“No lugar das soluções tradicional, reformista e pragmática, Lobinger propõe um quarto caminho. A sua sugestão é que se introduza um novo tipo de presbítero para trabalhar ao lado do clero atual, e complementando-o”,
escreve Sérgio Coutinho, doutor em História e professor do Departamento de História da Faculdade União Pioneira da Integração Social – UPIS, de Brasília, e do curso de Serviço Social no Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB, em artigo publicado por Portal das CEBs, 07-01-2021.
Eis o artigo.
Sérgio Coutinho | Foto: Leslie Chaves / IHU
Recentemente, o Papa Francisco resolveu não avançar na proposta de inclusão dos chamados “viri probati” (“homens provados na fé” e não mulheres(!?)) para assumir funções ministeriais nas comunidades, devido à falta de candidatos ao presbitério.
Nossa coluna vai problematizar essa questão levando a todos a proposta de Dom Fritz Lobinger, alemão e bispo de Aliwal Norte, na África do Sul.
Foto: Estante Virtual
Sua proposta foi publicada numa obra de 2007, pela Editora Paulus, intitulado “Padres para amanhã: uma proposta para a comunidade sem eucaristia”.
Segundo Lobinger, até hoje três soluções foram sugeridas para o enfrentamento da falta de padres na Igreja Católica.
Ele quer acrescentar uma quarta solução.
As três soluções até então conhecidas são:
- a tradicional,
- a pragmática
- e a reformista.
* Os proponentes da solução tradicional acreditam que
- a saída seja intensificar as orações para que mais candidatos se apresentem para o sacerdócio celibatário, com formação acadêmica.
- Ao mesmo tempo estes têm alguma esperança de ver padres de países onde estão sobrando, transferidos para países onde falta.
* Os reformistas, por sua vez,
- querem aumentar a possibilidade de mais candidatos se tornarem qualificados para o sacerdócio ministerial
- com a mudança das normas de admissão abolindo-se o celibato obrigatório,
- ordenando-se homens casados ou admitindo-se mulheres para o sacerdócio.
* Já a solução pragmática
- é uma espécie de processo de distribuição cada vez maior de tarefas que tradicionalmente eram executadas por padres,
- ficando agora por conta de diáconos ou leigos;
- em alguns países, por trabalho voluntário, em outros preferindo uma função eclesiástica de tempo integral.
A lei canônica permite o que leigos executem algumas tarefas tradicionalmente sacerdotais, como distribuir a comunhão, dirigir liturgias da Palavra, pregar sermões e conduzir funerais.
Mons. Fritz Lobinger. Foto: Vida Nueva
Lobinger propõe um caminho diferente para melhorar a situação. É o que ele chama de “solução comunitária”.
Baseia-se numa visão mais profunda da Igreja, seguindo as orientações do Concílio Vaticano II.
Os documentos do Concílio nos levam de volta para as fontes bíblicas, para a rica tradição da Igreja,
- que mostram os fiéis em comunidades cristãs,
- antes considerando-se como Povo de Deus,
- chamado por Deus, enriquecido pelos seus sacramentos e dotado de múltiplos carismas.
Em muitas partes da Europa, durante séculos houve número suficiente de padres a serviço dos fiéis, que muitas vezes ficavam passivos.
- As comunidades paroquiais precisam agora assumir novamente toda a responsabilidade pela vida e funcionamento da comunidade.
- Terão de aprender a se auto-ministrar.
- Mas há menos probabilidade de elas realizarem essa tarefa, se o pároco que faltou for substituído por um funcionário eclesiástico de tempo integral – um suplente de pároco.
- Tal paróquia deixaria apenas de ser dirigida por sacerdotes para ser dirigida por peritos.
Então,
- no lugar das soluções tradicional, reformista e pragmática,
- Lobinger propõe um quarto caminho.
A sua sugestão é que se introduza um novo tipo de presbítero para trabalhar ao lado do clero atual, e complementando-o.
Se inspirou no apóstolo Paulo, cujas cartas
- fazem uma distinção entre ministério missionário, como o próprio Paulo que funda comunidades,
- e os presbíteros, como os de Corinto, encarregados de uma comunidade e presidindo a Eucaristia.
Daí os nomes dados para os dois tipos:
- padres “paulinos”
- e presbíteros comunitários de tipo corintiano.
Segundo ele,
- o tipo Paulino de padres deveria continuar sendo recrutado entre celibatários, de formação na academia, geralmente de tempo integral.
- Seriam responsáveis pela fundação de novas comunidades
- ou pelo treinamento de um bom número de presbíteros comunitários aos quais a seguir darão acompanhamento.
Os presbíteros do tipo comunitário, por outro lado,
- geralmente não serão de tempo integral,
- sendo ordenados em função de uma comunidade particular,
- onde trabalharão como time, e onde receberão a sua formação inicial e posterior, e não em seminário residencial.
Por uma longa experiência ativa em suas paróquias, serão reconhecidos como líderes comunitários “aprovados” (“probati”), provavelmente serão casados e terão seus empregos ou negócios.
Continuaremos a refletir sobre este tema em próximas colunas.
Sérgio Coutinho
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