Publicação em coautoria com o cardeal Robert Sarah havia gerado dúvidas sobre a relação entre os dois papas

- O Vaticano, que não sabia da aparição do livro (lançado nesta terça na França), inicialmente o minimizou, dizendo se tratar de uma contribuição feita a partir da “a obediência filial ao papa Francisco”.
- No dia seguinte, publicou em seu próprio site as palavras do secretário pessoal de Ratzinger, Georg Gänswein,
- desvinculando o pontífice emérito da obra e dando a entender que tinha sido enganado.
Gänswein, secretário e filtro de Ratzinger com o exterior nos últimos anos, afirmou que
- ambos não sabiam do formato em que a contribuição de Bento XVI seria editada.
- Na noite anterior, uma fonte próxima a Bento contou a vários veículos que o papa emérito
- “só pôs à disposição de Sarah um texto sobre o sacerdócio que ele estava escrevendo” e que “não sabia nada da capa de um livro, nem a tinha aprovado”.
O cardeal, entretanto,
- respondeu no Twitter apresentando a correspondência entre ele e Ratzinger,
- na qual se demonstra que estava a par de como tinha ficado o texto final
- e dava sua autorização para que o cardeal o usasse conforme combinado em conversar anteriores.
Na terça-feira, Sarah reiterou em um comunicado que
- Ratzinger sabia da existência do volume,
- do seu conteúdo e da data de publicação.
O cardeal insiste em que
- o papa emérito viu o livro pronto em 19 de novembro,
- incluindo a capa – com a foto dos dois –
- e seu conteúdo.
Em 25 de novembro, segundo essa correspondência, Bento XVI manifestou sua aprovação à publicação “segundo a forma prevista”. Também consta que em 3 de dezembro ele visitou Joseph Ratzinger em sua residência Mater Ecclesiae, no interior do Vaticano, onde vive desde sua abdicação, e que então lhe comunicou que o livro sairia em 15 de janeiro.
Sarah, entretanto,
- decidiu pedir à editora que retire a assinatura de Ratzinger da capa do livro nas futuras edições,
- e que o papa emérito figure apenas como colaborador.
Mas a questão de fundo continua apresentando algumas interrogações.
- Se Sarah tiver mentido e abusado da confiança de Bento XVI, deveria renunciar ao cargo de prefeito da Congregação para o Culto Divino?
- Na Santa Sé, preocupa também a gestão feita pelo entorno de Ratzinger e o fato de não estar protegido dessas ciladas.
A renúncia ao papado em 2013 e sua convivência com outro pontífice
- não tinha antecedentes na era moderna
- e carece de uma linha clara sobre como um papa emérito deve se comportar.
- Tampouco do guarda-chuva institucional sob o qual deve estar a tutela de seu legado teológico e sua própria figura.
Os últimos dias de Bento XVI como Papa foram enormemente turbulentos. Os de sua aposentadoria, um experimento histórico que começou de forma impecável, começam a ser conturbados também.
Daniel Verdú
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