
Uma constatação:
Aí está
- “o peso da insensata loucura da guerra; há demasiado ódio e divisões, demasiada falta de diálogo e de compreensão do outro; isto, num mundo globalizado, resulta ainda mais escandaloso e perigoso.
- Não podemos continuar conectados e separados, vinculados e divididos por tanta desigualdade.”
Evidentemente,
- “o terrorismo de matriz pseudo-religiosa, o extremismo, o radicalismo, o nacionalismo alimentado de sacralidade, fomentam ainda hoje temores e preocupações em relação à religião”,
- mas “eles não têm nenhuma relação com o autêntico espírito religioso e têm de ser rejeitados e condenados sem condições nem “mas”.
Além do mais,
- porque Deus criou todas as pessoas iguais, independentemente da sua pertença religiosa, étnica ou social,
- e, por isso, nós (líderes das religiões) estivemos de acordo em afirmar que o respeito mútuo e a compreensão devem ser considerados essenciais e imprescindíveis no ensino religioso.”
Tema essencial é o da relação entre religião e política.
Um vínculo são entre política e Transcendência, uma coexistência sã entre os dois âmbitos implicam “distinção, não confusão nem separação”.
Impõe-se um
- “não” à confusão, para salvaguardar o bem do ser humano,
- que “precisa, como a águia, de um céu livre para voar, um espaço livre e aberto ao infinito que não esteja limitado pelo poder terreno”.
Por outro lado, a Transcendência
- “não deve ceder à tentação de transformar-se em poder”,
- para que “o “além” divino” não fique “apanhado pelo hoje terreno”.
Por fim,
- um “não” ao corte entre política e transcendência,
- pois “as mais altas aspirações humanas não podem ser excluídas da vida pública e relegadas para o simples âmbito privado.”
VII Congresso dos Líderes das Religiões Tradicionais mundiais
Está aqui presente toda a questão da liberdade religiosa:
- “quem desejar exprimir de modo legítimo o seu próprio credo que seja amparado sempre e em todo o lugar…
- Sobretudo é necessário comprometer-se para que a liberdade religiosa não seja um conceito abstracto, mas um direito concreto.
- Defendamos para todos o direito à religião, à esperança, à beleza, ao céu.”
A laicidade,
- que exige que nenhum Estado tenha uma religião oficial,
- é essencial para garantir a liberdade de todos;
- por outro lado, a laicidade não pode ser confundida com laicismo,
- que pretende que a religião seja excluída do espaço público.
Religião: Divino e humano se tocando e a Esperança de Algo Mais
Pensando em todos os seres humanos, é necessário reconhecer que
- “as grandes sabedorias e religiões estão chamadas a dar testemunho da existência de um património espiritual e moral comum,
- que se funda em dois pilares: a transcendência e a fraternidade.
A transcedência, o “além”, a adoração.
- É bonito que a cada dia milhões e milhões de homens e mulheres, de diferentes idades, culturas e condições sociais, se reúnam para rezar em inúmeros lugares de culto.
- Essa é a força oculta que faz com que o mundo avance.
- E, depois, a fraternidade, o outro, a proximidade, pois não pode professar uma verdadeira adesão ao Criador quem não ama as suas criaturas.”
Este é o espírito que impregna a Declaração do Congresso, e Francisco quis concluir destacando três palavras.

A primeira é um grito angustiado e exprime a meta do caminho: a paz, peace!
- “A paz é urgente, porque qualquer conflito militar ou foco de tensão e enfrentamenteo hoje só pode ter um nefasto “efeito dominó” e compromete seriamente o sistema de relações internacionais.
- Mas a paz não é a mera ausência da guerra nem se reduz só ao equilíbrio das forças adversárias nem surge de uma hegemonia despótica;
- com toda a exactidão e propriedade, chama-se obra da justiça”.
A paz
“brota da fraternidade, cresce através da luta contra a injustiça e a desigualdade, constrói-se estendendo a mão aos outros.
- Por isso, a Declaração exorta os líderes mundiais a acabar com os conflitos e o derramamento de sangue em toda a parte.
- Pedimo-vos, em nome de Deus e pelo bem da Humanidade: comprometam-se a favor da paz, não a favor das armas.
Só servindo a paz é que o vosso nome será grande na História.”
Foto: DAQUI
A segunda palavra é a favor das mulheres.
“Se falta a paz é porque falta o cuidado, a ternura, a capacidade de gerar vida.
- Por isso, é preciso buscá-la implicando mais as mulheres. Porque a mulher cuida e dá vida ao mundo, é caminho para a paz.
- Por isso, apoiamos a necessidade de proteger a sua dignidade e melhorar o seu status social como membros da família e da sociedade com os mesmos direitos. Deve-se-lhes confiar papéis e responsabilidades maiores.
- Quantas opções que levam à morte se evitariam, se as mulheres estivessem no centro das decisões. Comprometamo-nos para que sejam mais respeitadas, reconhecidas e incluídas.”

A terceira palavra: os jovens.
“Eles são os mensageiros da paz e da unidade de hoje e do amanhã. Eles são os que, mais que outros, invocam a paz e o respeito pela casa comum da criação.”
No enquadramento de sonhos e esperanças da juventude, diz Francisco:
“Assim também, religiosidades rígidas e sufocantes não pertencem ao futuro, mas ao passado”.
E: “Nas mãos dos jovens ponhamos oportunidades de educação, não armas de destruição.” O futuro constrói-se não esquecendo “a transcendência e a fraternidade”.
“Avancemos, caminhando juntos na Terra como filhos do Céu!”
Anselmo Borges
Padre e professor de Filosofia.
Escreve de acordo com a antiga ortografia
Fonte: https://www.dn.pt/opiniao/religioes-o-direito-a-esperanca-a-beleza-ao-ceu-2-15318073.html
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