Um ano depois, talibãs governam em clima de terror, denuncia a Amnistia Internacional. Foto © Amnistia Internacional
15 Ago 2022 | Foto: DAQUI
|…“dezenas de mulheres foram presas e torturadas por terem realizado manifestações pacíficas onde exigiam os seus direitos, após restrições que impactaram brutalmente a sua liberdade”, “os Talibãs têm prejudicando as perspetivas de educação de milhões de raparigas afegãs”.
Há um ano, o mundo ficava em choque com as imagens que acompanhavam a saída das tropas da NATO do Afeganistão.
Os receios de toda aquela população que fugia para o aeroporto a tentar apanhar um avião que os levasse para fora do país parecem ser bem fundados, segundo o relatório
“O governo talibã: Um ano de violência, impunidade e falsas promessas”, publicado hoje pela Amnistia Internacional.
O documento sustenta que,
- “desde agosto de 2021, os Talibãs têm reprimido e desrespeitado severamente os direitos humanos de todos os afegãos,
- perseguindo grupos minoritários, reprimindo violentamente manifestações pacíficas, suprimindo os direitos das mulheres e levando a cabo execuções e desaparecimentos extrajudiciais,
- como ferramenta para disseminar o medo entre a população”.
Desde logo, o relato de que, no último ano, mais de 80 jornalistas foram “presos e torturados por divulgarem/noticiarem manifestações pacíficas”.
- “Eu fui agredido e chicoteado de tal forma nas minhas pernas que não me podia levantar…
- a minha família assinou um documento a prometer que eu não iria falar sobre o que me aconteceu depois de ser libertado,
- reconhecendo que, se falasse, o governo teria direito de prender toda a minha família”,
relata um jornalista, que não se identificou por receio das represálias.
Yamini Mishra, diretora regional do Sul da Ásia da Amnistia Internacional, refere que
- “há um ano, os Talibãs fizeram um compromisso público de proteger e promover os direitos humanos”.
- “No entanto, a forma rápida como estão a desmantelar 20 anos de promoção de direitos humanos no país é espantosa.
- Quaisquer esperanças de mudança evaporaram rapidamente à medida que ficou claro
- que o governo talibã iria governar através da repressão violenta com impunidade total”, referiu.
Esta organização refere ainda que
“dezenas de mulheres foram presas e torturadas por terem realizado manifestações pacíficas onde exigiam os seus direitos, após restrições que impactaram brutalmente a sua liberdade”,
e que “os Talibãs têm prejudicando as perspetivas de educação de milhões de raparigas afegãs”.
Outro testemunho é o de Meena (nome fictício), uma professora de 29 anos, que disse à Aministia Internacional que estava desesperada com o futuro da sua filha.
“Eu olho para o meu uniforme, recordo os dias de escola, os estudantes e os professores, mas não tenho escolha a não ser ficar em casa”,
conta, já que o governo talibã, após a reabertura das escolas em setembro de 2021, proibiu que raparigas após o sexto ano pudessem frequentar a escola, argumentando que
- “era uma situação temporária, enquanto recrutavam mais professoras e asseguravam as condições «adequadas» para uma educação segregada”.
- “Até à data, nenhuma dessas medidas foi tomada”, garante a organização.
Igreja mostra-se preocupada
Esta versão da Amnistia Internacional é corroborada pelo testemunho no terreno de religiosos e leigos que trabalham com instituições de ajuda humanitária.
Alberto Cairo, colaborador da Cruz Vermelha e da ONG italiana Nove, que trabalha com mulheres e pessoas com deficiência, refere que “a situação é desastrosa”.
- “A ajuda internacional, que chegava ao governo, e que de alguma maneira seguia daí para fazer funcionar os serviços públicos, foi suspensa.
- Agora o dinheiro que chega é canalizado pelas organizações humanitárias internacionais, mas seguramente que não é a mesma quantidade”.
A situação é desesperante, e este responsável conta que
- “a vida ficou muito cara, e a classe média desapareceu por completo”.
- “Muitas pessoas, que estavam empregadas pelo Estado em diferentes trabalhos, hoje vêm ter connosco à procura de qualquer tipo de trabalho, dizendo que
- «faço limpezas, faço qualquer trabalho para sobreviver»”,
refere ao portal Vatican News.
O padre barnabita Giuseppe Moretti, missionário em Kabul entre 1990 e 2015, e superior da Missio sui iuris, missões que são quase dioceses autónomas, em Kabul desde 2002, refere que a esperança é
- “formar e acompanhar os jovens que saíram do Afeganistão e estudam noutros lugares, assim como aos que vivem ainda no Afeganistão,
- “para que sejam construtores do Afeganistão moderno”,
- marcado por um “islão moderado, que caminhe pela senda da modernidade”.
O sacerdote refere ainda ao portal do Vaticano que
- “o Afeganistão pode não ser o país mais desejado pela política internacional,
- mas durante vinte anos estivemos ali com a presença da NATO e todas as embaixadas abertas,
- e agora este Afeganistão parece demasiado esquecido”.
Alberto Cairo concorda, e denuncia
- uma “forte e absoluta sensação de abandono, vivida desde o primeiro momento”.
- “A comunidade internacional deve falar com as autoridades, encontrando uma maneira de ajudar a população.
- Se não querem reconhecer o governo, pelo menos retomem a ajuda às populações, que são as que estão a sofrer verdadeiramente com tudo isto”, conclui.
Sete Margens
Fonte: https://setemargens.com/talibas-governam-afeganistao-sem-respeito-pelos-direitos-humanos/
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