
Proteger o ambiente e encorajar urgentemente os líderes mundiais a agirem para combater as mudanças climáticas foram algumas das marcas registradas do papado de Francisco.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada em The Tablet, 25-02-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco cronometrou a publicação da sua histórica encíclica ecológica, Laudato si’, para influenciar na cúpula do clima em Paris em 2015, a COP-21, que levou a um acordo histórico para reduzir as emissões globais de carbono.
De 1º a 12 de novembro de 2021, o Reino Unido, em parceria com a Itália, sediará a conferência da ONU sobre as mudanças climáticas COP-26 em Glasgow. Será o encontro mais importante de líderes mundiais para tratar do aquecimento global desde Paris, e os organizadores estão planejando que seja um evento presencial.
Visto que as viagens papais vão recomeçar na semana que vem, será que o papa poderia fazer uma visita a Glasgow? Fontes da Igreja disseram à The Tablet que a ideia está sendo avaliada.
Vale ressaltar que,
- no dia 15 de janeiro de 2021, a embaixadora do Reino Unido junto à Santa Sé, Sally Axworthy, foi recebida em audiência privada por Francisco.
- Presume-se que a COP-26 fez parte da conversa, embora não se saiba se uma visita foi discutida.
Obviamente, a programação da COP ainda não foi confirmada, e planejar qualquer viagem durante uma pandemia é algo cheio de incertezas. Neste momento, os escritórios vaticanos relevantes estão focados na próxima visita do papa ao Iraque.
No entanto, Francisco não precisa de convite para ir à COP.
- Todos os países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima têm o direito de participar do evento em Glasgow, incluindo a Santa Sé, Estado observador da ONU.
- No entanto, cabe a cada Estado decidir que nível de representação enviará.
- O cardeal Pietro Parolin, o diplomata mais importante do Vaticano, liderou as delegações da Santa Sé nas cúpulas anteriores.
Uma viagem papal a Glasgow também estaria de acordo com o papel mais ativo que a Santa Sé desempenhou na ONU durante o pontificado de Francisco e apoiaria o “multilateralismo”.
O papa nunca quis que a Igreja ficasse à margem do debate sobre as mudanças climáticas. Falando aos diplomatas no Vaticano no início deste mês, ele disse esperar que
“a próxima Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP-26), prevista para Glasgow em novembro próximo, permita encontrar um entendimento eficaz para enfrentar as consequências das mudanças climáticas. Esta é a hora de agir, pois já podemos tocar com as mãos os efeitos de uma inação prolongada”.
Dias antes da COP de Paris,
- Francisco fez um discurso no escritório da ONU em Nairóbi,
- alertando que o fracasso em chegar a um acordo para proteger o planeta seria uma catástrofe.
- Mais tarde, após a realização da cúpula, houve rumores de que ele ajudou a resolver o impasse, ao telefonar para o presidente da Nicarágua, encorajando-o a assinar o acordo.
A mudança para uma diplomacia vaticana mais pró-ativa também foi mencionada recentemente pelo cardeal Parolin, que descreveu
- o papel da Santa Sé no cenário mundial como de “neutralidade positiva”,
- que não se limita a olhar pela janela, mas constrói um diálogo entre os países.
Do ponto de vista do governo do Reino Unido, uma visita do papa teria vantagens óbvias.
- A presença de Francisco tornaria a cúpula uma ocasião histórica
- e ajudaria a construir um consenso sobre os esforços para proteger o planeta.
Para o primeiro-ministro, Boris Johnson, a presença do papa poderia desviar a atenção do outro convidado especial esperado em Glasgow, o presidente Joe Biden.
- A relação de Johnson com o presidente dos EUA não tem sido tranquila,
- enquanto Biden, um cético em relação ao Brexit, supostamente teria descrito Johnson como “um clone físico e emocional” do ex-presidente Donald Trump.
- Um papa em Glasgow tiraria o foco das dificuldades de Johnson com Biden.
Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia e líder do Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês), pode não estar tão entusiasmada com esse cenário. No entanto, suas objeções seriam temperadas pelo apoio católico que o SNP recebeu.
Se o papa realmente viajar para a Escócia, é provável que seja algo curto, e o voo de três horas e meia entre Roma e Glasgow possibilitaria uma viagem de um dia. O papa já fez esse tipo de visitas antes, quando voou para Estrasburgo para discursar no Parlamento Europeu e à Suíça para comemorar o 70º aniversário do Conselho Mundial de Igrejas. Ambas foram viagens de um dia.
- Se o papa for à Grã-Bretanha para encorajar as negociações sobre as mudanças climáticas, ele será apoiado pelo arcebispo de Canterbury, Justin Welby,
- que trabalha em estreita colaboração com Francisco.
- Nessa quarta-feira, 24, ele anunciou que o bispo de Norwich, Graham Usher, assumiria o comando do esforço ambiental da Igreja da Inglaterra.
Quando se trata de proteger o planeta, Francisco tem se mostrado disposto a usar todas as alavancas disponíveis para fazer mudanças. Por esse motivo, uma viagem papal a Glasgow, a segunda de um papa em uma década, não deve ser descartada.
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