
- EUA priorizaram Argentina e Romênia no processo de entrada na OCDE
- Acesso ao grupo havia sido prometido por Trump
- Governo também tenta aprovar Eduardo Bolsonaro em Washington e acordo com a União Europeia
- Ricupero classificou atuação de Bolsonaro de “ingênua” no caso
Com a recusa dos Estados Unidos de priorizar a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), revelada hoje, o governo corre o risco de perder as principais apostas de Jair Bolsonaro (PSL) em política externa.
Além do ingresso à OCDE, o país vê patinar a aprovação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como embaixador do Brasil nos Estados Unidos e a ratificação do acordo entre Mercosul e União Europeia — em xeque devido à crise ambiental na Amazônia e a disputas econômicas.
Na avaliação do diplomata e ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, a falta de perspectiva para essas pautas reflete uma política externa “sem resultado” e “ingênua” ao colocar todas as fichas no governo Trump. Ele afirma que o governo norte-americano é extremamente pragmático e só promove seus próprios interesses.
OCDE: EUA prometeram apoio

Mais cedo, foi revelado hoje pela agência de notícias Bloomberg que o governo norte-americano dará prioridade à entrada da Argentina e da Romênia na OCDE, em detrimento da candidatura brasileira. Atualmente, a OCDE tem 36 países membros.
- Embora o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a embaixada dos EUA no Brasil tenham endossado publicamente o apoio à entrada do Brasil no grupo quando da visita de Bolsonaro à Casa Branca, em março deste ano,
- não há prazo para uma iniciativa efetiva por parte dos norte-americanos.
“Já na época da visita [de Bolsonaro a Trump], eu tinha comentado que o Brasil tinha aceitado renunciar algo de concreto, que era o estatuto de país em desenvolvimento na OMC [Organização Mundial do Comércio] em troca de promessa vazia. Era de apoio eventual”, disse Ricupero.
Após a publicação de reportagens, a embaixada americana no Brasil publicou nota dizendo que o país apoia a entrada brasileira na OCDE, mas não citou data.
Argentina e Romênia estão com os processos de pedido de entrada mais avançados do que o Brasil, que formalizou a requisição em 2017. Hoje o Brasil é parceiro estratégico da OCDE e não há perspectiva de mudança dessa situação em curto prazo.
Ricupero também diz que
- a entrada do Brasil na OCDE
- não depende apenas da vontade dos Estados Unidos,
- e que o voto da França e da Alemanha vale tanto quanto o dos estadunidenses.
“Dificilmente vão aprovar a entrada do Brasil. Foi feita uma simplificação para enganar a opinião pública. Não vejo vantagem nenhuma na entrada do Brasil, que já faz parte de mais de 20 comitês da OCDE. A Grécia, país falido, é membro da OCDE há décadas. O preço que se exigiu do Brasil foi exorbitante”, falou Ricupero.
Até a última atualização desta reportagem, a assessoria da Presidência da República não havia se manifestado sobre a prioridade dada pelos EUA à Argentina e à Romênia.
Eduardo em Washington: depende do Senado
Outra iniciativa em espera é a aprovação de Eduardo Bolsonaro como embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
- Sem votos garantidos para ter o nome aprovado no Senado,
- onde precisa passar por sabatina na Comissão de Relações Exteriores e pelo plenário,
- ainda não foi nem indicado formalmente.
A vontade de Bolsonaro em indicar o filho para o cargo foi divulgada há três meses e é vista com ressalvas por Ricupero, que duvida dos benefícios práticos que a indicação traria ao país.
Enquanto isso,
- Eduardo tenta passar a imagem de que está estudando relações exteriores
- e é próximo da família Trump,
- entre outras pessoas de peso na política norte-americana.
Ele chegou a viajar para se reunir com Trump em Washington, percorrer gabinetes no Senado em busca de apoio e a divulgar cada ação no Twitter. Embora brigado com Trump, o ex-estrategista do norte-americano Steve Bannon foi convidado por Eduardo a participar de seminário no Senado.
Se a proximidade com o presidente dos Estados Unidos deveria ser uma vantagem, o fato de Trump estar sofrendo processo de impeachment e poder perder as eleições do ano que vem é visto com cautela. Uma preocupação dos senadores brasileiros em relação à indicação de Eduardo, caso Trump deixe a Casa Branca, é em relação ao trânsito do filho de Bolsonaro com integrantes do Partido Democrata, de oposição a Trump.
Mercosul e UE: declarações de Bolsonaro e meio ambiente são entraves
Festejado na época do anúncio pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL),
- o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE)
- ainda precisa ser aprovado pelos parlamentos dos países
- e enfrenta dificuldades na Europa.
A comissária de comércio da União Europeia, Cecilia Malmstrom,
- já indicou que a crise em torno dos focos de incêndio na Amazônia pode afetar o diálogo em prol da ratificação absoluta.
- Declarações controversas de Bolsonaro sobre o caso da Amazônia
- acabaram servindo de combustível para quem é desfavorável ao acordo.
A avaliação é que o Brasil precisa reforçar o compromisso com a preservação do meio ambiente e o estímulo ao desenvolvimento sustentável. No momento, não há previsão de quando o acordo será analisado por todos os países implicados.
Sobre o tema, Ricupero avalia que o acordo está “congelado por muito tempo”se o Brasil não mudar a política perante a Amazônia.
Mês passado,
- o parlamento austríaco sugeriu veto ao tratado sob o argumento de que
- “a floresta tropical é incendiada na América do Sul para criar pastagens e exportar carne com desconto para a Europa”.
Além disso, setores da França e da Irlanda, especialmente agropecuários, se opõem ao texto por interesses econômicos.
Luciana Amaral – Uol
NOTA DA REDAÇÃO:
As notícias posteriores, de que Trump continua a apoiar a entrada do Brasil na OCDE, não mudam nada de substancial. A verdade é
* é que Argentina e Romênia já fizeram o dever de casa e estão na frente da fila de novos membros.
* E que o Brasil começou há pouco a pensar no assunto, tem o apoio de Trump e entrou na fila de espera, mas, se continuar essa verborragia de Bolsonaro e não houver real empenho de respeito à conservação da Amazônia, dos Índios e dos Quilombolas, bem dificilmente o Brasil terá a aprovação da França, da Alemanha e de outros membros importantes da OCDE.
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