LUIZ LOPES – 29/04/2022 – 59ª AG – 2022, DESTAQUE 1, MENSAGENS – Imagem: DAQUI
A 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aprovou a tradicional Mensagem ao Povo Brasileiro. O texto apresenta “uma mensagem de fé, esperança e corajoso compromisso com a vida e o Brasil”.
Os bispos lembraram da solidariedade para a superação da pandemia, agradeceram às famílias e agentes educativos pelo cuidado no campo da educação e dedicaram reflexões sobre a realidade do país, cujo quadro atual“é gravíssimo”. Para os bispos, “o Brasil não vai bem!”.
Diante da complexa e sistêmica crise ética, econômica, social e política, a CNBB espera que os governantes
“promovam grandes e urgentes mudanças, em harmonia com os poderes da República, atendo-se aos princípios e aos valores da Constituição de 1988”.
A mensagem também aborda o processo eleitoral deste ano, envolto “de incertezas e radicalismos, mas, potencialmente carregado de esperança”.
Também chama atenção para as ameaças ao pleito, além de reforçar um apelo pela democracia brasileira.
“Conclamamos toda a sociedade brasileira a participar das eleições e a votar com consciência e responsabilidade, escolhendo projetos representados por candidatos e candidatas comprometidos com a defesa integral da vida, defendendo-a em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte natural. Que também não negligenciem os direitos humanos e sociais, e nossa casa comum onde a vida se desenvolve”
Ao final do texto, os bispos convidam a todos, particularmente a juventude,
“a deixarem-se guiar pela esperança e pelo desejo de uma sociedade justa e fraterna”.
Confira o texto na íntegra:
P – Nº. 0099/22
MENSAGEM AO POVO BRASILEIRO
59ª. Assembleia Geral da CNBB
“A esperança não decepciona” (Rm 5,5).
Guiados pelo Espírito Santo e impulsionados pela Ressurreição do Senhor, unidos ao Papa Francisco, nós, bispos católicos,em comunhão e unidade, reunidos para a primeira etapa da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, de modo on-line e com a representação de diversos organismos eclesiais, dirigimos ao povo brasileiro uma mensagem de fé, esperança e corajoso compromisso com a vida e o Brasil.
Enche o nosso coração de alegria perceber a explosão de solidariedade, que tem marcado todo o País na luta pela superação do flagelo sanitário e social da COVID-19.
A partilha de alimentos, bens e espaços, a assistência a pessoas solitárias e a dedicação incansável dos profissionais de saúde são apenas alguns exemplos de incontáveis ações solidárias.
Gestores de saúde e agentes públicos, diante de um cenário de medo e insegurança, foram incansáveis e resilientes.
O Sistema Único de Saúde-SUS mostrou sua fundamental importância e eficácia para a proteção social dos brasileiros. A consciência lúcida da necessidade dos cuidados sanitários e da vacinação em massa venceu a negação de soluções apresentadas pela ciência. Contudo, não nos esquecemos da morte de mais de 660.000 pessoas e nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, trazendo ambas em nossas preces.
Agradecemos ainda, de modo particular às famílias e outros agentes educativos, que não se descuidaram da educação das crianças, adolescentes, jovens e adultos, apesar de todas as dificuldades. Com certeza, a pandemia teria consequências ainda mais devastadoras, se não fosse a atuação das famílias, educadores e pessoas de boa vontade, espírito solidário e abnegado.
A Campanha da Fraternidade 2022 nos interpela a continuar a luta pela educação integral, inclusiva e de qualidade.
- A grave crise sanitária encontrou o nosso País envolto numa complexa e sistêmica crise ética, econômica, social e política, que já nos desafiava bem antes da pandemia,
- escancarando a desigualdade estrutural enraizada na sociedade brasileira.
- A COVID-19, antes de ser responsável, acentuou todas essas crises, potencializando-as, especialmente na vida dos mais pobres e marginalizados.
O quadro atual é gravíssimo. O Brasil não vai bem!
- A fome e a insegurança alimentar são um escândalo para o País, segundo maior exportador de alimentos no mundo, já castigado pela alta taxa de desemprego e informalidade.
- Assistimos estarrecidos, mas não inertes, os criminosos descuidos com a Terra, nossa casa comum.
Num sistema voraz de “exploração e degradação” notam-se
- a dilapidação dos ecossistemas,
- o desrespeito com os direitos dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos,
- a perseguição e criminalização de líderes socioambientais,
- a precarização das ações de combate aos crimes contra o meio ambiente
- e projetos parlamentares desastrosos contra a casa comum.
Tudo isso desemboca numa violência latente, explícita e crescente em nossa sociedade.
A crueldade das guerras, que assistimos pelos meios de comunicação, pode nos deixar anestesiados e desapercebidos do clima de tensão e violência em que vivemos no campo e nas cidades.
- A liberação e o avanço da mineração em terras indígenas e em outros territórios,
- a flexibilização da posse e do porte de armas,
- a legalização do jogo de azar,
- o feminicídio e a repulsa aos pobres,
não contribuem para a civilização do amor e ferem a fraternidade universal.
Diante deste cenário esperamos que os governantes promovam grandes e urgentes mudanças, em harmonia com os poderes da República, atendo-se aos princípios e aos valores da Constituição de 1988, já tão desfigurada por meio de Projetos de Emendas Constitucionais.
Não se permita a perda de direitos dos trabalhadores e dos pobres, grande maioria da população brasileira.
A lógica do confronto que ameaça o estado democrático de direito e suas instituições,
- transforma adversários em inimigos,
- desmonta conquistas e direitos consolidados,
- fomenta o ódio nas redes sociais, deteriora o tecido social e desvia o foco dos desafios fundamentais a serem enfrentados.
Nesse contexto, iremos este ano às urnas. O cenário é de incertezas e radicalismos, mas, potencialmente carregado de esperança.
- Nossas escolhas para o Executivo e o Legislativo determinarão o projeto de nação que desejamos.
- Urge o exercício da cidadania, com consciente participação política, capaz de promover a “boa política”, como nos diz o Papa Francisco.
Necessitamos de uma política salutar, que não se submeta à economia, mas seja capaz de reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de bons procedimentos,
- como as conquistas da Lei da Ficha Limpa, Lei Complementar 135 de 2010,
- que afasta do pleito eleitoral candidatos condenados em decisões colegiadas,
- e da Lei 9.840 de 1999, que criminaliza a compra de votos.
Não existe alternativa no campo democrático fora da política com a ativa participação no processo eleitoral.
Tentativas de ruptura da ordem institucional, hoje propagadas abertamente, buscam colocar em xeque a lisura do processo eleitoral e a conquista irrevogável do voto.
- Tumultuar o processo político, fomentar o caos e estimular ações autoritárias
- não são, em definitivo, projeto de interesse do povo brasileiro.
- Reiteramos nosso apoio às Instituições da República, particularmente aos servidores públicos, que se dedicam em garantir a transparência e a integridade das eleições.
Duas ameaças merecem atenção especial.
A primeira é a manipulação religiosa,
- protagonizada tanto por alguns políticos como por alguns religiosos, que coloca em prática um projeto de poder sem afinidade com os valores do Evangelho de Jesus Cristo.
- A autonomia e independência do poder civil em relação ao religioso são valores adquiridos e reconhecidos pela Igreja e fazem parte do patrimônio da civilização ocidental.
A segunda é a disseminação das fake news, que através da mentira e do ódio, falseia a realidade.
Carregando em si o perigoso potencial de manipular consciências,
- elas modificam a vontade popular,
- afrontam a democracia
- e viabilizam, fraudulentamente, projetos orquestrados de poder.
É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e o respeito aos resultados nas eleições. A democracia brasileira, ainda em construção, não pode ser colocada em risco.
Conclamamos toda a sociedade brasileira a participar das eleições e a votar com consciência e responsabilidade,
- escolhendo projetos representados por candidatos e candidatas comprometidos com a defesa integral da vida, defendendo-a em todas as suas etapas, desde a concepção até a morte natural.
- Que também não negligenciem os direitos humanos e sociais, e nossa casa comum onde a vida se desenvolve.
Todos os cristãos somos chamados a preocuparmo-nos com a construção de um mundo melhor, por meio do diálogo e da cultura do encontro, na luta pela justiça e pela paz.
Agradecemos os muitos gestos de solidariedade de nossas comunidades, por ocasião da pandemia e dos desastres ambientais.
Encorajamos as organizações e os movimentos sociais a continuarem se unindo em mutirão pela vida, especialmente por terra, teto e trabalho.
Convidamos a todos, irmãos e irmãs, particularmente a juventude, a deixarem-se guiar pela esperança e pelo desejo de uma sociedade justa e fraterna.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, obtenha de Deus as bênçãos para todos nós.
Brasília – DF, 29 de abril de 2022.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte – MG
Presidente da CNBBDom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-PresidenteDom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-PresidenteDom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-GerFonte: https://www.cnbb.org.br/mensagem-povo-brasileiro-fe-esperanca-compromisso-vida-brasil/#
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