BBC – 08/06/2020
Direito de imagem: REPRODUÇÃO /GUARDIAN
Image caption: Jornal britânico The Guardian disse que governo brasileiro foi acusado de `totalitarismo e censura` ao mudar metodologia de números de covid-19
“À medida que as mortes por coronavírus no Brasil aumentam, Bolsonaro limita a divulgação de dados”.
A decisão do Ministério da Saúde de mudar a forma de divulgar os dados sobre a covid-19 no Brasil gerou repercussão internacional, com os principais jornais do mundo destacando negativamente as mudanças
Nesta segunda-feira (08/06), o diretor de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan também demonstrou preocupação com a situação.
“É muito importante, ao mesmo tempo, que as mensagens sobre transparência e divulgação de informações sejam consistentes, e que nós possamos contar com os nossos parceiros no Brasil para fornecer essa informação para nós, mas, mais importante, aos seus cidadãos. Eles precisam saber o que está acontecendo”, afirmou.
Com o título “Bolsonaro esconde número de mortes e total de casos por coronavírus no Brasil”, o jornal britânico The Guardian chamou a iniciativa do governo brasileiro de
“movimento extraordinário que os críticos chamam de tentativa de esconder o verdadeiro número de vítimas da doença”.
A reportagem, publicada na versão eletrônica do diário no domingo (07/06), lembra que a decisão ocorre
“após meses de críticas de especialistas que dizem que as estatísticas do Brasil são terrivelmente deficientes e, em alguns casos, manipuladas, o que significa que talvez nunca seja possível obter uma compreensão real da profundidade da pandemia no país”.
No fim do dia, o Guardian publicou nova reportagem, dessa vez com o título
“Brasil deixa de divulgar número de mortos por Covid-19 e apaga dados do site oficial”.
Nela, o repórter Dom Phillips, correspondente do jornal no Rio de Janeiro, ressalta que
- o governo brasileiro
- foi acusado de “totalitarismo e censura” pela nova metodologia.
“Brasil acusado de ocultar dados sobre crise de coronavírus” foi a manchete do também britânico Financial Times.
O jornal descreve Bolsonaro como
- “presidente de extrema direita”,
- que “há muito tempo é acusado de subestimar a gravidade do surto,
- levando ao despedimento de um ministro da saúde e à demissão de outro,
- e à nomeação de um general sem experiência em saúde pública para substituí-los”.
O americano The Washington Post foi na mesma linha, com a manchete
“À medida que as mortes por coronavírus no Brasil aumentam, Bolsonaro limita a divulgação de dados”.
De acordo com o jornal, um dos mais influentes dos Estados Unidos,
“a retirada repentina dos dados acumulados provocou uma avalanche de críticas quando as pessoas nas cidades retornaram às suas varandas para bater em panelas e detratores sugeriram que o governo federal estava tentando ocultar a gravidade de uma crise de saúde pública que pouco fez para resolver”.
Já a rede de TV americana ABC News reproduziu texto da agência internacional de notícias Associated Press dizendo que o Brasil eliminou dados do total de mortos pela Covid-19 e deixou especialistas perplexos.
Influente no mundo árabe, a emissora Al Jazeera publicou reportagem em seu site com o título “Brasil deixa de publicar números de coronavírus”.
Balanços incompletos
Desde a última sexta-feira,
- o governo passou a informar somente o número de casos e mortos registrados nas últimas 24 horas (e não o total),
- omitindo do site informações do acumulado de casos,
- além do detalhamento por Estados.
Mas, após forte pressão de políticos, especialistas e integrantes do Judiciário, deu sinais de recuo e prometeu retomar a divulgação de talhada do impacto da doença.
O Ministério Público Federal
- chegou a instaurar procedimento para averiguar o caso
- e deu um prazo de 72 horas para que o ministro interino, Eduardo Pazuello, apresentasse explicações.
Na noite de domingo, o Ministério da Saúde divulgou duas notas informando que está finalizando uma plataforma com números detalhados da pandemia.
Na última delas, a pasta voltou a falar em problemas técnicos e se comprometeu a divulgar os dados tendo como base a data da morte e não a data em que se confirmou que a pessoa morreu por coronavírus registrada pelas autoridades.
Até então,
- o balanço incluía todas as mortes cuja confirmação da doença havia ocorrido nas 24 horas anteriores,
- ou seja, abrangia também casos de óbitos antigos,
- cuja confirmação de infecção do novo coronavírus apenas se deu dentro desse prazo.
O Ministério da Saúde também informou que vai deixar acessível para consulta o acumulado de casos, após preocupações de que aqueles cuja confirmação atrasasse sumissem dos registros oficiais.
Segundo o governo,
- a nova plataforma vai mostrar dados do Brasil, de regiões, Estados, capitais e regiões metropolitanas
- “com os respectivos gráficos de evolução diária dos novos registros”.
Essa página interativa seria colocada no ar nos próximos dias, acrescentou o Ministério da Saúde no domingo.
- “O Ministério da Saúde está finalizando a adequação da divulgação e ferramentas de informação sobre casos e óbitos de Covid-19.
- Neste domingo (7), poderão ser conferidos os extratos da plataforma em desenvolvimento referentes ao Brasil, regiões nacionais, estados, capitais/regiões metropolitanas,
- com os respectivos gráficos de evolução diária dos novos registros”, disse o órgão, em nota.
O comunicado acrescenta que
“o objetivo é que, nos próximos dias, estejam disponíveis em uma página interativa que possa trazer os resultados desejados pelo usuário. Assim, será possível acompanhar com maior precisão a dinâmica da doença no país e ajustar as ações do poder público diante a cada momento da resposta brasileira à doença”.

Apesar disso, não houve informações sobre o horário em que as atualizações diárias vão ocorrer. Nos últimos dias, os números atualizados passaram a ser divulgados por volta das 22h, em vez de no fim da tarde.
Após a decisão do governo de mudar a forma de divulgados os dados da covid-19,
- o Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde) elaborou um painel próprio de informações,
- reunindo dados de contaminados e de óbitos em contagem paralela à do governo federal.
Confusão
Em meio à polêmica, dois dados divergentes foram divulgados em um intervalo de poucas horas no domingo.
Por volta de 20h30, o primeiro balanço do Ministério da Saúde informava que 1.382 mortes haviam sido registradas nas últimas 24 horas. O número seria um recorde para domingo, dia da semana normalmente com menos confirmações de casos.
Uma hora e meia depois, por volta das 22h, o número de óbitos confirmados caiu para 525, o que poderia indicar que a nova metodologia já estaria sendo usada.
O total de casos confirmados nas últimas 24 horas também apresentou discrepâncias. O primeiro número divulgado contabilizava 12.581 casos. O segundo, por sua vez, registrava 18.912 casos.
O Ministério da Saúde não apresentou explicações para a divergência entre os números.
BBC
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-52967730
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