A reportagem é de Luis Miguel Modino.
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Os bispos, de várias regiões do Brasil, que dizem estar
- “em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério
- e em plena comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB
- que, no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz”.
Os prelados veem o segundo turno das eleições como algo que “nos coloca diante de um dramático desafio”, exigindo
” escolher, de maneira consciente e serena, pois não cabe neutralidade quando se trata de decidir sobre dois projetos de Brasil”,
projetos que, como o texto relata, são completamente diferentes e estão claramente enfrentados um com o outro.
O texto denuncia abertamente que
“o atual Governo, que busca a reeleição, virou as costas para a população mais carente, principalmente no tempo da pandemia“,
a ponto de dizer que “a vida não é prioridade para este governo”.
Além disso, os bispos denunciam que
“o chefe de Governo e seus apoiadores, principalmente políticos e religiosos, abusaram do nome de Deus para legitimar seus atos e ainda o usam para fins eleitorais”.
Algo que eles consideram manipulação religiosa, que
“sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil”.
A carta
- denuncia as atitudes do atual presidente, que tem como um de seus slogans “Deus acima de tudo”,
- mas os bispos consideram que “esse apelo a Deus é mentiroso”, pois está separado do amor ao próximo.
Uma forma de entender Deus que vai contra a Bíblia, a Doutrina Social da Igreja e os Mandamentos.
Sobre o governo atual, os bispos dizem que
“vivemos quatro anos sob o reinado da mentira, do sigilo e das informações falsas”,
denunciando as contínuas notícias falsas.
Recordando a Mensagem ao Povo de Deus da última assembleia do episcopado, eles insistem que
“nossa jovem democracia precisa ser protegida”,
denunciando atos contrários a isso por parte do atual governo.
Diante desta realidade,
- os cristãos são chamados a avaliar os dois candidatos,
- fazendo perguntas em relação à saúde, educação, superação da pobreza e cuidados com a Amazônia.
Eles também deixam claro que a Igreja escolhe
“o lado da justiça e da paz, da verdade e da solidariedade, do amor e da igualdade, da liberdade religiosa e do Estado laico, da inclusão social e do bem viver para todos”.
Uma posição que
“vem da fidelidade ao Evangelho de Jesus, à Doutrina Social da Igreja e ao magistério profético do Papa Francisco”.
Na mesma linha, a Comissão Pastoral Episcopal de Ação Social e Transformativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
- também lançou uma carta, assinada por seu presidente, Dom José Valdeci Mendes,
- que pretende ser palavras de ânimo e coragem, chamando a não ter medo.
A carta diz acreditar
- “que cada brasileiro quer o melhor para o Brasil”,
- fazendo ver a necessidade de “votar conscientes e com liberdade”,
- defendendo a vida e chamando a combater
“tudo o que produz a morte (aborto, armamento, fome, miséria, violência, exclusão)” com políticas públicas de promoção da dignidade humana”.
A carta também repudia
“a utilização da religião para o estímulo ao ódio, à violência e à divisão das famílias e da sociedade”,
afirmando defender
“o estado laico e o respeito à liberdade religiosa e de culto”.
Igualmente, chamam as tradições religiosas presentes no Brasil a
“colaborar na construção de um país mais justo, menos violento e mais solidário”,
definindo justiça, paz, fraternidade e compaixão como “os eixos norteadores do bom governo”.
Em um chamado a assumir este Mutirão pela Vida e por democracia, a carta chama a ir ao encontro do povo e “manifestar a alegria de quem luta por dias melhores”,e junto com isso a cuidar “da nossa democracia pelo Voto que garanta o Bem Viver dos Povos”.
Luís Miguel Modino
O autor com o papa Francisco
Confira a íntegra da carta:
A GRAVIDADE DO SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES 2022
Irmãos e irmãs,
Somos bispos da Igreja Católica de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em plena comunhão com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB que, no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz. Lideramos a escrita de uma primeira Carta ao Povo de Deus, em julho de 2020. Diante da gravidade do momento atual, nos dirigimos novamente a vocês.
O segundo turno das eleições presidenciais de 2022 nos coloca diante de um dramático desafio. Devemos escolher, de maneira consciente e serena, pois não cabe neutralidade quando se trata de decidir sobre dois projetos de Brasil, um democrático e outro autoritário; um comprometido com a defesa da vida, a partir dos empobrecidos, outro comprometido com a “economia que mata” (Papa Francisco, A Alegria do Evangelho, 53); um que cuida da educação, saúde, trabalho, alimentação, cultura, outro que menospreza as políticas públicas, porque despreza os pobres. Os dois candidatos já governaram o Brasil e deram resultados diferentes para o povo e para a natureza, os quais podemos analisar.
Iluminados pelas exigências sociais e políticas de nossa fé cristã e da Doutrina Social da Igreja Católica, precisamos falar de forma clara e direta sobre o que realmente está em jogo neste momento. Jesus nos mandou ser “luz do mundo” e a luz não deve ficar escondida (Mt 5,15).
Somos testemunhas de que o atual Governo, que busca a reeleição, virou as costas para a população mais carente, principalmente no tempo da pandemia. Apenas às vésperas da eleição, lançou um programa temporário de auxílio aos necessitados. A 59ª Assembleia Geral da CNBB constatou “os alarmantes descuidos com a Terra, a violência latente, explícita e crescente, potencializada pela flexibilização da posse e porte de armas […]. Entre outros aspectos destes tempos, estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos. A fome é certamente o mais cruel e criminoso deles, pois a alimentação é um direito inalienável” (Mensagem da CNBB ao Povo Brasileiro sobre o Momento Atual). A vida não é prioridade para este governo.
O chefe de Governo e seus apoiadores, principalmente políticos e religiosos, abusaram do nome de Deus para legitimar seus atos e ainda o usam para fins eleitorais. O uso do nome de Deus em vão é um desrespeito ao 2º mandamento. O abuso da religião para fins eleitoreiros foi condenado em nota oficial da presidência da CNBB (11/10/2022), para a qual “a manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil”.
Enquanto dizia “Deus acima de tudo”, o Presidente ofendia as mulheres, debochava de pessoas que morriam asfixiadas, além de não demonstrar compaixão alguma com as quase 700 mil vidas perdidas para a covid-19 e com os 33 milhões de pessoas famintas em seu país. Lembramos que o Brasil havia saído do mapa da fome em 2014, por acerto dos programas sociais de governos anteriores. Na prática, esse apelo a Deus é mentiroso, pois não cumpre o que Jesus apresentou como o maior dos mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22, 37). Quem diz que ama a Deus, mas odeia o seu irmão é “mentiroso” (1Jo 4,20).
Os discursos e as medidas que visam armar todas as pessoas e eliminar os opositores estão em contradição tanto com o 5º mandamento, que diz “não matarás”, quanto com a Doutrina Social da Igreja, que propõe o desarmamento e diz que “o enorme aumento das armas representa uma ameaça grave para a estabilidade e a paz” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 508).
Vivemos quatro anos sob o reinado da mentira, do sigilo e das informações falsas. As fake news (notícias falsas veiculadas como se fossem verdades) se tornaram a forma “oficial” de comunicação do Governo com o povo. Isso fere o 8º mandamento, de não levantar falso testemunho, mas mostra também quem é o verdadeiro “senhor” dos que, perversamente, se dedicam a espalhar falsidades e ocultar informações de interesse público. Jesus diz que o Diabo é o pai da mentira (Jo 8, 44), enquanto Ele é o “caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
A Mensagem ao Povo Brasileiro, da 59ª Assembleia Geral da CNBB, alertou-nos, também, de que “nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto nacional”. No entanto, o atual governo e os parlamentares que o apoiam ameaçam modificar a composição do Supremo Tribunal Federal para criar uma maioria de apoio aos seus atos. O controle dos poderes Legislativo e Judiciário sempre foi o passo determinante para a implantação das ditaturas no mundo.
Os cristãos têm capacidade para analisar qual dos dois projetos em disputa está mais próximo dos princípios humanistas e da ecologia integral. Basta analisar com dados e números e perguntar: qual dos candidatos concorrentes valorizou mais a saúde, a educação e a superação da pobreza e da miséria e qual retirou verbas do SUS, da educação e acabou com programas sociais? Quem cuidou da natureza, principalmente, da Amazônia e quem incentivou a queima das florestas, o tráfico ilegal de madeiras e o garimpo em terras indígenas?
Não se trata de uma disputa religiosa, nem de mera opção partidária e, tampouco, de escolher o candidato perfeito, mas de uma decisão sobre o futuro de nosso país, da democracia e do povo. A Igreja não tem partido, nem nunca terá, porém ela tem lado, e sempre terá: o lado da justiça e da paz, da verdade e da solidariedade, do amor e da igualdade, da liberdade religiosa e do Estado laico, da inclusão social e do bem viver para todos. Por isso, seus ministros não podem deixar de se posicionar, quando se trata de defender a vida do ser humano e da natureza. Nossa motivação é ética e não decorre do seguimento de um líder político, nem de preferências pessoais, mas vem da fidelidade ao Evangelho de Jesus, à Doutrina Social da Igreja e ao magistério profético do Papa Francisco.
Deus abençoe o povo brasileiro e o Espírito Santo de sabedoria e verdade ilumine nossas mentes e corações, na hora de votarmos nesse segundo turno das eleições de 2022. Vejamos Jesus no rosto de cada pessoa, especialmente dos pobres que sofrem e não em autoridades humanas que os manipulam em nome de um projeto ideológico de poder político e econômico.
Em 24 de outubro de 2022, Memória de Santo Antônio Maria Claret, bispo.
Bispos do Diálogo pelo Reino
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