
O original, em português, tem por título: De François, por Francisco, a Chico – Meus trinta anos a serviço das Comunidades de Base no Brasil Amazônico
Eis a entrevista.
Padre François, o documento de trabalho do Sínodo sobre a Amazônia abre uma reflexão sobre a possível ordenação de homens casados para essas regiões remotas. O que pensa a respeito?
Eu tenho a sensação de que seja um falso problema. Na Amazônia é necessário refletir a partir das comunidades. Somente no Brasil, onde vivi por trinta anos, há 70.000 sem a eucaristia dominical.
- As comunidades que resistem
- são aquelas que criam um vínculo entre a palavra de Deus e sua ação.
- As outras são absorvidas pelas igrejas evangélicas.
A ordenação de homens casados corre o risco de fortalecer o clericalismo.
- As comunidades de base funcionam graças à divisão dos vários ministérios:
- como na Igreja primitiva, todos receberam dons e os colocam a serviço de todos.
- O sistema clerical, por outro lado, concentra tudo em uma pessoa.
O papel da Eucaristia nas comunidades deve ser repensado, sem, é claro, desvalorizá-lo.
- Demasiadas vezes pensamos que, sem uma Eucaristia regular, as comunidades não possam continuar a existir.
- Mas é somente com a celebração eucarística que se forma uma comunidade?
- A pequena Igreja local vive não apenas na dimensão sacramental, mas também de suas dimensões sociais e proféticas.
Se algumas comunidades estão prontas para ordenar homens casados, então podemos estudar os casos.
A falta de padres nessas regiões não é um problema?
- O problema não é suprir a falta de padres,
- mas perguntar que tipo de comunidade queremos cultivar.
Até algum tempo atrás eu também achava que a ordenação de homens casados era uma solução, mas minha experiência me fez mudar de ideia.
O clero “sacramentalista” domina e é esse modelo que corre o risco de resistir.
80% das comunidades onde eu ia eram sustentadas por mulheres, que garantiam
- a catequese,
- a preparação dos batismos,
- dos casamentos
- e cuidavam do aspecto social.
Mas quando um diácono ou padre chega a essas comunidades, sua tendência é tomar o poder.
- A comunidade serve o padre,
- quando deveria ser o contrário.
Na minha opinião, é necessário que os padres missionários formem os cristãos para que eles possam se encarregar das comunidades assumindo seus próprios carismas.
- O padre não deve ser a figura principal.
- Ainda mais se for colocado em um pedestal, como frequentemente acontece lá, é perigoso.
Esse problema não pode esconder outros desafios com os quais a Amazônia precisa lidar?
Eu temo que sim. Na época do Concílio Vaticano II,
- a restauração do diaconato permanente foi primeiramente pensada para as regiões remotas.
- Agora é a Europa que aproveita isso. Temo que seja a mesma coisa.
- Evoca-se a possibilidade de ordenar homens casados para a Amazônia,
- mas no fundo – ao abrir esta porta – é dos problemas da Europa que estamos falando.
Para retornar à Amazônia,
- as comunidades que resistem vivem entre si, sem padre;
- são aquelas que se apoiam no poder da palavra de Deus,
- e isso é o que precisa ser desenvolvido.
A Amazônia não carece de padres, mas de testemunhas.
Essas regiões precisam
- de homens e mulheres formados na pregação,
- em torno dos quais estimular o desenvolvimento dos diferentes ministérios.
A Igreja deveria acompanhar e apoiar essas ações e esses impulsos.

François Glory
Fontes:http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/590215-a-amazonia-nao-carece-de-padres-mas-de-testemunhas
http://www.settimananews.it/italia-europa-mondo/lamazzonia-non-manca-preti-testimoni/
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