OUTRASPALAVRAS –MOVIMENTOS E REBELDIAS
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Chegou o momento do silêncio, ouvir meu sentimento pela voz dos poetas cantantes. O coração dispara, as emoções transbordam.
- Como contê-las? As razões e as dúvidas, a pressa por soluções…
- Quem resolve nossos sonhos, realiza nossas esperanças?
- Quem mata ambos e os enterra de vez?
“O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço à autoridade um pouco mais de competência.
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci.”
(Rap Brasil, “Eu só quero é ser feliz”)
“O Brazil não conhece o Brasil
O Brasil nunca foi ao Brazil
Tapir, jabuti
…
O Brazil não merece o Brasil
O Brazil tá matando o Brasil
Jerebasaci …”
(Aldir Blanc, Maurício Tapajós, Querelas do Brasil)
Houve a queda dos muros mundiais.
- Surgiram outros, mais altos, mais profundos, invisíveis, não palpáveis,
- sem registro por lentes de possantes máquinas fotográficas, por modernos aparelhos celulares ou por satélites orbitais.
- São os muros da mentira, da exploração, da desonra e da vilania.
“Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
Que país é esse?”
(Renato Russo, “Que País É Este?”)
- Quem nos alimenta, a alma e o corpo?
- Como calar nossos medos, em que escuridão eles se refugiam?
- E as decepções com promessas vãs?
- Até onde acreditar e passar a temer as palavras ouvidas, explicações mal dadas, vazias, verbos, frases e acentos, alguns registros falseados?
As sutis entonações que não cabem na escrita e nas entrelinhas… O resultado é o grande segredo das políticas com suas consequências.
“Brasil!
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil!
Qual é o teu negócio?
O nome do teu sócio?”
(Cazuza, “Brasil! Mostra a tua cara” )
- A indignação pode ser quieta, astuta, mas e a revolta?
- Procuro espaço para ela neste mundo de surdez profunda!
São tantas as injustiças, o descalabro, o sofrimento e a tristeza…
O sertão vai virar mar
É o mar virando lama
Gosto amargo do Rio Doce
De regência a Mariana
…
Morreu debaixo da lama,
Morreu debaixo do trem?
Ele era filho de alguém,
e tinha filho e mulher?
Isso ninguém quer saber,
com isso ninguém se importa
Parece que essas pessoas já nascem mortas.”
(Gabriel O Pensador, Cacimba de Mágoa)
Quando a vida perdeu sua lógica, a loucura seria a lucidez. Quem avalia a distância entre a lógica e a louca lucidez? Podem caber no mesmo espaço do ser humano?
“Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência.”
(Lenine, Paciência)
Diante da aspereza da vida, o refúgio é o mundo imaginário…
- Dias corridos, noites mal dormidas, comida restrita, problemas de trabalho e a falta de trabalho…
- São tantas as necessidades não atendidas!
- E a televisão jogando na cara a fartura de outros…
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara… tão rara…
(Lenine, Paciência)
O que sobra de possibilidades para as muitas vidas tão carentes de tudo, sonhos despedaçados, possibilidades fracassadas, falsa meritocracia?
É a esperança a vingar a tristeza na cantoria ao ritmo da dança.
Canta canta minha gente.
Deixa a tristeza pra lá.
Canta forte, canta alto,
Que a vida vai melhorar !
(Martinho da Vila, Canta, “Canta, Minha Gente”)
O esperançar tem variantes, sonhos mais, ou menos, exigentes, quem sabe até rapsódicos, como o humor de cada dia…
Sempre à espera de um futuro melhor…
Amanhã
Será um lindo dia
Da mais louca alegria
Que se possa imaginar
…
Amanhã
Mesmo que uns não queiram
Será de outros que esperam
Ver o dia raiar
Amanhã,
Ódios aplacados
Temores abrandados,
Será pleno
Será pleno
(Guilherme Arantes, Amanhã)
Marie Madeleine Hutyra de Paula Lima
É advogada, mestre em direito constitucional, membro do Conselho Consultivo do IBAP.
Fonte: https://outraspalavras.net/movimentoserebeldias/faz-escuro-mas-eu-canto-porque-a-manha-vai-chegar/
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