Introdução de Leonardo Boff:
Frei Betto é um dos analistas sociais dos mais argutos e certeiros. Por anos viveu com poderosos, cobrando-lhes uma opção pelo povo e pelos pobres e, nos países socialistas, fazendo que os vários Estados que se confessavam ateus, superassem seu confessionalismo às avessas e assumissem o caráter laico do Estado.
Neste artigo nos faz um alerta: vivemos à mercê de um presidente que magnifica ditaduras e louva torturadores, despreza a democracia e desconsidera totalmente a Constituição que jurou observar. Pois ele e os seus que o cercam, em grande parte militares, estão tramando um golpe, abolir os demais poderes e se impor como único poder ditatorial. Graças a Deus, a sociedade reagiu, as mais altas instâncias judiciais o denunciaram e encontrou o repúdio da maioria dos brasileiros. Vale ler este artigo, pois nos esclarece o que está em andamento e, infelizmente, poderá acontecer. Leonardo Boff, no seu Blog: Daqui:
***
O Artigo de Frei Betto:
Quando uma autoridade do Poder Executivo convoca uma manifestação contrária a outro Poder da República, isso é gravíssimo e sinaliza conspiração golpista
O ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), sugeriu, em 19 de fevereiro, que
- o povo deve ir às ruas “contra a chantagem do Congresso”.
- Bastou este aceno autoritário para os aliados do presidente convocarem manifestação para o domingo, 15 de março.
Ora,
- quando uma autoridade do Poder Executivo convoca uma manifestação contrária a outro Poder da República, no caso o Legislativo,
- isso é gravíssimo e sinaliza conspiração golpista
- ou, sem rodeios, o fechamento do Congresso.
Tomara que o Poder Judiciário, representado pelo STF, proíba tal manifestação, pois caso contrário correrá o risco de assinar o fechamento de suas portas.
O protesto a favor do governo
- será na mesma data em que, há cinco anos,
- ocorreu a maior das manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Foi
- com uma escalada de manifestações prévias, como a Marcha com Deus e a Família pela Liberdade,
- que os militares prepararam o golpe de 1964 que derrubou João Goulart,
- presidente constitucional e democraticamente eleito.
O sonho de todo político com vocação para caudilho ou ditador, avesso ao regime democrático, é governar pela supressão de todas as vias institucionais entre ele e o povo. Uma via direta, sem intermediação dos poderes Legislativo e Judiciário, hoje facilitada pelas redes digitais.
Autoconvencido de que só ele sabe discernir o que convém ou não à nação, o autocrata
- despreza o sistema partidário,
- trata os políticos como seus serviçais,
- e se relaciona com a Constituição como o terrorista islâmico com o Alcorão.
Ele
- ouve, mas não escuta;
- fala, mas não dialoga;
- age, mas não reflete.
Seu pendor absolutista é, hoje, facilitado pelas redes digitais, por meio das quais faz chegar à população sua vontade e determinações.
Frente a um povo despolitizado, desprovido de consciência crítica,
- o déspota emite suas opiniões como se fossem leis.
- Seus adeptos, movidos pelo senso de “servidão voluntária”, na expressão da La Boétie,
- o erigem à condição de “mito”,
- aquele que se torna paradigma, referência acima de qualquer suspeita ou juízo.
O caudilho sabe que, sem apoio popular, seu futuro político corre o risco de virar mero sonho. Para evitá-lo, recorre ao recurso de armar mãos e espíritos.
- Liberar o porte e a posse de armas,
- e plantar no coração e na mente de seus adeptos o ódio mortal a seus inimigos, reais ou imaginários.
Essa segunda medida se efetiva pela descontextualização política, como se a conjuntura, os princípios constitucionais e o consenso entre os seus pares poucos importassem.
Dotado de uma intuição impetuosa e de agressividade incontida,
- o autocrata fragmenta seu discurso,
- adota um vocabulário chulo,
- desdenha a coerência,
- troca o atacado pelo varejo, a floresta pelas árvores,
- e cria um deus à sua imagem e semelhança.
Ele não tem outra proposta ou programa que não seja se perpetuar no poder e transformar sua vontade em lei. Por isso suas medidas provisórias têm o peso de definitivas.
Onde andam os partidos de oposição, as centrais sindicais, os movimentos populares?
Se
- o desemprego afeta mais de 11 milhões de pessoas;
- a economia retrocede;
- a saúde e a educação estão sucateadas;
- e 165 milhões de brasileiros sobrevivem com renda mensal inferior a dois salários mínimos;
qual a razão de tamanha inércia daqueles que deveriam manifestar a sua indignação diante deste governo?
Convém ter em mente o poema de Eduardo Alves da Costa, equivocadamente atribuído a Maiakóvski:
- “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
- E não dizemos nada.
- Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
- Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
- E já não podemos dizer nada”.
Dia 15 de março, é lógico que vamos para a rua defender a democracia, o bem estar do povo brasileiro, criticar os abusos do STF e dos presidentes do Senado e da Câmara, que querem atropelar o executivo e esbanjar o dinheiro do povo. Vamos apoiar totalmente o governo Bolsonaro, os seus ministros fantásticos como Moro, Paulo Guedes, Tarcísio, Damares, Heleno e os demais. Nunca tivemos um governo tão dedicado aos interesses da nação. Alguém já ouviu que um ministro pegou propina? De sã consciência, alguém já ouviu que o presidente quer ser como Maduro ou como os Castros? Estamos indo a um Brasil muito melhor com resultados já significativos. Dia 15.03 precisamos mostrar aos órgãos de poder que o Brasil espera deles também honestidade e colaboração para um Brasil melhor sem propina e sem maracutaias.
Beto, depois de ler teu estranho comentário acima, vem mesmo vontade de perguntar: Quem está com a razão: Tu, BETO, ou Frei BETTO? Será que é só um T a diferença entre vocês dois? Evidente que não. São duas visões radicalmente diferentes de Brasil e de Povo Brasileiro.
Claro que eu fico com Frei Betto, que conhece a fundo o Brasil e por ele vem lutando há cerca de 50 anos e que está do lado do POVO BRASILEIRO, sobretudo dos pobres e injustiçados, que são a grande maioria. Me pergunto, sinceramente, como fazíamos nos estudos e celebrações bíblicas e/ou litúrgicas nas Comunidades Eclesiais de Base:
Nesta situação atual do Brasil, com quem JESUS estaria?
Beto,”Estamos indo a um Brasil muito melhor” você diz. É verdade, estamos indo a um Brasil melhor para aqueles que já estão bem. O resto que se lasca. Bom governo não é só ausência de propina, Hitler e sua corja também não tomavam propinas….
Pergunto com João Tavares: de que lado o JESUS estaria se voltasse hoje?
Definitivamente as eleições de 2018 foram um divisor de águas em nosso país. Descobrimos brasileiros (muitos deles próximos de nós: familiares, parentes e amigos) que são tão movidos pelo ódio a tal ponto de perderem a racionalidade. Chegamos ao primeiro ano do atual governo federal e a cada dia nos surpreendemos com palavras e comportamentos do Presidente. Mais surpreendente é a reação de seus apoiadores que conseguem ser exemplos de uma “servidão voluntária” (La Boétie, como citou Fr.Betto), totalmente acrítica e submissa. Assim está nossa instituição PODER EXECUTIVO FEDERAL, que age para proliferar e atacar, como células cancerígenas, os demais poderes até levar (que Deus nos livre!), nossa democracia e nossa República ao colapso. Deus tenha piedade de nosso país.