
Eduardo Bolsonaro fez menção à adesão simbólica do Brasil à Clean Network, iniciativa de Trump (Divulgação/Flickr)
A China acionou o Itamaraty para reclamar de uma publicação do deputado Eduardo Bolsonaro nas redes sociais, posteriormente apagada por ele.
Para a diplomacia chinesa, o parlamentar “solapou” a relação amistosa entre os países com declarações “infames”, e o Brasil poderá “arcar com consequências negativas”. Esse é o segundo atrito diplomático com a China criado pelo deputado, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, por causa de militância virtual.
“Na contracorrente da opinião pública brasileira, o deputado Eduardo Bolsonaro e algumas personalidades têm produzido uma série de declarações infames que, além de desrespeitarem os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil”,
escreveu a embaixada, em nota.
“Acreditamos que a sociedade brasileira, em geral, não endossa nem aceita esse tipo de postura.
Instamos essas personalidades
- a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana,
- cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira,
- e evitar ir longe demais no caminho equivocado,
- tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral.
Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil.”
O programa de Washington
- tenta convencer governos estrangeiros – por meio de pressão política e até com oferta de financiamento –
- a somente permitir em suas redes 5G equipamentos de fornecedores não-chineses, que eles consideram “confiáveis”.
O governo norte-americano
- acusa as empresas de origem chinesa, como Huawei e ZTE,
- de serem obrigadas a permitir acesso do governo comunista a suas redes,
- o que supostamente abriria uma brecha para vigilância.
Os Estados Unidos trabalham para que Bolsonaro decrete o banimento da Huawei como fornecedora após o leilão do 5G previsto para 2021, o que ainda não foi decidido pelo Palácio do Planalto
Segundo Pequim, a iniciativa do governo Donald Trump “discrimina a tecnologia 5G da China”.
A empresa Huawei é uma das principais fornecedoras de estrutura de telecomunicações no Brasil, usada pelas maiores operadoras de telefonia, tendo por isso vantagens no entendimento de executivos do setor.
- “O governo chinês incentiva empresas chinesas a operar com base em ciência, fatos e leis enquanto se opõe a qualquer tipo de especulação e difamação injustificada contra empresas chinesas.
- Os EUA têm um histórico indecente em matéria de segurança de dados.
Certos políticos norte-americanos
- interferem na construção da rede 5G em outros países
- e fabricam mentiras sobre uma suposta espionagem cibernética chinesa,
- além de bloquear a Huawei visando alcançar uma hegemonia digital exclusiva.
Comportamentos como esses constituem uma verdadeira ameaça à segurança global de dados”,
reagiu a China.
A diplomacia reativa orientada pelo presidente chinês Xi Jinping afirmou que
- as declarações de Eduardo Bolsonaro são “infundadas”
- e “prestam-se a seguir os ditames dos EUA no uso abusivo do conceito de segurança nacional para caluniar a China e cercear as atividades de empresas chinesas”.
- “Isso é totalmente inaceitável para o lado chinês e manifestamos forte insatisfação e veemente repúdio a esse comportamento.
- A parte chinesa já fez gestão formal ao lado brasileiro pelos canais diplomáticos”,
informou o porta-voz da embaixada.
Parceiro brasileiro
É a segunda vez que a diplomacia chinesa reage a publicações de Eduardo Bolsonaro.
- Ele chegou a culpar o governo do país e o Partido Comunista Chinês pela pandemia da covid-19.
- Na ocasião, o embaixador Yang Wanming reagiu na rede social e disse que o deputado estava infectado por um “vírus mental”.
- Na ocasião, o chanceler Ernesto Araújo, porém, repreendeu a atitude do embaixador.
A embaixada chinesa
- citou dados da relação bilateral entre os países, como a condição de maior parceiro comercial de Brasília há 11 anos,
- e o fornecimento de materiais e compartilhamento de experiências durante a pandemia da covid-19.
- Entre janeiro e outubro, afirmou Pequim, as exportações brasileiras foram de US$ 58,4 bilhões, ou 33,5% do total de exportado pelo Brasil.
“As cooperações na telecomunicação e em outros setores foram construídas sobre bases sólidas e alcançaram avanços a passos largos. A China é um amigo e um parceiro do Brasil e que a cooperação bilateral impulsiona o progresso de ambos os países e traz benefícios para os dois povos”, afirmou a embaixada.
O deputado Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, disse que Eduardo é “irresponsável” e cobrou providências no Legislativo e no Judiciário.
- Crítico da ideologia na política externa bolsonarista,
- ele preside a Comissão de Agricultura na Câmara
- e vê riscos a produtores brasileiros que têm a China como principal mercado.
“Até quando vamos dar asas a esse irresponsável? O pior é que o pai nada faz.
- Estão colocando em risco o País com essa ideologia insana. 5G e vacina chinesa.
- Os Bolsonaros vão perder ambas batalhas, pois perderam o instrutor de loucos chamado Trump,
- e a cada dia os Bolsonaros perdem credibilidade e apoio, tanto no Brasil, como no mundo”,
reclamou Pinato.
“Acho que chegou a hora de a Câmara dos Deputados e o STF tomarem providências urgentes. Não é crível que um deputado federal irresponsável e sem noção possa colocar em risco a já combalida economia do Brasil e ninguém faz nada para cessar as calúnias postadas contra nossa maior parceira comercial, a China.”
EXAME
Fonte: https://exame.com/brasil/china-reage-a-acusacao-de-eduardo-bolsonaro-sobre-5g/
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