Entrevista de João Tavares ao UOL – 17/02/2020 – Fotos: dos perfis do WhatsApp
De: Carlos Madeiro <carlosmadeiro@gmail.com>
Enviada em: quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020 23:22
Para: tavaresj@elointernet.com.br
Assunto: Perguntas – UOL
João Tavares, boa noite
Segue perguntas para publicação do UOL:
De: João Tavares < tavaresj@elointernet.com.br>
Enviada em: sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020 16:52
Para: Carlos Madeiro <carlosmadeiro@gmail.com>
Assunto: RESPOSTA às Perguntas – UOL
Carlos Madeiro,
Vou responder diretamente no seu texto às PERGUNTAS que me enviou – João Tavares
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1. O que vocês acharam da decisão do papa em não ordenar padres casados na Amazônia?
R/ É uma decisão estranha, inesperada e, para muitos, decepcionante. Ele que,
- ao pedido de Dom Erwin Krautler , então bispo do Xingu, de poder ordenar homens casados para atenderam às mais de 700 comunidades espalhadas pela imensa floresta e de muito difícil acesso,
- respondeu que o pedido devia vir das bases e que os bispos da Região fizessem propostas ousadas.
O Sínodo abordou o assunto, votou com maioria de 2/3, que fossem ordenados homens casados na Amazônia, mas Francisco nem acena ao assunto na Exortação Apostólica “Querida Amazônia”.
- Não sei se foi por medo de um cisma na Igreja, após o livro atrevido e petulante do cardeal Sarah: “Do Fundo de nossos corações”, alegadamente escrito a quatro mãos com Bento XVI -assunto ainda não claro-,
- ou se foi estratégia de Francisco para que o assunto seja mais aprofundado, mais bem estudado e resolvido mais adiante.
Pessoalmente, acho que
- simplesmente ordenar homens casados,
- sem uma séria preparação filosófica (para não cairmos em fundamentalismos baratos tão comuns nas igrejas ditas “evangélicas”) bíblica e teológica,
- talvez não seja a melhor solução.
Por outro lado,
- continuar a ordenar padres celibatários após tantos ano de seminário,
- também não está dando certo e as vocações são sempre menos.
Sem falar de que os novos padres, de há uns anos para cá
- saem bastante mal formados dos seminários,
- querem ser padres cantores, ter paróquias ricas ou ser capelães militares
- e se estão tornando muito tradicionalistas.
Fora o gravíssimo e escandaloso problema da crescente homossexualidade que, pelo que se vê e se ouve, por aí, provavelmente já passa de 50% do clero no Brasil. E da criminosa e tão espalhada pedofilia.
Como Francisco é jesuíta, portando homem muito bem formado intelectual, humana e espiritualmente,
- imagino que ele não aceitou resolver o problema doa ordenação de homens casados agora,
- mas também não negou a possibilidade de o vir a fazer no futuro.
Indício dessa hipótese é que ele insiste que se leiam juntos o Documento Final do Sínodo sobra a Amazônia e a Exortação “Querida Amazônia”.
Por isso, acho possível e provável que aceite oficialmente essa possibilidade num documento específico, se e quando ele achar oportuno. Francisco tem estratégias.
2 – Vocês acreditam que o que motiva o papa e a Igreja a negar isso?
R/ Acho que a resposta já está acima
“Não sei se foi por medo de um cisma na Igreja, após o livro atrevido e petulante do cardeal Sarah: “Do Fundo de nossos corações”, alegadamente escrito a quatro mãos com Bento XVI -assunto ainda não claro-, ou se foi estratégia de Francisco para que o assunto seja mais aprofundado, mais bem estudado e resolvido mais adiante.”
3- O que é e como a associação atua?
A Associação Rumos nasceu da necessidade de os muitos padres que deixaram o Ministério sacerdotal, após o Concílio Vaticano II, se encontrarem e se apoiarem mutuamente, já que tiveram uma formação muito parecida nos, pelo menos, 12 anos de seminário: intelectual, humana, filosófica, teológica, espiritual e pastoral.
Em geral saíamos de mãos abanando, sem conhecimento do mundo, quase todos sem diploma superior válido e tendo de lutar num mundo novo e desconhecido pela sua subsistência e da da sua família.
Nada mais natural, portanto, que tenham se buscado e encontrado para fazerem uma caminhada juntos, se apoiando e encorajando mutuamente, cultivando seus valores comuns.
Calcula-se que no mundo somos cerca de 150.000 e, no Brasil, cerca de 7.000.
Os nossos três objetivos estatutários são:
- Acolher os que saíram ou estão saindo do ministério para um apoio inicial
- Empenhar-se, individualmente ou em grupos, em atividades em prol da Igreja ou do Povo, cada um conforme suas capacidades e disponibilidade. (Isto é uma decisão pessoal ou de pequenos grupos, cada um assumindo sua responsabilidade. A Associação respeita as opções individuais e de grupos, mas não responde por elas).
- Diálogo aberto com a Hierarquia sobre os problemas da Igreja no Brasil e possível inserção em algum trabalho pastoral. (Infelizmente a hierarquia da Igreja, por temor ou timidez, está pouco interessada neste diálogo que, em geral questiona a fundo as atuais estruturas da Igreja no Brasil.)
A vida está no Movimento das Famílias dos Padres casados – MFPC. A Associação Rumos é seu suporte Jurídico, com Estatutos, CNPJ, etc.
Temos um Site: www.padrescasados.org em que, pela escolha dos artigos de variadas fontes, exprimimos nossa visão de Mundo, Política, Economia, Ecologia, Igreja, etc.
E temos também grupos Estaduais e um grupo nacional de WhatsApp para nos podermos comunicar melhor neste país-continente.
Incentivamos a formação e o cultivo de grupos de Padres casados, por Estados e Regiões. Cada grupo escolhe sua própria dinâmica de reuniões, lazer, encontros, trabalho, etc.
Alguns colegas, desejosos de continuar no Ministério, têm optado por continuar com padres , noutras igrejas cristãs: Luterana, Anglicana, Ortodoxa, Vétero-católica, etc. Respeitamos, também aqui, a opção pessoal de cada um.
Temos Encontros Nacionais a cada dois anos: o último, XXII, foi em Manaus em Julho de 2019.
PS.
Pronto, Carlos. Espero ter respondido a contento. Use o que lhe for útil.
Me reservo o direito de, logo que você publicar seu artigo, publicar a íntegra desta Entrevista no nosso Site.
João Tavares
Encarregado da Comunicação do MFPC
Vice-presidente da Federação Latino-americana de Padres casados
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