Será, pois, necessário, em primeiro lugar, perguntar: qual é o critério decisivo para determinar o que é realmente a religião?
- Há hoje acordo entre os especialistas no sentido de verem esse critério
- na referência e relação com uma realidade última salvífica.
São fundamentais estes dois elementos:
- entrada em contacto com a ultimidade,
- que se apresenta como dando sentido último e salvação.
Ao contrário da ideia corrente, no domínio religioso,
- Deus não é figura primeira e determinante
- a não ser para um determinado tipo de religião: a religião monoteísta.
Deus, no quadro do monoteísmo, apareceu tarde.
- O conteúdo central da religião é o absoluto, o transcendente, o abrangente, o numinoso.
- O homem religioso depara-se com o Sagrado, o Mistério.
Para os fenomenólogos da religião, como J. Martín Velasco, por exemplo,
- o homem religioso é aquele que assume uma determinada atitude face ao Sagrado,
- entendendo-se por Sagrado aquele âmbito de realidade que se traduz por termos como
- “o invisível”, “a ultimidade”, “a verdadeira fonte do valor e sentido últimos”, “a realidade autêntica”.
A religião
- não é em primeiro lugar ordo ad Deum (relação com Deus),
- mas ordo ad Sanctum (relação com o Sagrado).
Antes da sua configuração como deuses e Deus,
- o “objecto” da religião é o Sagrado, que também dá pelo nome de Mistério,
- que é ao mesmo tempo absolutamente transcendente e radicalmente imanente.
O homem religioso
- faz a experiência do Sagrado ou Mistério
- enquanto Presença originante e doadora de toda a realidade.
- É Presença enquanto Transcendência radical no centro da realidade e da pessoa
- e, assim, Imanência, isto é, Presença mais íntima à realidade e à pessoa do que a sua própria intimidade.
Para o homem religioso, a realidade não se esgota na sua imediatidade empírica: como explica o teólogo Andrés Torres Queiruga, para a sua compreensão adequada,
- a realidade mesma aparece-lhe como incluindo uma Presença que não se vê em si mesma,
- mas implicada no que se vê.
Mediante certas características – a contingência radical, a morte e o protesto contra ela, a exigência de sentido, sentido último -,
- a própria realidade se mostra implicando essa Presença sagrada, divina,
- como seu fundamento e sentido últimos.
Neste quadro, é decisiva a experiência da contingência radical do mundo, de cada homem e cada mulher, mas, como escreveu R. Panikkar, precisamente assim:
- contingência deriva do latim cum-tangere, com o sentido de que “tocamos (tangere) os nossos limites” e, no mesmo acto, “o ilimitado toca-nos (cum-tangere) tangencialmente”.
Hegel também o disse: só no Infinito o finito encontra a sua verdade.
A religião
- enquadra-se na experiência radical de dependência,
- implicando, portanto, na sua compreensão estrita, um núcleo com dois pólos:
- um pólo objectivo, constituído pela presença de uma Realidade superior, absoluta, de que se depende,
- e um pólo subjectivo, que consiste na atitude de reconhecimento dessa Realidade por parte do homem.
Neste contexto, P. Schebesta apresenta uma definição paradigmática:
“A religião é o reconhecimento consciente e operante de uma verdade absoluta (“sagrada”) da qual o homem sabe que depende a sua existência”.
É a partir deste núcleo que se entendem os múltiplos elementos visíveis das religiões:
- crenças, ritos, instituições, espaços e tempos sagrados, etc.,
- diferentes segundo as culturas e tempos históricos humanos
- e unidos pelo facto de constituírem mediações religiosas.
Na sua variedade, as diferentes definições de religião têm um elemento comum que as caracteriza e autentica:
- “apontam para uma entidade meta-empírica determinante da atitude humana como base da estrutura da religião.
- É o último necessário que adopta formas e nomes distintos: o santo, o misterioso, o divino, o sobrenatural.
- Numa palavra, um algo outro que não é coberto inteiramente com os termos que designam as coisas que o homem tem à mão.”
Padre e professor de Filosofia
Fonte: https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-dn/anselmo-borges/religiosidade-sagrado-religioes-1-11776434.html
Leave a Reply