Cenali, o bolsonarista que se negou a doar cesta básica para uma diarista de Itapeva, interior de São Paulo,
- após ela declarar voto em Lula, é fazendeiro:
— A partir de hoje é a última marmita que vem aqui. A senhora pede para o Lula agora. Está bom? É a última marmita que vem para a senhora.
- Coube ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) dar mais uma lição de solidariedade.
- A organização entregou produtos da reforma agrária para dona Ilza Rodrigues
- e, sem nada em troca, garantiu compartilhar com ela suprimentos nos próximos seis meses.
Mas de onde vem o dinheiro desse voto de cabresto?
Em Roraima, o garimpeiro e candidato bolsonarista a deputado federal Rodrigo Cataratas (PL)
- foi preso em flagrante com material eleitoral, R$ 6 mil em espécie e uma lista com nome de pessoas e valores para distribuição.
- Cataratas declarou à Justiça Eleitoral R$ 4,5 milhões em dinheiro vivo.
Ele é investigado pela Polícia Federal por suspeita de apoiar a exploração ilegal de minérios na Terra Indígena Yanomami.
Já foi indiciado
- por suspeita de crime ambiental,
- crime contra a ordem econômica
- e posse e comercialização ilegal de munição de arma de fogo.
Agora, compra de votos. O candidato não se elegeu, porém, ele e seus amigos estão dedicados como nunca a eleger Bolsonaro a qualquer custo.
* Mariana Franco Ramos é jornalista
* Luís Indriunas integra a equipe de editores do De Olho nos Ruralistas
Colaborou * Alceu Luís Castilho, diretor de redação do observatório
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