| 7 Set 21 – Imagem: DAQUI
Para as igrejas locais que seguem a velha cultura eclesiástica de não agir antes de chegarem instruções de cima, o pretexto acabou ontem: em conferência de Imprensa presidida pelo cardeal Mario Grech, foram apresentados dois documentos de referência, para concretizar o Sínodo sobre a sinodalidade: o Documento Preparatório e o Vademecum (ou guia prático). Traduzidos em seis línguas, entre os quais o português.
Não se trata, como sublinhou na conferência de Imprensa, a subsecretária do Sínodo Nathalie Becquart, referindo-se ao Vademecum,
- de um conjunto de normas a seguir,
- mas de um ponto de apoio, uma proposta de orientação,
- elaborada a partir de experiências já vividas em diferentes partes,
- que terá de ser adaptadalocalmente.
O cardeal secretário-geral do Sínodo chamou a atenção dos jornalistas e, através deles, de todos os cristãos, para o facto de
- um Sínodo não ser um parlamento ou um jogo de forças,
- em que “quem tem mais força condiciona e subjuga o outro”.
É, antes,
“uma experiência de escuta recíproca, inspirada pelo Espírito Santo, cujo sucesso depende desta fase de escuta do Povo de Deus”.
O subsecretário Luis Marín de San Martín começou por contestar que
- a fase de auscultação, que se inicia em 17 de outubro próximo em cada diocese, seja de preparação do Sínodo.
Não se trata de uma preparação, já que é o próprio sínodo que, por vontade do Papa, vai abrir agora, reforçando a ideia já sublinhada de que não se trata de um mero evento, mas de um processo sinodal que envolve, em tempos próprios,
- as igrejas locais,
- os encontros continentais, a
- assembleia geral do Sínodo dos bispos
- e, por fim, o Papa que é o garante da unidade.
É verdadeiramente uma “pirâmide invertida”, expressão que figura em alguns textos sinodais.
Sobre a consulta local, Luís Marín de San Martín esclareceu que ela deve reunir três características.
A primeira é que “seja verdadeira”, isto é “que se consulte verdadeiramente o Povo de Deus”.
Depois, deve ser “o mais ampla possível”, ou seja,
- deve abrir-se a todos os que querem contribuir,
- não se limitando às “elites, clericais ou não”,mas abarcando o “povo comum”,
- “mesmo os que estão nas margens”, e “implicando todos os setores”.
Deve, finalmente, ser“prática”, não “teórica”,mas “enraizada na vida, na experiência de Cristo”.
San Martín referiu, depois, o papel dinamizador do bispo de cada diocese, que se deve colocar também em atitude de escuta, com um referente e uma equipa que
“reflita a variedade da Igreja.
Finalmente, deve realizar-se, no final do processo, que pode ir até abril de 2022,
- uma “assembleia sinodal”
- que ajude no discernimento comum e faça a síntese da auscultação
- (“que não seja um pequeno grupo que decida e faça a síntese”, acrescentou).
Na fase de perguntas e respostas, entre outros assuntos, foi ainda salientada a abertura e oportunidade que haverá para a expressão das questões das mulheres na Igreja e para o tempo escasso que haverá, nomeadamente para a primeira etapa do Sínodo.
Finalmente, foi sublinhado, da parte de vários membros da mesa a ideia de que nada está pré-definido, a não ser a vontade de auscultar o Espírito através da experiência das pessoas.
“Não sabemos onde o Espírito nos vai levar”.
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Manuel Pinto
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