Jesús Bastante – 22.06.2019
Foto: O papa, com um grupo de padres casados nos arredores de Roma / RD
Tradução: Orlando Almeida
Ramón Alario, Tere e Andrés ou Julio Pinillos e Emília Robles, lideranças históricas doMovimento para Celibato Opcional (MOCEOP) fazem reflexão sobre o celibato e os ‘viri probati’
Para nós tem sabor de pouco. Soa como remédios caseiros e pontuais”, lamentam Tere e Andrés, do MOCEOP.
“Esperança de baixa intensidade”.
É assim que Andrés e Tere, o Movimento para Celibato Opcional (MOCEOP), receberam o anúncio de que o Sínodo da Amazônia incluirá, pela primeira vez na história contemporânea da Igreja, um pedido explícito ao Papa: a ordenação sacerdotal de homens casados. Em princípio, um pedido muito específico para a Amazônia, mas que, se aprovado, não tardará a chegar a outros rincões da Igreja.
“Parece-nos que é um passo adiante, algo positivo pelo simples fato de ser apresentado. Nota-se o espírito de Francisco”,
observa este casal, que há décadas luta para acabar com o “muro intransponível”que ainda hoje considera que o sacerdócio é apenas para homens celibatários.
“Fazer com que a pesada engrenagem da organização eclesial saia da sua imobilidade tradicional é motivo de esperança, embora isso se dê por razões de necessidade e subsistência. Parece-nos que é
- um começo de algo mais,
- uma tentativa de abrir caminhos novos e necessários”,
ressaltam Tere e Andrés,que, no entanto, lamentam que a possível solução “nos soe como recurso a remédios caseiros e pontuais“.
Andrés e Tere / Religión Digital
“Para nós tem sabor de pouco. Temos que ir mais longe”, acrescentam, para acabar com as “excepcionalidades”.
Além disso,
“parece-nos estridente e discriminatório
- propor a ordenação de “viri probati”
- e não de “mulieres probatae”
- quando nas comunidades cristãs, não só nas “remotas” mas em todas, as mulheres são as grandes colaboradoras”.
Por sua vez, no MOCEOP se perguntam se é necessário “ordenar”, ou seja, “conceder a ordem sacerdotal” a pessoas específicas.
“Parece-nos melhor que
- as comunidades escolham e designem as pessoas idôneas para os diferentes ministérios de que precisam
- e que, então, a autoridade eclesiástica (bispos, Papa) as habilite para essa missão.
A ordenação traz consigo um adicional de casta e poder que não é necessário numa comunidade de iguais. Isso reforça o clericalismo, que o próprio Francisco denuncia”.
“Como membros do MOCEOP,
- sentimo-nos igualmente esperançosos, de que algo da nossa longa luta tenha servido,
- mas estamos desgostosos com o fato de que a obrigação do celibato continue sendo um muro intransponível.
Do que terá tanto medo a hierarquia? Será que sem padres celibatários a Igreja entra em colapso?“,
perguntam Andrés e Tere, que no entanto acreditam que” o Espírito sopre mais e seja ouvido melhor”.
Julio Pinillos: A primazia da comunidade
Por sua parte, José Julio Pinillos, um histórico padre operário, casado e com filhos, que continua a exercer como sempre foi, um sacerdote da Igreja, vê indícios de que o Sínodo “vai recuperar a importância da comunidade, nascida e comprometida decididamente com seu hábitat e o seu ambiente”, com base em “um Evangelho vivo, meditado e celebrado com calor; acostumada a decidir em grupo e junto com líderes naturais”.
Pinillos está bastante mais otimista do que os seus companheiros, e augura uma “nova forma de ministros” na Igreja, organizados como “servidores da comunidade” por sua maneira de ser e de servir; “que ganham a vida com o seu trabalho, com as suas próprias família e casa – se o casal o vê assim”;
– que vêm das suas próprias comunidades, corresponsáveis com toda ela e com capacidade de tomar decisões em equipe“.
Diante da Velha Europa, reflete:
- “…teremos que esperar; e, enquanto isso, procurar que se vá tornando realidade um tipo de comunidade onde haja diálogos e consensos”,
- e na qual “cada vez mais se sinta que a Igreja é toda ela ministerial-servidora e que nenhum ministério tem que estar ligado ao poder;
- longe do clericalismo, em linha com o Vaticano II e o papa Francisco”.
Ramón Alario: Uma solução limitada e de curto prazo
Por fim, Ramón Alario, que foi padre durante 13 anos e agora vive, como padre casado, “felizmente secularizado”, recebeu o anúncio “com uma mistura de agrado e decepção”. Assim, ele considera que com o Instrumentum Laboris “se abre uma porta no fechamento que impera em torno do coletivo clerical (masculino e celibatário), isso sempre trará certo avanço”, mas “mais se perde uma grande oportunidade para abordar o tema da falta de servidores da comunidade de crentes em Jesus de Nazaré com toda a radicalidade que o problema merece”.

A possibilidade de abrir o sacerdócio aos homens casados na Amazônia é
“uma solução de curto prazo e muito limitada: de uma igreja que continua a pensar e a viver em torno da hierarquia”,
e continua sem contar a comunidade. Por várias razões:
- “Ignora-se toda a experiência crente acumulada pelos movimentos de padres casados existentes no mundo todo.
- Nem fomos consultados nem se levou em conta a nossa contribuição, que vai muito mais a fundo questionando todo um estilo de vida e de ministério mais focado na vida do que no culto”
Em segundo lugar, porque
“não se rompe essa barreira gerada em torno do padre,
- que o transforma num ser à parte,
- selecionado e dedicado por toda a vida às coisas do espírito.
Mantem-se, consequentemente,
- esse status superior do padre, dotado de poder,
- que dá lugar e fundamenta o clericalismo
- e que tanto mal faz à comunidade eclesial (abusos, pedofilia, manipulação…)”.
Dois tipos de padres: ‘os de verdade’ e os da ‘Segunda Divisão’
Com muita probabilidade, prevê ele,
“vai abrir-se nas comunidades uma dupla categoria de presbíteros:
- os de verdade, por toda a vida, os celibatários, os preparados,
- frente aos escolhidos para sair de uma situação de emergência, os casados, os da segunda divisão”.
E, enquanto isso,
“a mulher continuará novamente com toda a certeza relegada a serviços ministeriais não ordenados, de terceira e de quarta categoria, por assim dizer”.
Jesús Bastante
https://www.religiondigital.org/mundo/Curas-Sinodo-Amazonia-esperanza-decepcion_0_2133386647.html
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