A reportagem é de Luca Fraioli, publicada por La Repubblica, 10-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Às seis da tarde, a reviravolta.
O negociador-chefe chinês na COP26 em Glasgow aparece na entrevista coletiva e anuncia uma declaração conjunta China-Estados Unidos, finalizada algumas horas antes.
- Que os dois gigantes estivessem trabalhando juntos, ficou claro desde o início da manhã,
- quando circulou o primeiro esboço do acordo, um esboço que parecia escrito especificamente para atender aos pedidos de Pequim,
- começando com a neutralidade de carbono a ser alcançada até a metade do século e não necessariamente em 2050.
John Kerry e Xie Zenhua, delegados de USA e CHINA na COP-26
Xie Zenhua anunciou um acordo com os Estados Unidos para transformar esta Conferência do Clima em um sucesso.
O passo crucial é o respeito dos acordos de Paris com a fórmula fortemente defendida dos chineses:
- “…manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais
- e buscar limitar o aumento da temperatura para 1,5°C em comparação com os níveis pré-industriais”.
O chefe da delegação de Pequim falou em cortes de emissões até 2030
“em conformidade com os acordos de Paris, em conformidade com as características dos diferentes países”.
Mas o acordo também prevê progressos nas finanças
- (ajuda aos países em desenvolvimento,
- criação de um mercado único global dos créditos de carbono,
- até um plano chinês de combate ao desmatamento e outro de redução das emissões de metano
- “como aquele já anunciado pelos Estados Unidos”).
O próprio Xie Zenhua anunciou que depois dele falaria John Kerry, o enviado especial para o clima da Casa Branca. E anunciou que no primeiro semestre de 2022 haverá o primeiro encontro dos dois grupos de trabalho estadunidense e chinês sobre o clima.
- “A cooperação é a única escolha possível. Queremos continuar trabalhando com os Estados Unidos para enfrentar uma emergência que coloca em risco a nossa própria existência”.
- “Tanto nós quanto os Estados Unidos agiremos em conjunto e com as outras partes para fazer da COP26 um sucesso.
- Nós precisamos pensar grande e ser responsáveis”.
Pouco menos de uma hora depois, John Kerry sobe ao palco:
“As duas maiores economias do mundo para limitar o aquecimento do planeta na década que estamos vivendo. Precisamos agir agora”.
Kerry insistiu no metano, um gás de efeito estufa 80 vezes mais poderoso que o CO2:
“Pequim se comprometeu a apresentar um plano para reduzir suas emissões de metano na próxima COP27″.
Não escondeu as diferenças entre os dois países:
“Existem e vão continuar, mas sobre o clima, é a palavra da ciência, temos de agir juntos e na mesma direção”.
.
Luca Fraioli
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