“A vida de Droupadi Murmu, as suas lutas, o seu serviço precioso e o seu sucesso exemplar motiva todos os indianos”,
escreveu Modi no Twitter mal se soube que a antiga governadora do estado de Jarcanda conseguira o apoio de mais de metade dos deputados ao parlamento indiano.
Aos 64 anos, esta mulher cuja vida ficou marcada pela tragédia pessoal
- – em menos de cinco anos, entre 2009 e 2014, perdeu o filho mais novo em circunstâncias misteriosas (chegou a casa dizendo-se cansado e indo dormir, tendo sido encontrado morto na manhã seguinte),
- o marido, um banqueiro (de ataque cardíaco),
- e o filho mais velho, num acidente de automóvel –
torna-se assim um
“raio de esperança para os nossos cidadãos, especialmente os mais pobres, marginalizados e oprimidos”,
escreveu ainda o primeiro-ministro.
Nomeada para a presidência pelo BJP, que detém a maioria dos deputados,
- Murmu derrotou facilmente o seu principal adversário, Yashwant Sinha,
- ele próprio um antigo membro do partido nacionalista hindu que ocupou no passado os cargos de ministro das Finanças e dos Negócios Estrangeiros.
Sinha também saudou a vitória da rival:
“A Índia espera que enquanto 15.ª presidente da república, aja como a garante da Constituição, sem medos nem favorecimentos”.
Quando tomar posse na segunda-feira,
- Murmu será a segunda mulher a chegar à presidência da Índia,
- depois de Pratibha Patel, que esteve no cargo entre 2007 e 2012,
- e sucederá a Ram Nath Kovind, o segundo membro da comunidade dalit, os chamados “intocáveis”, na base do sistema de castas indiano.

Modi recebeu Murmu após a sua vitória.
Nascida em 1958, numa família da tribo santal, na aldeia de Uparbeda, distrito de Mayurbhanj, estado de Orissa,
- a presidente eleita começou a carreira como professora, antes de enveredar pela política.
- Juntou-se ao BJP em 1997, tendo ocupado vários cargos no governo estadual, antes de chegar a governadora do vizinho Jarcanda.
Para os apoiantes de Murmu e para o BJP de Modi,
- esta vitória representa um triunfo dos povos tribais e um momento de descoberta para a sua comunidade,
- que geralmente carece de instalações de cuidados de saúde e educação em aldeias remotas.
Um dos maiores grupos tribais indianos,
- os santal encontram-se em vários estados de Jarcanda ao Bihar, de Orissa ao Bengala Ocidental, distribuindo-se ainda pelo norte do Bangladesh, pelo Nepal e Butão.
- Os santal falam santali, a mais comum das língua Munda.
Segundo o linguista australiano Paul Sidwell, falantes de uma língua austro-asiática terão chegado à costa de Orissa, vindos da Indochina, há cerca de 4000 anos, tendo-se espalhado pelo sudeste asiático, misturando-se com as populações indianas locais.
Hoje em dia,
- os santal serão entre 7,5 e dez milhões (os números variam consoante as fontes).
- Tradicionalmente viviam sobretudo em zonas rurais, apesar de cada vez mais se mudarem para as grandes cidades.
Apesar das esperanças do governo e da nova presidente de que a sua eleição
- possa vir a melhorar a situação de uma comunidade muitas vezes discriminada
- num país onde apesar de proibido, o sistema de castas continua a moldar a sociedade,
- os partidos de oposição duvidam que a líder possa contribuir para fortalecer ou mudar a realidade.
Mesmo sendo o papel de presidente indiano sobretudo cerimonial, pode ser importante em tempos de incerteza política, como quando o Parlamento é suspenso.
.
Helena Tecedeiro
helena.r.tecedeiro@dn.pt
Fonte:https://www.dn.pt/internacional/da-tragedia-a-presidencia-da-india-um-raio-de-esperanca-chamado-murmu-15038119.html
Relacionados:
Leave a Reply