Estadão – Redação, 11/03/2020 – Foto: © Marcos Oliveira / Agência Senado
Sessão no Senado da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI Mista) das Fake News, no mês passado.
O inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) aberto para investigar fake news identificou empresários bolsonaristas que estariam financiando ataques contra ministros da Corte nas redes sociais.
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- as investigações estão adiantadas
- e atingem até mesmo sócios de empresas do setor de comércio e serviços,
- todos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
Embora o inquérito, que tramita sob sigilo, seja destinado
- a investigar ameaças, ofensas e calúnias dirigidas a ministros do STF e suas famílias,
- as informações são de que o mesmo grupo de empresários também está ajudando
- a convocar os atos do próximo domingo, tendo como alvo o Congresso e o Judiciário.
O custo dos ataques virtuais pode chegar a R$ 5 milhões por mês. As apurações indicam que esses empresários
- bancam despesas com robôs – programas de computador que podem ser usados para fazer postagens automáticas nas redes –
- e produção de material destinado a insultar e constranger opositores de Bolsonaro nas mídias digitais.
Aberto em março do ano passado por determinação do presidente do Supremo, Dias Toffoli,
- o inquérito não identificou apenas fake news,
- mas também evasão de divisas, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal
- por parte de alguns empresários bolsonaristas.
A expectativa é de que o processo, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, seja concluído em maio e enviado ao Ministério Público.
Em outra frente,
- a CPI das Fake News vai buscar reforços para a investigação que tramita no Congresso,
- mas está patinando porque virou uma disputa fratricida entre governo e oposição.
Um dos primeiros movimentos da deputada Joice Hasselmann (SP), ao assumir a liderança do PSL, foi substituir quatro deputados bolsonaristas por outros quatro de seu grupo.
Pedido
A estratégia é lotear a CPI para tentar avançar nas apurações sobre o pagamento de robôs que propagam notícias falsas ou atacam políticos que batem de frente com Bolsonaro. Integrantes da CPI
- já solicitaram ao Supremo o compartilhamento de dados relativos ao inquérito das fake news, mas tiveram o pedido negado,
- sob o argumento de que o foco da Corte está apenas nos magistrados e suas famílias.
A CPI é mais abrangente e apura a ofensiva contra os parlamentares. Nas redes sociais, os principais alvos das agressões são
- os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ);
- do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP);
- e a própria Joice.
- Uma das mensagens em poder da CPI traz ordem para disseminar críticas a Maia na internet, chamando-o de “filho da p…”.
O primeiro objetivo da CPI, após o troca-troca de cadeiras,
- será aprovar a convocação do vereador Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente.
- Carlos é apontado como responsável pelo chamado “gabinete do ódio”. Como revelou o Estado, o grupo trabalha dentro do Palácio do Planalto e tem como missão disseminar ataques contra “inimigos” do governo.
Até agora, a CPI já aprovou requerimentos de convocação ou convite de 153 pessoas. A falta de foco interessa a aliados de Bolsonaro e, por isso, a estratégia de mexer na composição do colegiado foi discutida com líderes de partidos. As trocas vão ocorrer nas legendas que compõem o Centrão.
A avaliação na cúpula do Congresso é de que,
- com o atual esquema milionário para manter a guerra virtual contra deputados e senadores,
- apenas a narrativa de Bolsonaro prevalecerá nas redes.
No PSL, a dança das cadeiras levou os deputados Junior Bozzella (SP) e Nereu Crispim (RS) para duas vagas titulares, enquanto Delegado Waldir (GO) e Heitor Freire (CE) serão suplentes. Todos os quatro comandam diretórios regionais do PSL e são aliados do presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), adversário de Bolsonaro.
Deixaram a CPI os deputados titulares Carlos Jordy (RJ) e Caroline de Toni (SC), além dos suplentes Filipe Barros (PR) e Carla Zambelli (SP), todos bolsonaristas.
“Joice começou o festival de retaliações e movimentos para prejudicar o governo”, afirmou Jordy.
Prazo
Os integrantes da comissão
- já chegaram a um acordo com Alcolumbre para que
- a CPI seja prorrogada e funcione pelo menos até junho.
Para tanto, porém, são necessárias 171 assinaturas de apoio na Câmara e 27 no Senado. Caso isso não ocorra, a CPI termina em 13 de abril.
A renovação por 180 dias estenderia os trabalhos de apuração até outubro, mês de eleições.
- O prazo maior é considerado essencial
- porque a CPI começou a receber somente agora informações das empresas de tecnologia.
O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) disse que obteve do Facebook a quebra do sigilo de 70 contas e perfis em redes suspeitos de serem usados para destruir reputações de adversários do governo.
O documento identifica IPs e e-mails associados às contas, entre outros dados.
“Imagine quantos computadores já não foram jogados fora e assessores, demitidos”, disse Frota.
VERA ROSA, FELIPE FRAZÃO, PATRIK CAMPOREZ e RAFAEL MORAES MOURA
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