Foto: O Presidente Bolsonaro em apuros| Sérgio Lima/Poder360 25.10.2021
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Bolsonaro é emparedado por seus muy amigos, enquanto desesperadamente luta por votos. Guedes vaza plano de arrochar salários e aposentadorias — e Jefferson pisa fundo no terror de extrema direita. Será a pá de cal no pesadelo?
Nesta reta final da campanha eleitoral para o segundo turno do pleito presidencial, Jair Messias Bolsonaro está encontrando problemas sérios com alguns personagens políticos que ocupam papel estratégico em seu governo e na articulação do bloco de extrema direita que lhe presta apoio.
- Para além dos tropeços em suas próprias trapalhadas, como o episódio em que deu margem às acusações de pedofilia,
- o candidato tem gastado muito tempo e energia para apagar os estragos do fogo amigo em suas próprias bases.
O ato terrorista perpetrado pelo dublê de bandido – e coordenador informal de sua campanha – contra os agentes da Polícia Federal (PF)
- é muito mais do que uma atitude impensada de um maluco,
- como alguns analistas tentam justificar nos poucos órgãos da grande imprensa que ainda apostam na continuidade da barbárie por mais um quadriênio.
Roberto Jefferson é um agente estratégico nos espaços da extrema direita tupiniquim
- e a decisão de dar tiros de fuzil e jogar granadas contra os agentes públicos que iam cumprir uma decisão judicial
- nada mais significa do que colocar em ação as orientações violentas e carregadas de ódio que o bolsonarismo sempre apregoou.
Ocorre que ao cometer tais crimes, a poucos dias do último domingo de outubro, ele colocou o chefe em uma saia justa,
- a ponto de Bolsonaro ter sido obrigado a condenar publicamente a ação do aliado de todas as horas
- e mentir ao afirmar que não teria nenhuma relação com o condenado.
No entanto, em razão da cumplicidade política mais do que óbvia existente entre ambos,
- o presidente da República ordenou ao ministro da Justiça que se dirigisse ao local dos fatos,
- para intermediar a negociação de um criminoso que foi obrigado a se render às forças policiais.
Como diria Lula em outros tempos, nunca antes na história deste país!
Roberto Jefferson disparou mais de 50 tiros e explodiu três granadas contra a Polícia federal – Foto: Reprodução/Instagram
Roberto Jefferson e Paulo Guedes: muy amigos de Bolsonaro
Mas, durante a mesma semana, a coordenação da campanha pela reeleição viu-se também obrigada a lidar com mais um imbróglio causado pelo superministro da Economia, Paulo Guedes.
- O antes todo-poderoso, responsável pelo monstrengo criado pela junção em 2019 de várias pastas ministeriais estratégicas na Esplanada,
- foi colocado em modo silencioso pelo chefe, desde que o projeto político-eleitoral pela recondução do capitão para mais um mandato foi colocado em movimento.
Afinal, o banqueiro foi muito importante para a vitória em outubro de 2018, quando abriu caminho para que Bolsonaro fosse mais bem aceito pelas elites do financismo.
Continuou prestando bons serviços ao govern
- por manter um canal permanentemente aberto junto às classes dominantes
- e por tentar levar em frente o projeto de destruição do Estado e de liberalização ampla de nossa economia.
Ocorre que a vida é mesmo muito complicada e Bolsonaro viu-se na necessidade de dar um cavalo de pau no discurso de uma nova forma de fazer política e na pregação da austeridade fiscal a qualquer custo.
Com o intuito de evitar o início do processo de impeachment na Câmara dos Deputados e facilitar a vida do governo no interior do Congresso Nacional,
- o candidato à reeleição jogou-se de corpo e alma nos braços do fisiologismo do Centrão,
- entregando seu principal ministério ao senador Ciro Nogueira (PP/PI), que passou a ocupar a chefia da Casa Civil.
Esta foi a senha para que a política de Teto de Gastos, tão cara a Paulo Guedes e aos representantes do financismo,
- fosse colocada na geladeira e as despesas orçamentárias explodissem de forma irracional e descontrolada com o projeto eleitoral em curso.
- Daí para a implementação da escandalosa proposta inconstitucional das emendas secretas e bilionárias do relator foi apenas um passo.
Submetido a esse tipo de constrangimento público,
- Guedes aceitou de forma covarde e oportunista o tapa na cara dado pelo próprio chefe na frente de todas as forças políticas do país.
- Na verdade, ele continua apostando todas as suas fichas nas promessas de Bolsonaro de que continuaria a ocupar o mesmo cargo em eventual segundo mandato.
- Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual ele tenha decidido romper o voto de silêncio e vindo a público com mais uma de suas tiradas desastradas.
Parece que se sentiu empoderado e resolveu arriscar alguns cacifes. Porém, mais uma vez, deu-se mal.
Proposta de Guedes é ruim e antiga
A “jogada magistral”desta vez foi a declaração de que
- estaria preparando um projeto para eliminar a correção do salário mínimo,
- bem como patrocinar a desvinculação dos valores dos benefícios pagos pela Previdência Social de tal obrigação constitucional.
- Com isso, as aposentadorias, as pensões e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) também sofreriam diminuição em seu poder de compra.
A notícia caiu como uma bomba nas hostes bolsonaristas, justamente no momento em que Lula colocava em pauta a necessidade de promover a volta da política de reajuste no salário mínimo acima da inflação, tal como era a regra em seu governo.
A favor de Guedes, devemos ao menos recordar aqui
- sua coerência fiscalista,
- sua obsessão liberaloide e sua obstinação pela eliminação de direitos dos mais pobres.
Afinal, lá nos idos de 2019, ele já anunciava sua disposição em levar a cabo sua estratégia dos chamados 3 Ds;
i) desconstitucionalizar;
ii) desvincular;
e, iii) desobrigar.
- A questão do salário mínimo caía como uma luva em tal operação.
- A redução dos direitos em geral e do poder real de compra dos rendimentos dos assalariados já estava em movimento por meio da reforma trabalhista.
- No entanto, a inclusão em norma legal e constitucional de dispositivo desobrigando a política de reajuste do salário mínimo pela inflação teria um efeito ainda mais grave.
Além da consequência direta sobre as condições de vida dos trabalhadores,
- atingiria também a sobrevivência dos beneficiários, diretos e indiretos, da Previdência Social.
- Finalmente, seriam prejudicados todos aqueles servidores públicos federais, estaduais e municipais que tivessem sua remuneração fixada em um salário mínimo ou a ele vinculada.
Ora, esta proposta de Paulo Guedes não é exatamente uma novidade.
- No entanto, ao trazer a medida equivocada, elitista e impopular para o centro do debate, em um momento de grandes dificuldades enfrentadas por Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto,
- Guedes provoca mais um sincericídio.
Assim como as granadas e os tiros de Roberto Jefferson,
- a artilharia do superministro termina por atingir a imagem do próprio chefe,
- que luta desesperadamente por votos para superar a distância que ainda o separa de Lula.
Sincericídio de Guedes: pá de cal em Bolsonaro?
O banqueiro sempre teve por hábito soltar suas bravatas aos quatro ventos,
- principalmente depois que foi apresentado pelo capitão como sendo o principal responsável pelo comando da Economia
- e pelo anúncio de medidas da área.
Assim, foram
- as declarações a respeito de privatizar todas as empresas estatais,
- a proposta de eliminação do modelo histórico de previdência do INSS e sua substituição por contas de capitalização a serem geridas pelo sistema financeiro privado,
- além do preconceito destilado contra os setores da base da pirâmide da injustiça social, como as empregadas domésticas.
No caso concreto, pouco importa se o anúncio de Guedes foi uma decisão pensada e planejada, ou se a declaração saiu como mais uma de suas conhecidas manifestações destrambelhadas.
O fato é que ela reflete exatamente o que pensam
- setores expressivos de nossas elites, principais responsáveis pela manutenção de um modelo econômico e social profundamente injusto e desigual,
- a verdadeira herança secular de uma sociedade escravista e colonial.
Em uma só tacada, Guedes
- exprimiu o ódio que as classes dominantes sentem pelos que vivem de seu trabalho
- e a raiva que manifestam pelo pouco que ainda sobrou de um ensaio de modelo de Estado de Bem-Estar Social tupiniquim.
Mas é possível que, por mais uma destas obras da ironia da História,
- o mais recente exercício de sincericídio do aprendiz de liberal e admirador da ditadura sanguinária do general Augusto Pinochet no Chile
- venha a se converter em uma das muitas pás de cal a serem utilizadas para enterrar o cadáver putrefato do regime bolsonarista.
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Fonte: https://outraspalavras.net/crise-brasileira/o-bolsonarismo-sob-fogo-amigo/
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