Observatório do Clima – 01 Dezembro 2020 – Foto: Carta Capital
A reportagem é do portal Observatório do Clima, 30-11-2020.
Saíram nesta segunda-feira (30) os aguardados dados preliminares do Inpe sobre o desmatamento na Amazônia: a taxa oficial de 2020, dada pelo sistema Prodes, é de 11.088 km2, a maior desde 2008. A alta é de 9,5% em relação ao ano passado.
Levando-se em conta a média dos dez anos anteriores à posse de JairBolsonaro, o desmatamento cresceu 70%: de 2009 a 2018, a média apurada pelo Inpe foi de 6.500 km2 por ano.
- A publicação da taxa oficializa que o Brasil descumpriu a meta da Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC),
- a lei nacional que preconizava uma redução da taxa a um máximo de 3.925 km2 em 2020.
- O país está 180% acima da meta, o que o põe numa posição de desvantagem para cumprir seu compromisso no Acordo de Paris (a NDC) a partir do início do ano que vem.
Devido ao aumento do desmatamento, o Brasil deve ser o único grande emissor de gases de efeito estufa a ter aumento em suas emissões no ano em que a economia global parou por conta da pandemia.
Nada disso é uma surpresa para quem acompanha o desmonte das políticas ambientais no Brasil desde janeiro de 2019.
- Os números do Prodes simplesmente mostram que o plano de Jair Bolsonaro deu certo.
- Eles refletem o resultado de um projeto bem-sucedido de aniquilação da capacidade do Estado Brasileiro e dos órgãos de fiscalização de cuidar de nossas florestas e combater o crime na Amazônia.
É o preço da “passagem da boiada”.
- Grileiros, garimpeiros, madeireiros ilegais e assassinos de índios praticando crimes na ponta
- sabem interpretar os sinais que vêm do Palácio do Planalto
- e, de forma inédita, do Ministério do Meio Ambiente.
O desmatamento, embora tenha causas complexas, é antes de tudo movido a expectativas.
- Quando o Presidente da República diz que vai “tirar o Estado do cangote” dos predadores da floresta,
- a bandidagem avança em cima do patrimônio dos brasileiros.
- Quando ele e seus auxiliares vão além do discurso e começam a tomar medidas nesse sentido, o crime festeja.
E haja medidas.
- Paralisação da cobrança de multas pelo Ibama,
- congelamento do FundoAmazônia sob desculpas falsas,
- aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente,
- mordaça no Ibama e no ICMBio,
- perseguição e exonerações de agentes ambientais por fazer seu trabalho,
- atropelo de pareceres técnicos pelo presidente do Ibama para satisfazer bandidos e liberar madeira ilegal,
- envio de propostas ao Congresso para abrir terras indígenas ao esbulho e legalizar a grilagem,
- tentativa de legalizar o roubo de terras indígenas não homologadas,
- omissão criminosa em não gastar o dinheiro que existe para a fiscalização e as políticas ambientais,
- difamação a quem produz conhecimento técnico e científico
- e uma tentativa improvisada de militarizar a floresta.
Tudo isso foi visto nos últimos 22 meses.
Esse conjunto de fatores determinou também o inédito fracasso em 2020 de uma cara e estabanada operação militar na Amazônia.
Recrutando mais de 3.400 militares, a Operação Verde Brasil 2 falhou em conter tanto o desmatamento quanto as queimadas, que até novembro eram 20% mais numerosas na Amazônia do que o já escandaloso índice de 2019 (Leia aqui análise do OC sobre o plano do Conselho da Amazônia para a região).
“Desde sempre, quando o desmatamento sobe, a gente fica se perguntando o que deu errado nas tentativas de controle do crime ambiental. Desta vez, a gente sabe que a alta aconteceu porque deu tudo certo para o governo”,
diz MarcioAstrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
“Esse projeto de destruição tão bem executado custará caro ao Brasil.
- Estamos perdendo acordos comerciais,
- transformando nosso soft power literalmente em fumaça
- e aumentando nosso isolamento internacional num momento em que o mundo entra num realinhamento crítico em relação ao combate à crise do clima”, prossegue.
- “Este governo funciona como uma máquina de produzir notícias vergonhosas para o país, especialmente na área ambiental.
- Bolsonaro é o maior sabotador da imagem do Brasil.”
Sobre o Observatório do Clima: rede formada em 2002, composta por 56 organizações não governamentais e movimentos sociais. Atua para o progresso do diálogo, das políticas públicas e processos de tomada de decisão sobre mudanças climáticas no país e globalmente. Site: www.observatoriodoclima.eco.br
Observatório do Clima
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/605156-plano-de-bolsonaro-funciona-e-desmatamento-tem-nova-alta
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