Vatican News – 09/02/20-22
Foto: Cardeal Michael Czerny SJ – Prefeito ad interim do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral/ Vatican News
“A minha missão na Ucrânia é um sinal desta disponibilidade e a todos os que sofrem a presença e a proximidade não só do Papa, mas de todo o povo cristão”.
O texto do purpurado foi publicado nesta terça-feira no site “Aggiornamenti Sociali”.
A minha viagem é uma viagem de oração, profecia e denúncia.
Parto de Roma a 8 de março rumo a Budapeste e prosseguirei a partir daí,
- para me encontrar com refugiados e fugitivos e com aqueles que os acolhem e lhes prestam assistência
- Entretanto, o Card. Konrad Krajewski, esmoler pontifício, já chegou à Polonia e fará o mesmo nas zonas de fronteira com a Ucrânia.
A esperança é que possamos atravessar a fronteira nos próximos dias e entrar na Ucrânia, mas isso dependerá da evolução da situação.
A Santa Sé – como afirmou com grande veemência o Papa Francisco no Angelus de domingo, 6 de março –
«está disposta a fazer tudo, para se colocar ao serviço desta paz».
A minha missão na Ucrânia é um sinal desta disponibilidade e a minha tarefa consiste em levar a todos os que sofrem a presença e a proximidade não só do Papa, mas de todo o povo cristão.
- Vou para me inteirar diretamente da situação
- e espero poder prestar também alguma ajuda material,
- mas vou sobretudo para me encontrar com as pessoas, para estar com elas:
é esta a profecia de uma presença e de uma proximidade que pode parecer fraca ou até mesmo insignificante segundo a lógica do mundo e da força das armas.
Mas não é assim:
- estar próximo do seu povo, dos seus filhos que sofrem, é o modo escolhido por Deus para entrar na história do mundo. Mesmo à custa de acabar na cruz.
- Símbolo deste estilo de Deus é o grande crucifixo de madeira que há alguns dias – todos vimos com emoção as imagens – foi retirado da Catedral arménia de Leopoli e levado para um bunker na esperança de o subtrair à fúria e à loucura da guerra.
- Tal como nos bunkers, nas caves e em refúgios talvez improvisados encontram-se muitas pessoas que dirigem a sua oração a este Senhor crucificado.
Por isso, estou certo de que a minha viagem será uma viagem de oração:
- a do Papa, a minha, a dos meus dois companheiros, um do Dicastério para a Comunicação e o outro do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral,
- e a de todos quantos me acompanharão desta forma, mas sobretudo a oração das pessoas que iremos encontrar, uma oração que – como ensina o livro do Eclesiástico –
- «atravessa as nuvens», porque Deus «escuta a oração do oprimido. Não despreza a súplica do órfão nem os gemidos da viúva».
Estas pessoas partilham o dom da sua proximidade com Deus com quem as encontra, com quem perante elas está disponível para viver o sacramento da presença, levando a palavra do Evangelho e uma ajuda concreta.
O gesto de caridade de quem acolhe torna-se ocasião de corroborar a fé que nos une e de alimentar a esperança comum
- de que é possível um mundo sem guerra,
- de que a violência e a morte não têm a última palavra:
- é o mistério da Páscoa para a qual nos estamos a preparar nesta quaresma.
Deste modo, vou encontrar e levar a proximidade do Papa e da Igreja
- também às pessoas envolvidas, de tantas formas diferentes, nas ações de acolhimento:
- um exército silencioso e desarmado, empenhado em reconstruir a humanidade que as armas tentam destruir.
- As suas mãos são as mãos de todo o povo cristão, ou melhor, as mãos do próprio Deus.
A fé não se encontra ausente da tragédia que neste momento vive a Ucrânia, porque está no coração das pessoas que fogem da guerra:
- em grande parte são crentes, tal como muitos dos que as acolhem,
- e é importante que todos quantos o desejem possam receber assistência religiosa, no respeito pelas diferenças entre as várias confissões e religiões.
Na minha viagem, vou também empenhar-me neste ponto.
Por último, a minha viagem será uma viagem de denúncia.
A história dos fugitivos ucranianos é uma realidade já conhecida, que se desenrola segundo o dramático roteiro dos muitos conflitos, tantas vezes esquecidos, que ensanguentam o nosso mundo.
- Com a mesma rapidez com que em poucos dias milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas,
- circulam já notícias de que foi posta em marcha a máquina da exploração e do tráfico de seres humanos, do contrabando de migrantes nas fronteiras e nos países de primeiro acolhimento:
ao drama da guerra e do deslocamento junta-se o da escravidão.
Na missão que a nossa pequena delegação irá realizar, prestaremos particular atenção a esta problemática, tal como a outro aspeto igualmente sensível:
- a marginalização e por vezes a rejeição de que são alvo africanos e asiáticos que residiam na Ucrânia
- e que agora estão em fuga juntamente com a restante população.
Uma questão difícil de enfrentar num momento tão tenso, mas, no entanto, extremamente urgente.
Somos todos filhos de um único Pai e a fraternidade não pode conhecer fronteiras: é este o sentido do abraço do Papa e da Igreja que levo a todos os que irei encontrar.
Fonte: https://www.vaticannews.va
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